sábado, 5 de fevereiro de 2022

REGRESSAR ÀS ORIGENS SABE BEM E FAZ CRESCER !

                                                                        


É sempre de um doce encanto e não menos vigoroso impacto viajar até à origem de tudo, mais intensamente do tudo de onde viemos e por onde começámos: o primeiro berço, os primeiros passos, a primeira escola, a entrada na universidade, o estágio do primeiro emprego, o primeiro amor, o primeiro contrato de aquisição de casa própria, tudo.

É o que se chama o regresso às fontes, sobretudo quando estão em causa decisões que terão marcado o futuro, o nosso e o da sociedade a que pertencemos. Cabem aqui as motivações que ditaram uma carreira, os estatutos de uma recém-criada associação, as linhas programáticas de um partido, a escolha de deputados e governantes e, ainda, a ordenação de eclesiásticos e evangelizadores. Para além da saudável nostalgia desse regresso, impõe-se um imperativo recurso às origens para obviar aos desvios e deturpações que as circunstâncias e os embates da vida provocam na rota inicialmente traçada.

Hoje, Sábado - e amanhã, Domingo – cai-nos nas mãos o LIVRO de fim-de-semana, onde nos confrontamos com essa precisa encruzilhada de tomar decisões, fazer opções, chamar colaboradores responsáveis, enfim, pôr em marcha um projecto credível e duradouro, um património imaterial que, volvidos mais de vinte séculos, ainda persiste. Precisamente pela sua longevidade e pelas mais anómalas vicissitudes em que se tem emaranhado, torna-se necessário e urgente, em cada época, remontar ao princípio, à pureza original do primeiro impulso.

Convido-vos a compulsar o texto de Lucas, capítulo V.

Após trinta anos de anonimato numa carpintaria familiar, o Nazareno sente chegar a hora de avançar com o seu projecto tremendamente reformador, manifestamente revolucionário, qual o de fazer caducar as estruturas falaciosas e podres de um regime sacro-ditatorial, para reerguer um mundo novo e uma Constituição regeneradora de toda a sociedade. Onde encontrar, porém, militantes firmes, clarividentes, seguros, da mesma fibra que o seu Fundador?... Aqui refugio-me no horto recôndito da minha introspecção para extasiar-me diante deste Visionário, as ânsias, os avanços e recuos, as expectativas e os previsíveis insucessos, enfim, quantos suores frios e quantas arritmias a bater-lhe dentro do peito!

Mas… fazer-se ao largo – é preciso! Mete-se no barco  (os  ‘valorosos’ militantes eram pobres pescadores) observa-os de perto,  possivelmente ajuda-os na faina das redes, é enorme a sorte da pescaria e, uma vez na praia, não tem dúvidas: “É com estes que eu conto. Vinde comigo. Farei de vós pescadores de algo maior: pescadores de homens, de pessoas, de corpos e almas”!

Além do contacto directo no chão da vida e na partilha do trabalho braçal, que estranha magia teria penetrado naqueles homens de mãos calejadas e pele tisnada do sal marinho, para ‘transtornar-lhes’ a vida e tomarem uma opção radical, irreversível: “Eles logo deixaram as redes, deixaram tudo e seguiram a Jesus”!!!

  Por mim, preferia ficar por aqui, na contemplação deste quadro tão solto e emocionante (digno de uma aguarela romântica) quanto avassalador nas suas consequências se fizermos o paralelo com os tais “desvios e deturpações” que a Instituição tem protagonizado ao longo de vinte séculos.

Até onde levar-nos-ia o interminável filão deste episódio, elemento fundacional do verdadeiro Cristianismo que faz de todo o cristão parte essencial do “corpo sacerdotal”, do “sacerdócio real”!... E é justamente  nessa direcção que segue a linha evangelizadora dos actuais teólogos, inspirados nas fontes originárias do Evangelho. Como tal e porque nada melhor que apoiar-se nos Mestres, recomendo vivamente os capítulos finais do último Grande Livro do Professor Padre Anselmo Borges – “O Mundo e a Igreja, Que Futuro?” – onde se afirma, com sólida fundamentação histórica, que Nem Jesus nem os Apóstolos ordenaram sacerdotes”.

Entender a simplicidade e a profundidade do projecto de Jesus de Nazaré não se compadece com meros espectáculos pios, fogos fátuos da ribalta social, decalcados da aristocracia burocrática dos impérios mundanos. É preciso regressar ao Mar da Galileia, ouvir  chamar os colaboradores militantes e fixar a voz do narrador: Eles deixaram tudo e seguiram-nO”!

 

05.Fev.22

Martins Júnior

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