terça-feira, 2 de maio de 2023

A FESTA DO TRABALHO E O FRETE DO SALÁRIO

                                                                                   


Baixaram as bandeiras porque a brisa da tarde já não as pega e os decibéis gárrulos, sem trégua e pouca rédea já perderam a força e o Dia de Festa finou-se como em quarta-feira de cinzas após  a terça de carnaval.

A Festa do Trabalho, a Festa! – assim é na sua raiz e fruto. São as mãos do pedreiro que levantam o palácio, as mesmas mãos do escultor que tornam vivo o mármore morto, os dedos do violinista que dão alma ao velho tronco das montanhas, os calos do lavrador que do seio da terra chamam os genes criadores de quem anda e luta e canta e escreve a história da humanidade!

C’est La Fête du Travail! – nunca mais esqueci o tom sonoro, feliz mas  autoritário do homem do quiosque que não servia mais nada a ninguém porque acabara de bater a meia-noite de abril para maio, no carrilhão de ‘Notre-Dâme’ de Paris. Pas plus, aujourd’hui c’est La Fête du Travail!

Mas o “1º de Maio”, universalmente maior que o luso “25 de Abril”, foi e sempre será  portador, não apenas da Festa, mas de um outro símbolo que em vez de troféu ganhador pesa-lhe ao ombro como canga de vencido: o Salário e tudo quanto  lhe está conexo.

Tal como o Trabalho que é Festa, deveria sê-lo na mesma escala a Festa do Salário. E porque não o é – antes lamento e revolta – assim se reverte também o Trabalho em fardo e o Salário em frete!

Porque o capital suplantou a mão-de-obra, quando não deveria acontecer. Antes pelo contrário: porque o Trabalho produz capital e o capital não se reproduz a si mesmo, como amiba monstruosa. Por outras palavras e mais explícitas já o dissera Abraham Lincon:  O trabalho é mais importante que o capital. O capital é apenas o fruto do trabalho e não existiria sem ele. O trabalho é superior ao capital e merece a consideração mais elevada. E eu ouso acrescentar: Só caminhando harmonicamente lado a lado, como as duas mãos juntas, as duas pernas simultâneas é que alcançarão ambos o mesmo pódio comum: a felicidade por uns dias, umas noites, umas horas neste planeta que, para isso mesmo, também nos é comum.

Maldita invenção a do papel-moeda, moeda-metal, ficção-bitcoin – tudo máscaras da inteligência artificial para desumanizar a simbiose festiva para a qual nasceram no mesmo berço o Trabalho e o Salário.

Para onde caminhamos nós, já não falo dos velhos como eu, mas dos jovens – homens e mulheres -  perante o garrote das necessidades básicas, as antigas e as emergentes, perante as assimetrias salariais, o quarto onde dormir, o desemprego e (sentido!) a robotização da vida humana, os fantasmas da IA que far-nos-ão sentar inertes no banco de espera, preparado que já está no grande anfiteatro da morgue?!

Porque as mãos e os braços dos predadores do capital não são mais inteligentes e vigorosas que as dos oficiais do Trabalho e porque o sangue que corre nas veias daqueles não é mais azul do que o que faz girar o maço e o cinzel, a pena e a enxada – por isso, nunca deixem de erguer bem alto o pregão inesgotável, invencível todos os dias: Trabalho e Salário – a mesma Festa. Adicionando-lhe o refrão que por aqui se canta:

                            Viva o Povo que trabalha

                            E dá toda a produção

                            Ele um dia há-de vencer

                                      E mandar toda a Nação.

 

         01.Mai.23

         Martins Júnior

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