Para aqueles que, como eu, no século
passado deixámos a nossa terra, rumo à guerra colonial portuguesa, não é possível
olhar, de coração enxuto, as lancinantes cenas de despedida da Ucrânia:
mulheres, mães, esposas, noivas, crianças, no abraço (será o último?) aos
filhos, aos maridos, aos pais, aos homens que ficam em terra para defender a
sua pátria dos ataques russos. Desta vez são elas que partem…
CAIS
DE ALCÂNTARA-MAR (1961-1974)
De
costas voltados para o velho ‘Niassa’
ei-los
que partem… alguns para não mais voltar
enquanto o sol nascente enxuga as lágrimas delas
caídas
de dor e luto nos camuflados
que cobrem aquela carne p’ra canhão lá long
_____________
Hoje
Ei-las
que partem… voltarão ou não!
A estrada a ferrovia o pânico não esperam mais
um
derradeiro abraço um beijo amargo
selam o
passaporte de dor e esperança
e apertam
ao peito o indefeso escudo infante
que o
amor lhes deu
Tremendo
e desencontrado abalo os trai:
nelas
vai o corpo mas não o coração
neles é
o coração que sai
e o
corpo fica
Tão
diverso o golpe
e qual
maior o grito:
se migrante
forçada em alheio solo
se prisioneiro
armado na própria pátria?
Ei-las
que partem…
Mas
quanto mais longe
maior a
ponte de azul e ouro
que as
une ao rio-coração de Kiev
por onde
voltarão em glória
ao soberano
trono da Vitória!
_________________________________
I
AM UCRÂNIA !
JE
SUIS UCRÂNIA !!
EU
SOU UCRÂNIA !!!
01.Mar.22
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário