A
Feira é sempre o lugar das gentes. Todas as feiras tomam a veste originária que
as qualifica pela adjectivação sumária de “Franca”. São, por isso, francas
todas as feiras – ou devem sê-lo – porque trazem à luz do dia aberto o corpo e o espírito do lugar e dos seus protagonistas, o povo que
o compõe.
Já aqui sublinhei a sigla
característica da “XI Feira do Livro” de Machico, a partir da sua identificação
autóctone quando toma o subtítulo de FRANCISCO ÁLVARES DE NÓBREGA, o
grande sonetista machiquense equiparado
a Camões e Barbosa du Bocage.
Do elenco de personagens e produções expostas no evento destaca-se a identidade da
população das terras de Tristão Vaz, desde a exímia prestação dos coros e tunas
infanto-juvenis, dos grupos de teatro e dança, universidade senior até ao
lançamento de obras originais, “Gentes e ruas da minha Villa”,de Zita Cardoso, “Poeticamente”,
de Luís Costa, “XV Concurso Literário F.A.N.” e ainda “Calhaus Falantes, Pedras
Cantantes”, de Martins Júnior.
Permitam-me dedicar algumas linhas a
estes “Calhaus” e a estas “Pedras”, a apresentar pelas 16,30 deste domingo, a
cargo da Dra. Alice Franco dos Santos e
do Pe. José Luís Rodrigues. A escrita é o veículo seguro para perpetuar
memórias, sejam individuais ou colectivas. Mas há uma discrepância abissal
entre escrever na água e escrever na pedra. Na água, depressa se diluem,
intemporais, anónimas, pelo vasto oceano. Na pedra, porém, elas consubstanciam-se,
firmes, indeléveis, paradoxalmente vivas na rocha morta.
Foi
essa a intencionalidade – primeira e última – que presidiu ao acto de transportar
para o papel os círculos de calhau roliço que definem as oito efemérides
marcantes de um pequeno burgo suburbano, com raízes no início do povoamento da
Capitania de Machico.
A
Capela do Amparo – associada ao Forte de Nossa Senhora do Amparo, por iniciativa
do seu fundador, Francisco Dias Franco, Capitão-Secretário da Câmara Municipal
de Machico, em 1692 e 1706, respectivamente – o decreto da criação da Paróquia
em 1960, a que se seguem as datas de 1963, 1974, 1985, 1999, 2010 e 2019 podem
considerar-se os marcos emblemáticos desta localidade, inscritos nas páginas do
Livro de Pedra que é o logradouro público ou adro da Ribeira Seca.
Não
serei eu a enaltecer o alcance desta singela monografia, limito-me a
transcrever um excerto do Prefácio do Pe. José Luís Rodrigues:
“Louvo
este registo e a feliz explicação sobre estas datas que tanto dizem deste povo,
porém, se nos situarmos fora deste espaço geográfico, os mesmos salientam
também acontecimentos muito importantes para o mundo e para o nosso país. Sirva
esta inscrição para inspirar as gerações vindouras, a quem compete continuar
este legado desta história tão importante para a libertação e dignidade de uma
comunidade”.
Secundando a mensagem do Prefaciador, que
reconhecidamente agradeço, convido os meus amigos ao convívio intelectual e, direi mesmo,
socio-espiritual, do próximo domingo no Largo da Praça, XI Feira do Livro, e
faço minhas as palavras do Pe. José Luís
Rodrigues:
“Falem
sempre as pedras e cantem os calhaus eternamente o pão amassado da luta do povo
pela justiça, a dignidade e a paz”.
Agradeço
à Dra. Alice Franco dos Santos a gentileza da sua apresentação, ela, natural de
Machico, Ribeira Seca, e a sua deslocação de Lisboa, onde exerce a profissão de
advogada. Agradecimento, na pessoa da Dra. Irene Catanho, ao CCCS-RS, pela
edição deste modesto trabalho. Bem hajam.
19-20.Mai.23
Martins
Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário