sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

E A SERRA ABRIU-SE EM JARDIM… PELA MÃO INVISÍVEL DO PADRE TAVARES

                                                                           


 

    Poucas as palavras e muitas as obras – é o que se pode dizer da tarde de hoje nesse remoto sítio de Câmara de Lobos, de lindo nome Jardim da Serra. Muito se andou para lá chegar, àquela encosta onde, por entre os verdes velho e moço  brilha, solene,  a antiga Escola dos Moinhos. Brilho maior, porém,  tem lá dentro a sabedoria impressa em milhares de novos papiros, os cerca de quatro mil volumes oferecidos à Nova Biblioteca.

         Foi a grande metamorfose que ali se operou. Da raiz do antigo imóvel da instrução primária, ora desactivado, nasceu um novo e viçoso rebento, o repositório de textos, revistas, semanários, suplementos e manuscritos de há várias décadas, generosamente cedidos pelos familiares do homenageado.  Para além do fecundo e primoroso viveiro enciclopédico que ali se guarda, avulta a dedicatória que ostenta a entrada da sala: “Biblioteca e Centro Documental Padre Mário Tavares Figueira”.

         Todos quantos lá se deslocaram – presidentes e autarcas da Assembleia Municipal de Câmara de Lobos, Câmara Municipal, Assembleia e Junta de Freguesia local, associações culturais, clérigos amigos Padre Paulo Silva, Rui Sousa e Martins Júnior, numerosos fregueses do Jardim da Serra – todos sentiram que, mais que uma homenagem ao titular da Biblioteca, o que ali se passou foi um imperativo do subconsciente latente na alma das coisas e das pessoas, a necessidade telúrica de termos o Padre Mário Tavares presente no meio de nós. Ele dispensa quaisquer mausoléus, embora bem merecidos. Nós é que precisamos de revê-lo, senti-lo e todos os dias segui-lo.                                                                   


         E aí está a Biblioteca como monumento vivo da sua presença. Foi com muito emoção que vi e acariciei os manuscritos do Padre Tavares, os exemplares do semanário “O Caseiro”, poderoso instrumento de aculturação e luta dos colonos madeirenses na abolição do ‘leonino contrato’ da colonia, em cujas fileiras ele e eu nos alistámos e vencemos.

Padre Mário Tavares firmou em palavras e factos a legítima definição de Igreja, a verdadeira Universitas de saberes e deveres, ideologia e práxis concreta, justiça distributiva e dignidade no trabalho. A todos estes segmentos  se dirige a autêntica mensagem evangélica e por eles o Padre Tavares deu a vida.

A enriquecer esta efeméride e numa perfeita osmose com o programa, o Padre José Luís Rodrigues, natural do Jardim da Serra, além de ter doado mais de dois mil volumes, apresentou aos seus conterrâneos o seu mais recente romance “A TRAVESSIA REDONDA”.

Brilhante e justo acontecimento, fruto amadurecido das gentes daquele lugar, ao qual o Padre Tavares deu tudo quanto tinha. Por ser tão pura e descomprometida a homenagem (e por não lerem lá posto os pés as proeminências regionais) as nossas agências áudio-visuais também lá não puseram as mãos.

Outras mãos, porém, e outros corações – sob a liderança do Professor Manuel Neto – a partir de hoje, no chão das macieiras luzidias  e das cerejeiras em flor do Jardim da Serra,  plantaram  mais  uma árvore de imarcescível fulgor: a Árvore da Sabedoria!   

 

         11.Fev.22

         Martins Júnior


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