Baixaram
as bandeiras porque a brisa da tarde já não as pega e os decibéis gárrulos, sem
trégua e pouca rédea já perderam a força e o Dia de Festa finou-se como em
quarta-feira de cinzas após a terça de
carnaval.
A
Festa do Trabalho, a Festa! – assim é na sua raiz e fruto. São as mãos do
pedreiro que levantam o palácio, as mesmas mãos do escultor que tornam vivo o
mármore morto, os dedos do violinista que dão alma ao velho tronco das montanhas,
os calos do lavrador que do seio da terra chamam os genes criadores de quem
anda e luta e canta e escreve a história da humanidade!
C’est
La Fête du Travail! – nunca mais esqueci o tom sonoro,
feliz mas autoritário do homem do quiosque
que não servia mais nada a ninguém porque acabara de bater a meia-noite de
abril para maio, no carrilhão de ‘Notre-Dâme’ de Paris. Pas plus, aujourd’hui
c’est La Fête du Travail!
Mas
o “1º de Maio”, universalmente maior que o luso “25 de Abril”, foi e sempre
será portador, não apenas da Festa, mas de
um outro símbolo que em vez de troféu ganhador pesa-lhe ao ombro como canga de
vencido: o Salário e tudo quanto lhe
está conexo.
Tal
como o Trabalho que é Festa, deveria sê-lo na mesma escala a Festa do Salário.
E porque não o é – antes lamento e revolta – assim se reverte também o Trabalho
em fardo e o Salário em frete!
Porque
o capital suplantou a mão-de-obra, quando não deveria acontecer. Antes pelo
contrário: porque o Trabalho produz capital e o capital não se reproduz a si
mesmo, como amiba monstruosa. Por outras palavras e mais explícitas já o
dissera Abraham Lincon: O trabalho é
mais importante que o capital. O capital é apenas o fruto do trabalho e não existiria
sem ele. O trabalho é superior ao capital e merece a consideração mais elevada.
E eu ouso acrescentar: Só caminhando harmonicamente lado a lado, como as
duas mãos juntas, as duas pernas simultâneas é que alcançarão ambos o mesmo
pódio comum: a felicidade por uns dias, umas noites, umas horas neste planeta
que, para isso mesmo, também nos é comum.
Maldita
invenção a do papel-moeda, moeda-metal, ficção-bitcoin – tudo máscaras da
inteligência artificial para desumanizar a simbiose festiva para a qual
nasceram no mesmo berço o Trabalho e o Salário.
Para
onde caminhamos nós, já não falo dos velhos como eu, mas dos jovens – homens e
mulheres - perante o garrote das
necessidades básicas, as antigas e as emergentes, perante as assimetrias
salariais, o quarto onde dormir, o desemprego e (sentido!) a robotização da
vida humana, os fantasmas da IA que far-nos-ão sentar inertes no banco de
espera, preparado que já está no grande anfiteatro da morgue?!
Porque
as mãos e os braços dos predadores do capital não são mais inteligentes e
vigorosas que as dos oficiais do Trabalho e porque o sangue que corre nas veias
daqueles não é mais azul do que o que faz girar o maço e o cinzel, a pena e a
enxada – por isso, nunca deixem de erguer bem alto o pregão inesgotável,
invencível todos os dias: Trabalho e Salário – a mesma Festa. Adicionando-lhe o
refrão que por aqui se canta:
Viva o Povo que
trabalha
E dá toda a produção
Ele um dia há-de
vencer
E mandar
toda a Nação.
01.Mai.23
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário