Quem fizer o balancete do primeiro
quartel do século XXI, há-de defini-lo como a nebulosa da
“pós-história”, em que entram em cena as ondas da ‘pós-verdade, da
pós-modernidade’, dos pós-fácios e de todos os ‘pós’ que, bem monitorizados
e, mutatis mutandis, ficam perto daqueles ritmos de outrora,
da época medieval, das Cruzadas, das invasões anti--soberanistas da Roma
Imperial e, regressando mais longe, dos povos nómadas, recolectores, enfim, da
pré-civilização. Todos diferentes na forma ou no fundo, mas todos iguais no
impulso genético, a que se dá o atributo de instinto gregário. Unir a tribo, a
aldeia, a classe, a cidade, a nação como escudo de defesa ou arma de ataque! É
caso para ver-se ‘ao vivo’ a lógica do velho axioma: “os extremos
tocam-se”: os da Antiguidade e os do século XXI.
Não obstante a vertigem hodierna para o isolacionismo que a tecnologia nos
proporciona (o mundo todo está neste teclado e neste écran, dentro das quatro
paredes do meu quarto) a realidade diz-nos que “o que está a dar” na hora
presente é a fúria multitudinária, o volume da encomenda, os mega-decibéis que
estremecem o chão e sobem da planta dos pés até ao palanque do olhómetro. O
resto é paisagem invisível. Nem é preciso demonstrá-lo, está ao virar da
esquina dos dias estivais: são os estrondosos Queenes of Stone Age, no delírio místico do NOS-Alive, depois
a Zambujeira do Mar e afins, a apoteose rubra do ‘filho
pródigo’ Di Maria regressado à farda materna, os estádios a rebentar pelas
malhas da argamassa, os congressos confessionais, desde ‘Seca e Meca’ até aos
Jeovah’s em relvados pujantes de esperança verde-crente.
E por este atalho, venho a cair na Super-Hiper JMJ.
Logo de entrada, a pergunta não poderá ser outra, senão “Estará a JMJ propositadamente
intercalada no maranhão publicitário dos grandes reality show´s que
animam o verão quente de 2023?... E nós,
os espectadores, estaremos perante um campeonato mundial de Sub-21, com
a Igreja a rivalizar quem leva mais jovens ao luso rectângulo, recém-instalado
no Parque Tejo?
Deixando a resposta para outra reflexão, importa considerar os conteúdos que a JMJ traz para o grande cartaz
promocional: a logística, os palcos, o trânsito, a segurança, o milhão de ‘peregrinos-turistas’,
os mil bispos, os padres, as freiras, os cardeais, os paramentos, os 150 confessionários,
o cadeiral para tantos consagrantes e, no topo, …o Papa!
É caso para uma outra questão: Neste Grande Teatro do Mundo, onde estão os
protagonistas, ou, melhor quem são os protagonistas?...Por outras palavras, que
lugar ocupam os jovens, além de figurantes, peças de xadrez, degraus de cena
para alcandorar aos ombros e promover generais eclesiásticos, marechais da
Nação?!
Suponho ter sido esta a preocupação do abalizado jornalista do Sete
Margens,António Marujo, ao trazer para o grande público seis programas
televisivos, (RTP) sob o expressivo genérico Crandes Esperanças, nas
tardes de Domingo. Até que enfim, os jovens ocupam a centralidade de um palco
que é seu. que lhes pertence como inspiração originária, motivação e, sobretudo,
desenvolvimento futuro, visto que será
deles o mundo de amanhã e deles dependerá a marcha da humanidade. Até porque,
conforme anunciado pelo líder da organização, a JMJ, sendo de iniciativa
católica, está aberta a todos os jovens, de todas as nacionalidades e todos os
credos.
Assim se apresentaram as Grandes Espperanças, com três jovens em
cena, um deles muçulmano da Guiné Conakry. António Marujo espelhou aqui pela
voz dos jovens (e certamente nos restantes programas) uma visão planetária sobre
Guerra e Paz - o tema proposto – a
abrangência ecuménica do magno acontecimento. Parabéns, por isso.
Para lá das etapas preparatórias de cada região ou país, este programa vem
recentrar a essência e os objectivos da genuína JMJ. A não perder!
Na minha interprnetação, ultrapassado está o equívoco em epígrafe. Não é a
JMP – Jornada Mundial do Papa ou de Portugal, como querem alguns – mas a auspiciosa
alvorada dos jovens para um Mundo Melhor!
11.Jul.23
Martins Júnior
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