quarta-feira, 3 de maio de 2023

A “ÚLTIMA GRANDE GUERRA” EM PORTUGAL

                                                                                   


Para encurtar os ‘golpes de mão’ e resumir  as nep’s dos manuais militares da guerrilha urbana, o melhor é mataforizar, a gosto e a contragosto dos estrategas de poltrona – talvez a mais eufemística e divertida tática de evitar mortos e feridos.

Peguem nos soldadinhos de chumbo, nos artilheiros ardilosos, nos oficiais de turno até chegar aos marechais duplicados, cada qual, no seu pino de ouro e coloquem-nos todos na velha figueira de figos pecos, no galinheiro de poleiros suspensos ou, se quiserem, no circo zoológico das ambições dos filhos d’Eva.

Começa a briga na ponta adelgaçada da figueira onde Judas se arvorou, passa aos canelos intermédios em nódulos mais salientes, que se escapam às varas mais robustas disfarçadas de partidos. E todos roem, guincham, balançam, mas a figueira não cai, porque todos bebem do leite que dela sai. Até que chega à dupla reticular que sustenta a árvore. As raízes do fundo vão deitar a figueira ao chão…

Na capoeira urbana, são os pintos pintados, logo acima os frangos francos, as poedeiras e as dos ovos gorados, as goelas cacarejeiras, bicarada em bicarada, mas lá se aguentam com os milhos e milhões que o zé-povo, indignado mas forçado, lhes metendo no papo. Até que chega aos donos da gaiola: o de crista arrebitada e pifo automático não descansa sem depenar o rival mesclado a preto e branco que, à milésima picada, segura a pata no arame farpado e atira-lhe numa faísca de galo ferido: “Nem mais uma, basta!”.

No circo zoológico, a batracomiomaquia põe os sapos num coaxar imparável  dos poços, saltam para a roda dos transeuntes, ensarilham-se depois com os répteis oportunistas, contam com a benevolência dos dentes afiados dos uivantes mais ruidosos e lá vão brigando e rindo, sem amotinar os espectadores já habituados ao circo ambulante. 

O duelo agudiza-se quando chega ao reino do leão e ao sub-reino do leopardo. O espectáculo já não diverte. Incomoda. Enjoa. Revolta. Sobretudo quando a raiz maior decide fazer da figueira um baloiço descolorido  nas mãos de uma criança… Quando o galo-mór garganteia todas as manhãs que vai depenar o seu arqui-rival… Quando o leão apregoa em cada esquina que está pronto (e com que avidez) a dissolver em águas de bacalhau o pelo sedoso do leopardo insubmisso.

No anfiteatro global de tantas guerras, guerrinhas e guerrilhas, ficamos sujeitos à Última Grande Guerra neste país. E há quem não contenha a curiosidade derradeira: Quem é que que dissolve o dissolutor?!

 

03.Mai.23

Martins Júnior       

 

 

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