segunda-feira, 24 de abril de 2023

NOS PRÉ-100 DIAS DO ARRAIAL…

                                                                          


            Esperei com a paciência de um monge budista o último compasso do concerto colossal com que Portugal adormeceu, ao anoitecer do 100º dia do arraial a haver. Desde o mais alto torreão até ao mais longínquo campanário, dez milhões de portugueses foram chamados à memória futura para se atamancarem a preceito, porque só faltam três meses e dias ante a parada capital da ”Capital do Império”.

         Por isso, serão  parcas e átonas as palavras que pululam no meu subconsciente. Porque todas se resumem a uma dupla pergunta: estão a abrir caminho ao Peregrino ou a altear o trono ao Imperador?…  Teremos voltado à mítica vocação missionária de congraçar a Fé e o Império? …O protocolo não engana, nem quanto à resposta, nem quanto ao receptador-ganhador, se este se aquela. A novela herói-cómica dos palcos faraónicos e a proclamação patriótica superiormente lavrada – “a projecção de Portugal no mundo” – não deixam margem a dúvidas. E (com ou mais que Portugal) a “projecção mundial” dos titulares, a começar pelos domésticos.

Era preciso levar ao Papa o GPS da cidade, 100 dias antes, não corresse o frágil octogenário o risco de perder-se nas vielas de Lisboa.  Com direito a grande plano!

Fez falta regressar ao século XVI… e que falta fez Hanno, o elefante albino que D. Manuel I ofereceu ao Papa Leão X. Como já não há ouro do Brasil, lá foi carregado de moedas-euro-puga.

Os carrilhões em coro bronzeado configuraram-se-me o ‘iluminado’ D. Miguel, do Felizmente Há Luar de Luís Sttau Monteiro, amotinando o povo contra o sonho libertador do general Gomes Freire de Andrade:

Os estados emotivos, srs. Governadores, dependem da música que se tem no ouvido. Por isso, quero os sinos das aldeias a tocar a rebate, os tambores em fanfarra nas paradas dos quartéis, os frades aos gritos nos púlpitos, uma bandeira na mão de cada aldeão.

100 dias antes!

Entre nós, ilhéus, estamos habituados a que se inaugure o betão antes, durante e depois de cair ao chão…

Assim se embala a religião, meio caminho nas ogivas da sé, outro meio na bandeira do(s)  partido(s). Cada qual reserva a sua maquia.

Tudo à pala da juventude. Muito podem os ombros dos jovens da JMJ!

Acaso, perguntaram os embaixadores ao Papa Francisco – aquele que se recusou habitar o Palácio ‘Apostólico’ – se estaria alinhado e identificado com as novas pirâmides do Egipto Lisboeta?!

Uma saudação modesta, mas essencialmente espiritualista e livre à JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE – por extenso – porque não quero ver encostadas às barracas de tamanho arraial as iniciais deste remoto ilhéu, JMJ!

 

23-24.Abr.23

Martins Júnior

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