Poucas
as palavras e muitas as obras – é o que se pode dizer da tarde de hoje nesse
remoto sítio de Câmara de Lobos, de lindo nome Jardim da Serra. Muito se andou
para lá chegar, àquela encosta onde, por entre os verdes velho e moço brilha, solene, a antiga Escola dos Moinhos. Brilho maior,
porém, tem lá dentro a sabedoria impressa
em milhares de novos papiros, os cerca de quatro mil volumes oferecidos à Nova
Biblioteca.
Foi a grande metamorfose que ali se
operou. Da raiz do antigo imóvel da instrução primária, ora desactivado, nasceu
um novo e viçoso rebento, o repositório de textos, revistas, semanários,
suplementos e manuscritos de há várias décadas, generosamente cedidos pelos
familiares do homenageado. Para além do
fecundo e primoroso viveiro enciclopédico que ali se guarda, avulta a
dedicatória que ostenta a entrada da sala: “Biblioteca e Centro Documental
Padre Mário Tavares Figueira”.
Todos quantos lá se deslocaram – presidentes e autarcas da Assembleia Municipal de Câmara de Lobos, Câmara Municipal, Assembleia e Junta de Freguesia local, associações culturais, clérigos amigos Padre Paulo Silva, Rui Sousa e Martins Júnior, numerosos fregueses do Jardim da Serra – todos sentiram que, mais que uma homenagem ao titular da Biblioteca, o que ali se passou foi um imperativo do subconsciente latente na alma das coisas e das pessoas, a necessidade telúrica de termos o Padre Mário Tavares presente no meio de nós. Ele dispensa quaisquer mausoléus, embora bem merecidos. Nós é que precisamos de revê-lo, senti-lo e todos os dias segui-lo.
E aí está a Biblioteca como monumento
vivo da sua presença. Foi com muito emoção que vi e acariciei os manuscritos do
Padre Tavares, os exemplares do semanário “O Caseiro”, poderoso instrumento de
aculturação e luta dos colonos madeirenses na abolição do ‘leonino contrato’ da
colonia, em cujas fileiras ele e eu nos alistámos e vencemos.
Padre
Mário Tavares firmou em palavras e factos a legítima definição de Igreja, a
verdadeira Universitas de saberes e
deveres, ideologia e práxis concreta, justiça distributiva e dignidade no
trabalho. A todos estes segmentos se
dirige a autêntica mensagem evangélica e por eles o Padre Tavares deu a vida.
A
enriquecer esta efeméride e numa perfeita osmose com o programa, o Padre José
Luís Rodrigues, natural do Jardim da Serra, além de ter doado mais de dois mil
volumes, apresentou aos seus conterrâneos o seu mais recente romance “A
TRAVESSIA REDONDA”.
Brilhante
e justo acontecimento, fruto amadurecido das gentes daquele lugar, ao qual o
Padre Tavares deu tudo quanto tinha. Por ser tão pura e descomprometida a
homenagem (e por não lerem lá posto os pés as proeminências regionais) as
nossas agências áudio-visuais também lá não puseram as mãos.
Outras
mãos, porém, e outros corações – sob a liderança do Professor Manuel Neto – a partir
de hoje, no chão das macieiras luzidias e das cerejeiras em flor do Jardim da Serra, plantaram mais uma árvore de imarcescível fulgor: a Árvore da
Sabedoria!
11.Fev.22
Martins
Júnior
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