Fosse
este Domingo o prenúncio da reunião de amanhã entre Rússia e Ucrânia! Seria então o cessar-fogo definitivo,
seria o tão angustiadamente almejado fim da guerra!
Porque hoje foi dia de mudar de hora. E
mais que mudar de hora, melhor seria mudar de era - a metamorfose pacificadora
de passar das armas das trevas para as armas da luz, como escreveu Paulo de
Tarso. Passar da razão da força para a força da razão! Ultrapassar a era do homem
das cavernas e alcançar o reino do “Homo Sapiens”, uma humanização holística em
que, de todos os outros, sobressai o talismã da Paz.
Para entrarmos neste círculo virtuoso
de pensamento e acção, sugiro a leitura do LIVRO – o ponto alto entre uma
semana e outra deste Senso & Consenso
– mais precisamente, no capítulo 15,11-32, de Lucas: o vigoroso e, ao mesmo
tempo, comovente episódio conhecido por ‘Regresso do Filho Pródigo’. Como todos os textos plenos de profundidade e
vastidão, dispensa comentários excedentários: melhor senti-lo que explicá-lo.
Estão ali sectorialmente desenhadas as
guerras de diferentes tipologias; as classistas, as familiares, as
psicológicas. E de entre todas, avulta o pedagogo exemplar e o criador
ficcionista de uma realidade sociológica incontornável – o Nazareno – cujo poder
comunicacional pretende um bem maior, o da reconciliação. Numa palavra, a Paz
duradoura.
Sintetizando. Duas classes: de um lado,
os fariseus, os doutores da Lei, a
classe aristocrática e, do outro, os publicanos, os pecadores, os párias, os
proletários, os da valeta. No meio, um Líder, um Mestre, um Amigo solidário com
os valeta, ao qual a classe dominante lança uma campanha pública de arrasar: “Esse
homem só faz camaradagem com os pecadores, come e bebe com eles”, é mais um
demagogo que aí anda, um populista da ralé – diríamos hoje.
Então aqui surge o criador ficcionista
da realidade: a parábola em que entram um pai e dois filhos, o mais novo a
reclamar prematuramente a herança, que viria a dissipá-la, pouco depois, numa
vida dissoluta com prostitutas, diz claramente o Mestre. O mais velho, porém, sempre fiel ao pai, trabalhador, poupado,
sensato. Na trama da ficção (decalcada do real quotidiano) o jovem, reduzido à
miséria extrema, ganha força anímica, volta à casa paterna, reconhece o erro,
pede perdão e há festa grande, música, danças e ementa opípara. O irmão, o mais
velho, regressando do trabalho nos campos, recusa-se a entrar em casa, alegando
que o mais novo não merecia aquela pompa injustificada. O pai, sempre apaziguador,
vem cá fora e convence o filho a entrar e a congratular-se festivamente porque “este
teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado”.
É de uma vastidão interminável, abrangente e
universal a radiografia impressa neste episódio ficcional revelador da
sociedade em que vivemos, em que sempre se viveu e há-de viver. Quem não se
sente identificado com esta ‘ressonância’ psico-social de várias direcções:
pais, educadores, professores, governantes, políticos?... Quanto custam os
pedregosos caminhos da reconciliação!
Terá Putin, o cristão Putin, na sua
basílica da ortodoxia oficial, terá lido o texto proposto para este Domingo? Ter-se-á
ele colocado no papel do filho pródigo que continua a destruir não só os bens
do seu povo e jovens soldados, filhos do povo, mas também, criminosamente, os
bens e vidas alheias na Ucrânia?! … Quando regressará ele à Casa do Pai?... e
deixará que os mártires ucranianos voltem às suas casas, embora destruídas?... O problema, o trágico e
inultrapassável dilema, é que o deus dele é o deus da guerra, o mitológico
Marte travestido de um deus cristão. E tem a seu lado, o sacro ou sacrílego lugar-tenente,
o Arcebispo Cirilo de Moscovo, que banha em luzidia água-benta as metralhadoras
e os tanques de guerra!
Se
ao menos viesses, Jesus de Nazaré, e te sentasses à mesa das conversações
russo-ucranianas e aí lhes recontasses o episódio do Filho Pródigo…
27.Mar. 22
Martins Júnior
Não acaba..... Eles se consideram a terceira "Roma" e quando a igreja da Ucrânia nacionalizou as propriedades da igreja russa, aí começaram as desavenças... É uma guerra "religiosa".... que o ocidente ateu não consegue compreender.
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