domingo, 13 de fevereiro de 2022

UMA NOVA CONSTITUIÇÃO NO ALTO DA MONTANHA PARA UMA NOVA NAÇÃO!

                                                                         


Não tem morada exclusiva nem há caminho único para lá chegarmos. É assim o Pensamento, a Ideia motriz que move montanhas e agita oceanos.

Do mesmo pano é o Pregoeiro da Ideia Viva. Não tem casa própria, nem tribuna exclusiva, nem emissor demarcado. Ele consubstancia-se com a Ideia, com a Vida. Vimo-lo, domingo passado, fazendo de uma lancha o púlpito do seu pregão à multidão apinhada ao longo da praia do Lago de Tiberíades. Hoje, apresentou-se na montanha diante de romeiros caminhantes que, famintos da Palavra, vieram de várias regiões da Judeia, Jerusalém, Tiro e Sídon – um viveiro incontável de corpos e almas arrastados pelo “sedutor” que viera lá dos lados de Nazaré.

E aí, no sopé do monte, Ele abriu o LIVRO do Verbo feito carne. Promulgou aos ventos e aos rochedos a Constituição de um Novo Reino, uma Nação Nova, um outro modelo civilizacional, numa palavra, abriu a Revolução. Sem sombra de dúvida, Revolução, porque só fora dos cânones estereotipados e guardados a peso de algemas -  o poder absoluto de então – é que vingaria algum sucesso a Nova Constituição.

Consoante o convite de cada fim-de-semana, proponho a leitura do texto de Lucas (6, 17-25) em paralelo com Mateus (1,1-15), as duas versões da mesma Grande Tábua da Nova Lei. A tradição, os hermeneutas, os poetas, sonhadores de um Mundo diverso, visionários de  um Mundo Melhor,  debitaram-lhe a romântica designação de “Sermão da Montanha” ou das “Bem-aventuranças”. Chamar-lhe-ia também Código da Felicidade Global, ou o mapa circular de um outro planeta dentro daquele que habitamos.

O Nazareno depressa incarnou a irreversível motricidade do tempo. Não havia tempo a perder. Em meia dúzia de normativos compendiou os horizontes da sua Revolução pacífica, mas perturbadora, quase insustentável, porque contraditória aos créditos oficiais. Com efeito, quem acreditaria num Reino onde os desvalores formais da sociedade apresentavam-se como os valores fundacionais desse movimento regenerador, em tudo opostos aos códigos elitistas:  Felizes e Bem-aventurados os pobres, os deprimidos em pranto, os mal-vistos na opinião pública, os perseguidos pelo regime, etc.?”.

As interpretações supervenientes dadas, de forma empírica e distorcida, ao texto das Bem-aventuranças têm ensombrado a beleza e a transparência da Nova Constituição. Jesus de Nazaré, ao ‘promulgar’ a sua Lei Fundamental, impugnava a avareza, a ganância, a exploração e a corrupção que são os vírus geradores da pobreza e do pranto universal.

O “Sermão da Montanha”, de tão sintético e, ao mesmo tempo, tão vasto, figura no topo das mensagens bíblicas de todos os tempos e lugares. Ousarei dizer que se, por trágica ocorrência, se perdessem todos os livros do Velho e Novo Testamentos e só ficasse o texto das “Bem-aventuranças”, pois nada mais seria preciso para instaurar o Novo Reino da Vida, aquela nova ponte, a que se dá o nome de  Religião, não apenas para o século I da nossa era, mas para o século XXI e, daí, para todos os séculos vindouros.

Transformando o mundo, não basta sermos “Bem-aventurados”. É preciso sentirmo-nos “Felizes”!

 

13.Fev.22

Martins Júnior

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