domingo, 27 de fevereiro de 2022

BISPO MISSIONÁRIO EM MADAGÁSCAR - IRMÃO E MESTRE NA MADEIRA

                                                                                 


        Está presentemente na Madeira, a sua ilha natal, Traz consigo notícias de longe, de muito longe e, mais que notícias, transborda-lhe o coração de vivências humano-cristãs, carregadas de sofrimento e esperança, como são sempre as mensagens de um peregrino missionário em terras por desbravar e fazer crescer.

         Neste Domingo esteve connosco, na Ribeira Seca, irmanado naquele convívio que une idades, mentalidades e gerações: o convívio eucarístico, desta vez marcado pela simplicidade paramental e pela transparência comunicacional. Da sua experiência pastoral em terras de Madagáscar, uma diocese de um milhão e meio de habitantes, abriu o alforge do seu ‘saber de experiência feito’, enriquecendo cultural e espiritualmente os participantes no acto litúrgico.

Por isso, dedico hoje a página do “Dia Ímpar” ao senhor Bispo José Alfredo Caires de Nóbrega, recortando alguns dos preciosos excertos da sua mensagem:

“Fazendo minhas as palavras do Evangelho de hoje – a boca fala daquilo que transborda o coração – vou falar-vos do que enche também o meu coração: a vida que vivo nas missões… A Igreja tem de saber testemunhar o Evangelho. Por vezes anda para a frente e para trás, quando o que deve é  fazer com que a Bíblia seja vida, como fazemos nas missões: viver com as pessoas, comer como elas comem (arroz três vezes ao dia, ou duas vezes ao dia), dormir por vezes no chão em cima de uma esteira, comer o que elas nos dão. Já me perguntaram como é que eu pregava a Palavra de Deus e o que é Evangelização, eu respondi que Evangelização não é tanto falar em Jesus Cristo ou fazer muitos sermões, mas sim em elevar as pessoas na sua dignidade... É no Homem que se vê Jesus Cristo.

Temos um trabalho muito directo com a população, muitos deles nunca tinham tido conhecimento do cristianismo, mas têm a sua fé, têm uma fé em Deus. E isto é muito importante.

Madagáscar é um país rico, eu estou numa região super-rica, mas de super-miséria. Onde há muita riqueza há também muita miséria… As crianças começam muito pequeninas a ir para as minas, descer aqueles buracos de 20/30 metros, é preciso insuflar sacos de ar para poderem respirar e depois trazem os baldes cheios de areia para peneirar e achar aquelas pepitas de ouro, que vão dar aqueles gramas de ouro, fios de ouro. Deficiências, sobretudo  no ensino, na saúde. E temos de desenvolver aí, na escola, nos centros de saúde, combater a malária. E até em projectos de agricultura. Tentámos introduzir novas culturas de legumes.  

Na minha diocese de 14.000 m2, temos mais de 800 catequistas que lá  não são bem, bem, catequistas: são os animadores da população que mantêm as comunidades enquanto o padre não vai lá - ou só vai uma vez por ano. Vivo à beira-mar, mas tenho de percorrer aldeias a 300 Km, onde não há transportes, levo dias e meses a andar a pé, usando por vezes os rios em barcos e pirogas.    

Tivemos agora um ciclone que nos destruiu 80% de terras, casas, até o próprio telhado da catedral. Enfim, vamos vivendo o Evangelho, fazendo Igreja, com as pessoas, procurando sempre elevar a sua dignidade.

Por fim, queridos paroquianos da Ribeira Seca, obrigado pelo vosso carinho, pela vossa amizade e muitos parabéns por esta data que hoje celebrais”.

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A data a que alude o Senhor Bispo Caires de Nóbrega refere-se ao 37º aniversário da ocupação da igreja da Ribeira Seca por 70 efectivos policiais, em 27 de Fevereiro de 1985. Não houve a habitual comemoração festiva em virtude dos tumultuosos acontecimentos na Ucrânia, mas tivemos a prestigiosa e reconfortante celebração do estimado antístite.

Mas não foram esquecidas as vítimas ucranianas, pois enquanto se procedia ao acto da Comunhão, no templo ecoavam as canções da Paz:

“O soldado vai à guerra

Vai fazer a tirania

Vai matar o seu irmão

Isso é contra a Eucaristia

Mas trazer a Paz ao Mundo

E criar um novo dia

Sem armas e sem fronteiras

Isso é que é Eucaristia

Refrão

Porque o Senhor ficou na Eucaristia

Pra dar a todos pão e alegria

Porque o Senhor habita em nossa terra

Gritamos NÃO à fome, NÃO à guerra

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  27.Fev.22

Martins Júnior

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