domingo, 30 de abril de 2023

PASTORES E MERCENÁRIOS

                                                                      


    As duas mais velhas profissões do mundo! Mais velhas que a proclamada primeira. Porque a pastorícia, iniciático recurso de um povo nómada, anda de pari passu compassada com a caça,  a mesma armadura de peles curtidas, o mesmo olhar de lince, o mesmo bordão que naquela é cajado protector e nesta é bastão salteador.

         Das duas fala-nos o LIVRO, fim-de-semana inspirador. O nosso Mestre, o Nazareno que “não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca”, denuncia os profissionais de ambas as profissões, não hesitando definir que “o pastor dá a vida pelas ovelhas” e o mercenário tira a vida das ovelhas. O pastor é o “Guardador de Rebanhos”, o mercenário é o saqueador da lã, da pele, do sangue delas. Aquele enfrenta o lobo, este foge, esconde-se e na sombra aguarda a hora de recolher os despojos.  O pastor é franco e oportuno, o mercenário é dobre e oportunista.

         As duas profissões - uma autêntica, “de um só rosto e de uma só fé”, a outra mimética, furta-cores – tocam os mesmos instrumentos, manuseiam as mesmas ferramentas e os seus gestos são simétricos no torcer dos ombros e no estalar dos dedos. “ Só pelos frutos os distinguireis”  - adverte-nos o Mestre.

         Em João, 19, 1-19, Ele fala a um auditório agro-pastoril, mas nas entrelinhas lá estão todos os actores dos palcos sociais, do campo à cidade, da pedra-lascada à cúpula dos ‘capitólios’, do tasco rural à tribuna dos parlamentos, da caserna blasfema aos altares das catedrais. Há-os em toda a parte!

         “Estes anormais que nos governam” – escreveu alguém este livro.

         Estes oligarcas beneméritos que com uma mão nos roubam o dobro do que nos dão com a outra, estes pregadores que nos pervertem, estes educadores que nos hipnotizam, estes prestidigitadores  que nos “vendem gato por lebre”, enfim, estes populistas, exemplares camaleónicos… estes, aqueles, aqueloutros, nós, tu, eu!...

         “O triunfo dos porcos”,  dos “Senhores Porcos”, a apoteose dos bobos, o manicómio dos sabidos… E lá vamos pagando e rindo. Porque bobos somos nós!...abono dos mercenários!

        

         29-30.Abr.23

         Martins Júnior

 

 

 

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