sábado, 20 de maio de 2023

MACHICO NA FEIRA – O PROTAGONISMO DO LUGAR

                                                                        


A Feira é sempre o lugar das gentes. Todas as feiras tomam a veste originária que as qualifica pela adjectivação sumária de “Franca”. São, por isso, francas todas as feiras – ou devem sê-lo – porque trazem à luz do dia  aberto o corpo e o espírito  do lugar e dos seus protagonistas, o povo que o compõe.

          Já aqui sublinhei a sigla característica da “XI Feira do Livro” de Machico, a partir da sua identificação autóctone quando toma o subtítulo de FRANCISCO ÁLVARES DE NÓBREGA, o grande sonetista machiquense  equiparado a Camões e Barbosa du Bocage.

          Do elenco de personagens e produções  expostas no evento destaca-se a identidade da população das terras de Tristão Vaz, desde a exímia prestação dos coros e tunas infanto-juvenis, dos grupos de teatro e dança, universidade senior até ao lançamento de obras originais, “Gentes e ruas da minha Villa”,de Zita Cardoso, “Poeticamente”, de Luís Costa, “XV Concurso Literário F.A.N.” e ainda “Calhaus Falantes, Pedras Cantantes”, de Martins Júnior.

          Permitam-me dedicar algumas linhas a estes “Calhaus” e a estas “Pedras”, a apresentar pelas 16,30 deste domingo, a cargo da Dra. Alice Franco dos Santos  e do Pe. José Luís Rodrigues. A escrita é o veículo seguro para perpetuar memórias, sejam individuais ou colectivas. Mas há uma discrepância abissal entre escrever na água e escrever na pedra. Na água, depressa se diluem, intemporais, anónimas, pelo vasto oceano. Na pedra, porém, elas consubstanciam-se, firmes, indeléveis, paradoxalmente vivas na rocha morta.

Foi essa a intencionalidade – primeira e última – que presidiu ao acto de transportar para o papel os círculos de calhau roliço que definem as oito efemérides marcantes de um pequeno burgo suburbano, com raízes no início do povoamento da Capitania de Machico.

A Capela do Amparo – associada ao Forte de Nossa Senhora do Amparo, por iniciativa do seu fundador, Francisco Dias Franco, Capitão-Secretário da Câmara Municipal de Machico, em 1692 e 1706, respectivamente – o decreto da criação da Paróquia em 1960, a que se seguem as datas de 1963, 1974, 1985, 1999, 2010 e 2019 podem considerar-se os marcos emblemáticos desta localidade, inscritos nas páginas do Livro de Pedra que é o logradouro público ou adro da Ribeira Seca.

Não serei eu a enaltecer o alcance desta singela monografia, limito-me a transcrever um excerto do Prefácio do Pe. José Luís Rodrigues:

“Louvo este registo e a feliz explicação sobre estas datas que tanto dizem deste povo, porém, se nos situarmos fora deste espaço geográfico, os mesmos salientam também acontecimentos muito importantes para o mundo e para o nosso país. Sirva esta inscrição para inspirar as gerações vindouras, a quem compete continuar este legado desta história tão importante para a libertação e dignidade de uma comunidade”.

 Secundando a mensagem do Prefaciador, que reconhecidamente agradeço, convido os meus amigos  ao convívio intelectual e, direi mesmo, socio-espiritual, do próximo domingo no Largo da Praça, XI Feira do Livro, e faço minhas as palavras  do Pe. José Luís Rodrigues:

“Falem sempre as pedras e cantem os calhaus eternamente o pão amassado da luta do povo pela justiça, a dignidade e a paz”.

Agradeço à Dra. Alice Franco dos Santos a gentileza da sua apresentação, ela, natural de Machico, Ribeira Seca, e a sua deslocação de Lisboa, onde exerce a profissão de advogada. Agradecimento, na pessoa da Dra. Irene Catanho, ao CCCS-RS, pela edição deste modesto trabalho. Bem hajam.

 

19-20.Mai.23

Martins Júnior

 

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