Das
aberrações sangrentas sadicamente infligidas contra o povo ucraniano nem vale
mais a pena carpi-las ou abominá-las, tais os extremos a que chegaram.
Resta-nos apenas tirar as conclusões e aguardar que a espada severa da Justiça
se erga tão vigorosa e firme como a espada de Salomão. E é precisamente de
Justiça – da Justiça – que podemos extrair algumas conclusões, talvez uma
única, enorme sentença acerca dela. Digamos que é a Justiça no banco dos réus.
Em
filosofia, aprende-se a partir do particular para o universal. Inversamente
também se parte do universal para o particular como método seguro à construção do pensamento científico. Dito de
uma forma mais simplista, partimos das situações-macro para entendermos melhor os episódios-micro. É o caso.
O
Tribunal Internacional de Justiça deliberou a suspensão imediata da invasão
russa e a desactivação de toda a logística armada das forças a soldo da Rússia
na Ucrânia. O que se passou? Todos os juízes votaram a favor da decisão, fundamentada
em argumentos e factos concretos. Todos, menos dois. Quais?... Os juízes da
Rússia e da China! Por mais evidentes e arrasadores os fundamentos carreados
para o processo, os intérpretes da Justiça russo-chinesa entenderam que a
invasão e suas execráveis consequências estão isentas de qualquer cominação, ou
seja, podem continuar. Sabemos que a Justiça é cega (e deve sê-lo intransigentemente)
na imparcialidade operativa das
decisões, mas mais cegos são os justiceiros sectários daqueles dois países que
não têm pejo de colocar a suprema deusa da Justiça sob as botas cardadas dos
vampiros que os governam. É a mais degradante baixeza e é o mais autofágico
atentado da dignidade humana.
Perante
este escândalo-macro, que se há-de pensar de outros deuses menores sujeitos às
negaças/favores/ cantos de sereia que pesam mais que a verdade na balança dos
julgamentos?!...
Como
são ardilosos e subtis os homens na urdidura das teias conducentes à prossecução
dos seus interesses! À maneira de certos mecanismos tecnológicos hiper-calculados,
também os legisladores criam automatismos tecno-jurídicos, cujo conteúdo funcional
dirige-se exclusivamente a beneficiar o agressor, imunizar o criminoso. Estamos
perante um desses casos mais engenhosos e maquiavélicos:
Ainda
que o Tribunal Internacional decida qual a sanção sobre este ou aquele país
visado, a sua eficácia coerciva só será exequível após a aprovação unânime do
Conselho de Segurança das Nações Unidas. Neste órgão superior da magistratura
internacional tem assento a Rússia, cujo voto é imprescindível para a execução
das decisões do Tribunal. Ora, a Rússia tem “direito de veto”, pelo que nunca
será posta no terreno a sentença do Tribunal Internacional de Justiça que
ordena a suspensão imediata da invasão. É a farsa perfeita, o embuste em que
medram os Tratados Internacionais que, iludindo a opinião pública, engendram
válvulas de segurança para arquivar os processos e proteger os criminosos públicos.
É
o mundo que fabricámos ou outros fabricaram nas nossas costas, quantas vezes
com os nossos ‘deferimentos tácitos’, quando silenciamos leis injustas,
decretos abusivos, portarias, regulamentos e despachos, desde que “não nos
pisem os calos”, os nossos… sabendo que vão prejudicar o vizinho, o colega, o
irmão.
Os
maus exemplos vêm de cima. Quando os gigantes magnatas assim procedem, que se
há-de esperar dos pigmeus alpacas dos burgos e das aldeias? Partimos do macro
para o micro, do geral para o particular. E é por tudo isto que nas fráguas do
nosso consciente e do nosso subconsciente escorre o lodo do desânimo, entorpece
a sede de Justiça. Ou (e é o melhor) desperta em nós o sopro da revolta.
Acordai! – dizia e cantava o nosso imortal Lopes Graça.
Os
ditadores não temem as armas nem respeitam os tribunais. Só há uma única
autoridade, um único exército pacífico e eficaz para pô-los em sentido: o POVO
!!! Esperamos que assim faça o POVO RUSSO.
17.Mar.22
Martins Júnior
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