terça-feira, 4 de julho de 2023

NO RESCALDO DO ACHAMENTO DA ILHA: ISABEL DA JUDEIA, ISABEL DE PORTUGAL

                                                                           


         

Início de férias, tempo de viajar – para a maioria de todos nós, viajar cá dentro – não apenas territorialmente, mas sobretudo culturalmente, acrescentando valor ao espírito e saúde ao corpo, pressuposto que no móbil de todos os roteiros figura sempre o princípio cartesiano da dúvida metódica, também traduzida pelo impulso da curiosidade positiva.

Nem de propósito! Uma questão que surgiu no agorá do convívio vicinal consiste em saber de que Isabel estamos a falar: se daquela judia, que foi mãe de João, o Baptista que percorria as margens do rio Jordão, se da outra, a Isabel aragonesa, que foi casada com o rei  D, Dinis.

Na raiz deste binómio qual será a razão do problema em causa?

Primeiro, porque é neste início de Julho que os dois homónimos vivem lado-a-lado, evocados festivamente: Isabel, mãe do Precursor Baptista, em 2 de Julho e Isabel, a Rainha Santa, em 4 de Julho.

Segundo, porque os cronistas do Reino, ao narrarem o Achamento da Ilha, são unânimes em afirmar que foi “em um domingo, 2 de Julho, Dia da Vsitação de Santa Isabel”, que as naus de Tristão e Zargo aportaram ao Cais do Desembarcadouro, na baía de Machico.

Terceiro, porque entre a Isabel bíblica, casada com Zacarias Profeta, e a Isabel, esposa de D. Dinis, distam 13 séculos: a primeira do ano zero da nossa era, a segunda do ano 1271, data do nascimento, falecida em Coimbra no dia 4 de Julho de 1336.

Está, pois, deslindado o enigma. A Santa Isabel referenciada nas crónicas refere-se à histórica visita quando Maria, a futura mãe de Jesus, uma jovem de 16 anos de idade, saíu da sua cidade e “dirigiu-se apressadamente à montanha”, onde vivia sua prima que, não obstante a  provecta idade, estava grávida.   permaneceu Maria durante três meses, ajudando Isabel nas tarefas inerentes a uma improvável maternidade, mas que veio a concretizar-se com o nascimento de  João Baptista, Assim falam os evangelistas.

São notórias as discrepâncias entre uma e outra. Isabel de Zacarias, mulher identificada com o povo, isolada na ruralidade mais profunda, Isabel de D. Dinis, a aristocrata, matrona de Palácio Real. Uma, a desconhecida da cidade. Outra, a famosa, celebrizada pelo ‘Milagre das Rosas’. Ambas, porém, aproximadas no bem--fazer,  gémeas na solidariedade humana, aquela em dar ao mundo o Precursor, esta em sintonia com os desprotegidos famintos que proporcionaram transformar rosas em pão para o corpo e conforto para a alma.

Para as duas Santas, na mesma ara da história, a nossa homenagem, sendo certo que aquela que nos diz respeito é a mais antiga, a Isabel bíblica, tal como Machico é a Capitania Primeira da Madeira, desde 8 de Maio de 1440.

 

03-04.Jul.23

Martins Júnior

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