quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

“PROIBIDO DORMIR NA FORMA” !!!

                                                                                


Impossível passar insensível à beira do ‘monstro’. Fazer-lhe ouvidos de mercador é o mesmo que cair-lhe nas garras e deixar-se sufocar sem poder soltar um pio. O ‘monstro’ de que falo é o  Poder Absoluto, de que tanto tem badalado a opinião pública, a propósito da maioria absoluta saída das eleições de 30 de Janeiro p.p.. Por isso, optei por dar continuidade às reflexões do último blog, com particular acento na responsabilidade do cidadão comum em permanecer vigilante e actuante face aos primeiros rebentos de qualquer eventual prepotência governativa. Aqui, é o próprio povo que ministra a receita: “Antes que o mal cresça, corte-se-lhe a cabeça”.

         Se, desde o início da aventura humana no planeta impera a evidência darwinista – a lei do mais forte ou o poder absoluto  – deve também dizer-se que vem de muito longe o primado da Liberdade, a defesa de um direito igualitário, inerente à condição humana, contra o qual nem rei nem deuses conseguem ultrapassar.

Faz bem recordar a Magna Carta de 1215, no Reino Unido, precedida da Lei das Liberdades, de 1100, em que são determinantes, incontornáveis, as linhas vermelhas impostas pelo Parlamento às tentativas absolutistas dos monarcas: “A Carta de todo o homem digno em qualquer tempo e em qualquer lugar”, assim classificá-la-ia mais tarde Winston Churchill. A Carta da Floresta, designada de ‘segunda carta’, exigia que “ os bens comuns – fonte da subsistência da população geral – fossem rigorosamente protegidos do poder externo, impondo limites à sua privatização”.

         Muita luta sobreveio e muitas foram as vítimas que deram a vida pela instauração e desenvolvimentos da Magna Carta, sobressaindo o parlamentar Henry Vane, decapitado em pleno cadafalso, por ter proclamado desassombradamente (na sequência da famosa ‘Petição de Direitos’) que “a origem de todo o poder justo está na sociedade civil, não no rei, nem mesmo em Deus”. Isto em 1628 !... Passaram-se mais de três séculos (348 anos) para que a Assembleia da República Portuguesa inscrevesse na sua Constituição o mesmo inalienável normativo: “A soberania reside no povo”.

         Interrompo esta viagem no tempo (e tão bem que ela sabe!) para insistir na estratégia mais eficaz para subtrair, direi mesmo, minar pela raiz os atávicos instintos do “monstro”-poder absoluto. Para isso, permitam-me citar um excerto do livro “QUEM GOVERNA O MUNDO?”, de Noam Chomsky, precisamente porque vem confirmar o que assinalei em escrito anterior.  Chomsky, ‘o maior intelectual da esfera pública’, perscruta a ‘ânsia de conceber métodos sofisticados de contolo das atitudes e da opinião pública’, por parte dos EUA em 1960. E afirma sem rodeios:

         “Uma das tarefas primordiais do Comité de Informação Pública dos EUA foi sempre manter a população longe dos ‘nossos pescoços’… Uma preocupação em particular tinha que ver com a introdução de melhores mecanismos de controlo sobre as instituições responsáveis pela doutrinação dos jovens: as escolas, as universidades, as igrejas que, aos olhos dos líderes políticos, não estavam a ser capazes de cumprir a tarefa essencial: a exigência de   medidas para impor moderação à democracia”.

         É isto: a tática mais certeira é atacar as bases – o povo anónimo, opinião pública, escolas, universidades, igrejas. Olhem para a Madeira, a já velha ‘Madeira Nova’, e digam se Noam Chomsky não tem razão…

         É do ADN  de todo o monstro absoluto nunca dormir. E o Zé-Povo, os verdadeiros soberanos da Nação, entretêm-se sonâmbulos com as piruetas do mostrengo, na imprensa subsidiária, nos áudio-visuais, nas festas, nas benesses. Apetece trautear a canção do velho regime: “Lá vamos cantando e rindo, Lá vamos pagando e rindo”!

         Volto a propor: o poder do povo não se exerce só de quatro em quatro anos, é de todos os anos, de todos os dias, nunca permitindo que sob o nosso olhar “o sapateiro-mor e seus apaniguados subam acima da chinela”, como bem observou o famoso Apeles da velha Grécia. Quando um colega é prejudicado injustamente e nós nos calamos – é o monstro que alimentamos.  Quando ficamos “longe dos pescoços dos poderosos eleitos” e nos julgamos inúteis, impotentes, aí aguçam-se as garras do “monstro”, cresce o Poder Absoluto. Entendamo-nos: não é o vértice que mexe a pirâmide (do Poder), são as bases que a sustentam, são as bases que a removem.  

         “Quem se cala com o que está torto está entortando cada vez mais” – dizia-me um sábio ancião dos nossos campos.

         Para terminar o rumo reflexivo que não tem termo, apraz-me aplaudir calorosamente a decisão de um importante sector representativo da vida económica regional quando hoje fez constar na comunicação social que pretende intervir, participando presencialmente, na orientação programática do famigerado Plano de Reestruturação e Resiliência (leia-se: ‘bazuca europeia’), de que a Madeira é privilegiada beneficiária.

         Esclarecendo: é meu dever, mais que um direito, estar atento e escrever sobre a paisagem sócio-política, económica e cultural da terra que foi dada como berço e caminho longo!

  

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

09.Fev.2022

         Martins Júnior

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