quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

“ELES COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA”!

                                                                       


        Todo o dia o Zeca cantou. E nós cantámos com ele. Porque o 23 de Fevereiro não é dia da morte. É Dia da Reincarnação, da Ressurreição. Todos os anos Zeca Afonso está connosco, porque fomos buscá-lo à Campa nº 1606, das terras de Elmano Sadino. E cantámos  nós, ‘filhos da madrugada’, o ‘Resineiro’, a ‘Estrela d’Alva’. Rememorámos o ‘Menino d’oiro’ e o do ‘Bairro Negro’, a GRÂNDOLA0 e ‘Os Vampiros’, os tais que “comem tudo e não deixam nada”.

         O ambiente – uma das salas do CCC-RS, Centro Cívico-Cultural e Social da Ribeira Seca – congregou diversas faixas etárias, dos 8 aos 80, distintos extractos culturais e sociais. E embora contasse com a presença solidária e honrosa dos responsáveis do concelho, todos naturais de Machico,  Assembleia Municipal, Câmara e Junta de Freguesia, o ambiente, dizia, não deixou de ser um encontro genuíno, intimista, à luz das velas embaladas pelas baladas de Zeca Afonso.

E que oportuna coincidência a dos “Vampiros”!

“Os que comem tudo”, os que comeram quase tudo, na noite negra do colonialismo europeu, na cobiça do ouro quinhentista, nas masmorras da ‘pide’, nos pavores da guerra fria. E hoje,  agora perto de nós, com o furor do urso das estepes russas, tacitamente assessoradas pela soturna China  a pretenderem açambarcar o alheio território e restaurar  a anacrónica e insuportável praga dos impérios. São estes os ‘vampiros, que comem tudo e não deixam nada’!

Zeca Afonso continua hoje a empunhar a sua arma – “a cantiga é uma arma” – pacífica mas poderosa contra essas e outras formas de sofreguidão e  anexação de terras, gentes e consciências!                                


Perto de nós, também. Dentro do nosso território. Aqui, onde cantámos Zeca Afonso. Nas suas canções perpassaram hoje as arremetidas que os ‘vampiros’ locais e regionais lançaram contra Machico, sobretudo contra o povo sereno e trabalhador da Ribeira Seca. O Povo perdoa, mas não esquece!

E porque é de pequenos passos que se fazem as grandes instâncias, todos os anos e todos os dias tentamos cortar a marcha maléfica dos dinossauros das ditaduras nascentes que, sem escrúpulo, forçam os umbrais da nossa democracia, entram-nos em casa e devoram o melhor que há na consciência colectiva dos povos.

Por isso, lembrar Zeca Afonso – é preciso, é urgente. Antes que os ‘vampiros’, os grandes e os pequenos, tomem conta de nós! Cantar e sentir Zeca Afonso não é manobra de diversão. É militância, é acção!

 

23.Fev.22

Martins Júnior    

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