Esperei
com a paciência de um monge budista o último compasso do concerto colossal com
que Portugal adormeceu, ao anoitecer do 100º dia do arraial a haver. Desde o
mais alto torreão até ao mais longínquo campanário, dez milhões de portugueses
foram chamados à memória futura para se atamancarem a preceito, porque só
faltam três meses e dias ante a parada capital da ”Capital do Império”.
Por isso, serão parcas e átonas as palavras que pululam no meu
subconsciente. Porque todas se resumem a uma dupla pergunta: estão a abrir
caminho ao Peregrino ou a altear o trono ao Imperador?… Teremos voltado à mítica vocação missionária
de congraçar a Fé e o Império? …O protocolo não engana, nem quanto à resposta,
nem quanto ao receptador-ganhador, se este se aquela. A novela herói-cómica dos
palcos faraónicos e a proclamação patriótica superiormente lavrada – “a
projecção de Portugal no mundo” – não deixam margem a dúvidas. E (com ou mais
que Portugal) a “projecção mundial” dos titulares, a começar pelos domésticos.
Era
preciso levar ao Papa o GPS da cidade, 100 dias antes, não corresse o frágil
octogenário o risco de perder-se nas vielas de Lisboa. Com direito a grande plano!
Fez
falta regressar ao século XVI… e que falta fez Hanno, o elefante albino que D.
Manuel I ofereceu ao Papa Leão X. Como já não há ouro do Brasil, lá foi
carregado de moedas-euro-puga.
Os
carrilhões em coro bronzeado configuraram-se-me o ‘iluminado’ D. Miguel, do Felizmente
Há Luar de Luís Sttau Monteiro, amotinando o povo contra o sonho libertador
do general Gomes Freire de Andrade:
Os
estados emotivos, srs. Governadores, dependem da música que se tem no ouvido.
Por isso, quero os sinos das aldeias a tocar a rebate, os tambores em fanfarra
nas paradas dos quartéis, os frades aos gritos nos púlpitos, uma bandeira na
mão de cada aldeão.
100
dias antes!
Entre
nós, ilhéus, estamos habituados a que se inaugure o betão antes, durante e
depois de cair ao chão…
Assim
se embala a religião, meio caminho nas ogivas da sé, outro meio na bandeira do(s)
partido(s). Cada qual reserva a sua
maquia.
Tudo
à pala da juventude. Muito podem os ombros dos jovens da JMJ!
Acaso,
perguntaram os embaixadores ao Papa Francisco – aquele que se recusou habitar o
Palácio ‘Apostólico’ – se estaria alinhado e identificado com as novas
pirâmides do Egipto Lisboeta?!
Uma
saudação modesta, mas essencialmente espiritualista e livre à JORNADA
MUNDIAL DA JUVENTUDE – por extenso – porque não quero ver encostadas às
barracas de tamanho arraial as iniciais deste remoto ilhéu, JMJ!
23-24.Abr.23
Martins
Júnior
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