Está presentemente na Madeira, a sua
ilha natal, Traz consigo notícias de longe, de muito longe e, mais que
notícias, transborda-lhe o coração de vivências humano-cristãs, carregadas de
sofrimento e esperança, como são sempre as mensagens de um peregrino
missionário em terras por desbravar e fazer crescer.
Neste
Domingo esteve connosco, na Ribeira Seca, irmanado naquele convívio que une
idades, mentalidades e gerações: o convívio eucarístico, desta vez marcado pela
simplicidade paramental e pela transparência comunicacional. Da sua experiência
pastoral em terras de Madagáscar, uma diocese de um milhão e meio de
habitantes, abriu o alforge do seu ‘saber de experiência feito’, enriquecendo cultural
e espiritualmente os participantes no acto litúrgico.
Por isso, dedico hoje a
página do “Dia Ímpar” ao senhor Bispo José Alfredo Caires de Nóbrega,
recortando alguns dos preciosos excertos da sua mensagem:
“Fazendo minhas as palavras do Evangelho de hoje – a boca fala daquilo que transborda o coração
– vou falar-vos do que enche também o meu coração: a vida que vivo nas
missões… A Igreja tem de saber testemunhar o Evangelho. Por vezes anda para a
frente e para trás, quando o que deve é fazer com que a Bíblia seja vida, como fazemos
nas missões: viver com as pessoas, comer como elas comem (arroz três vezes ao
dia, ou duas vezes ao dia), dormir por vezes no chão em cima de uma esteira,
comer o que elas nos dão. Já me perguntaram como é que eu pregava a Palavra de
Deus e o que é Evangelização, eu respondi que Evangelização não é tanto falar
em Jesus Cristo ou fazer muitos sermões, mas sim em elevar as pessoas na sua
dignidade... É no Homem que se vê Jesus Cristo.
Temos um trabalho muito directo com a população, muitos
deles nunca tinham tido conhecimento do cristianismo, mas têm a sua fé, têm uma
fé em Deus. E isto é muito importante.
Madagáscar é um país rico, eu estou numa região super-rica,
mas de super-miséria. Onde há muita riqueza há também muita miséria… As
crianças começam muito pequeninas a ir para as minas, descer aqueles buracos de
20/30 metros, é preciso insuflar sacos de ar para poderem respirar e depois trazem
os baldes cheios de areia para peneirar e achar aquelas pepitas de ouro, que
vão dar aqueles gramas de ouro, fios de ouro. Deficiências, sobretudo no ensino, na saúde. E temos de desenvolver aí,
na escola, nos centros de saúde, combater a malária. E até em projectos de
agricultura. Tentámos introduzir novas culturas de legumes.
Na minha diocese de 14.000 m2, temos mais de 800 catequistas
que lá não são bem, bem, catequistas: são
os animadores da população que mantêm as comunidades enquanto o padre não vai
lá - ou só vai uma vez por ano. Vivo à beira-mar, mas tenho de percorrer
aldeias a 300 Km, onde não há transportes, levo dias e meses a andar a pé,
usando por vezes os rios em barcos e pirogas.
Tivemos agora um ciclone que nos destruiu 80% de terras,
casas, até o próprio telhado da catedral. Enfim, vamos vivendo o Evangelho,
fazendo Igreja, com as pessoas, procurando sempre elevar a sua dignidade.
Por fim, queridos paroquianos da Ribeira Seca, obrigado pelo
vosso carinho, pela vossa amizade e muitos parabéns por esta data que hoje
celebrais”.
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A data a que alude o
Senhor Bispo Caires de Nóbrega refere-se ao 37º aniversário da ocupação da
igreja da Ribeira Seca por 70 efectivos policiais, em 27 de Fevereiro de 1985.
Não houve a habitual comemoração festiva em virtude dos tumultuosos acontecimentos
na Ucrânia, mas tivemos a prestigiosa e reconfortante celebração do estimado
antístite.
Mas não foram esquecidas
as vítimas ucranianas, pois enquanto se procedia ao acto da Comunhão, no templo
ecoavam as canções da Paz:
“O soldado vai à guerra
Vai fazer a tirania
Vai matar o seu irmão
Isso
é contra a Eucaristia
Mas trazer a Paz ao Mundo
E criar um novo dia
Sem armas e sem
fronteiras
Isso
é que é Eucaristia
Refrão
Porque
o Senhor ficou na Eucaristia
Pra
dar a todos pão e alegria
Porque
o Senhor habita em nossa terra
Gritamos
NÃO à fome, NÃO à guerra
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27.Fev.22
Martins Júnior
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