Guerras,
catástrofes, economia, produtividade, relações de causa e efeito – é disto que
hoje se fala. Ninguém se espante, ninguém estranhe. Porque há mil, dois mil, há
milhões de anos, era assim, era disso que se falava. Também no tempo de Jesus
de Nazaré. Com uma nota contrastante: é que Ele interpretava os factos, mesmo
os mais imprevisíveis e aberrantes, interpretava-os com um realismo duro e cru,
extraindo deles lições de optimismo mobilizador.
É só abrir o LIVRO (o costume que, por
opção própria, já erigi em lei para cada
fim-de-semana) e aí encontraremos a lógica deste prólogo inicial. Está tudo
descrito no capítulo 13 de Lucas, versículos 1-19. Primeiro acontecimento
fatídico: Um tal Pilatos (traduzamos por um tal Putin) mandou chacinar um grupo
numeroso de galileus. Segundo: uma alta torre, classificada de Siloé,
desmoronou-se e ao cair matou 18 homens. Na mentalidade da época, desastres,
epidemias e guerras eram tidas como castigos de Deus (por mais incrível que
seja, ainda prolifera esta crença na mente de muitos devotos do século XXI…).
Ora, o Mestre das Gentes confronta os judeus, interpela-os e acusa-os de
ignorância e blasfémia: ”Acham que foi castigo divino? Desiludam-se, porque
vocês não são melhores que aqueles que morreram”.
Realismo puro e duro, mas esclarecedor
para um povo mergulhado no obscurantismo doentio das superstições! Voltasse Ele
à Terra, que diria de certas devoções absurdas em que se pede a Deus que acabe
a guerra, quando se sabe que o Supremo Arquitecto do Universo não entra nas guerras
dos homens. Maior ultraje ainda à Divindade é pedir-Lhe a morte das forças
beligerantes adversas! É o que faz Putin na sua Igreja Ortodoxa, É o que
fazíamos nós (com os capelães militares à cabeça) nos vergonhosos tempos da
guerra colonial.
Mas o nosso Líder Sócio-Espiritual vai
mais longe na desmistificação das falsas mensagens dirigidas a Deus e a Ele
próprio, que mais não são que indignas tiradas provocatórias, as quais o
verdadeiro crente nunca se atreveria a fazer, ou seja, forçar outrem a realizar
as tarefas que só ao próprio devoto impetrante se devem exigir. Como exímio
pedagogo que é, recorre à alegoria da
figueira que ‘se recusava a dar fruto’, três anos seguidos. Se não produz - quando
tudo tinha para produzir - então a solução é dar lugar a outra. Nada mais
consequente em termos de economia circular.
Abro aqui um breve parêntesis para dar
conta da contradição em que se envolvem muitos comentadores, alegando que Jesus
de Nazaré advogaria neste caso a apologia do capitalismo, a exploração primária
dos meios de produção ou o primado do capital sobre o trabalho. Em apoio desta
tese, juntam uma situação paralela, a dos talentos ou das minas (Mateus, 25, 14-30) em que são premiados
os subalternos (digamos, os operários, os caseiros, etc,) que apresentam lucros
a 100% aos seus patrões e senhorios. Logo, pelas premissas falsas, uma falsa
conclusão: Jesus era apologista do capitalismo.
Bem vaticinou o velho Simeão no Templo
de Jerusalém: “Esta Criança que sustento nos braços será um sinal de contradição
no mundo”. (Lucas, 2, 21-40). Com
efeito, ao Jesus comunitário, a quem chamam de ‘comunista’, vêm agora outros
que lhe lançam em rosto o baldão de ‘capitalista’!
Não serão necessários brilhantes silogismos demonstrativos
da evidente hermenêutica do texto, aliás dos dois textos reproduzidos. O sábio
Nazareno quis tão-só (e ainda hoje o quer) relevar o insubstituível contributo
do factor Trabalho na construção da sociedade. Contra o imobilismo, seja ele
braçal, intelectual ou religioso, o nosso Mestre pretende libertar o ser humano
do seu atávico complexo de inferioridade ou de impotência básica,
conferindo-lhe em contrapartida o seu papel de Co-Criador, construtor das
Civilizações, sem cujo esforço a terra, o homem, o progresso não passarão de
'terra queimada' que nada produz.
Transpondo para o trágico cenário que
hoje vivemos, o que o martirizado povo ucraniano pede (eu diria, exige de nós)
não são mãos enclavinhadas rogando aos deuses e às sacras esculturas mortas
aquilo que está exclusivamente nas mãos dos vivos, a começar pelos líderes das
nações. Acção, dinamismo, resiliência e criatividade: eis o que desponta dos
ramos da figueira-protagonista que hoje se nos propõe.
Seja cada um de nós tronco de figueira reprodutiva para merecermos viver e ocupar os palmos de terra que nos são dados
com prazo predeterminado!
19.Mar.22
Martins Júnior
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