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de férias, tempo de viajar – para a maioria de todos nós, viajar cá dentro –
não apenas territorialmente, mas sobretudo culturalmente, acrescentando valor
ao espírito e saúde ao corpo, pressuposto que no móbil de todos os roteiros figura
sempre o princípio cartesiano da dúvida metódica, também traduzida pelo impulso
da curiosidade positiva.
Nem
de propósito! Uma questão que surgiu no agorá do convívio vicinal consiste
em saber de que Isabel estamos a falar: se daquela judia, que foi mãe de João,
o Baptista que percorria as margens do rio Jordão, se da outra, a Isabel aragonesa,
que foi casada com o rei D, Dinis.
Na
raiz deste binómio qual será a razão do problema em causa?
Primeiro,
porque é neste início de Julho que os dois homónimos vivem lado-a-lado,
evocados festivamente: Isabel, mãe do Precursor Baptista, em 2 de Julho e
Isabel, a Rainha Santa, em 4 de Julho.
Segundo,
porque os cronistas do Reino, ao narrarem o Achamento da Ilha, são unânimes em
afirmar que foi “em um domingo, 2 de Julho, Dia da Vsitação de Santa Isabel”,
que as naus de Tristão e Zargo aportaram ao Cais do Desembarcadouro, na baía de
Machico.
Terceiro,
porque entre a Isabel bíblica, casada com Zacarias Profeta, e a Isabel, esposa
de D. Dinis, distam 13 séculos: a primeira do ano zero da nossa era, a segunda
do ano 1271, data do nascimento, falecida em Coimbra no dia 4 de Julho de 1336.
Está,
pois, deslindado o enigma. A Santa Isabel referenciada nas crónicas refere-se à
histórica visita quando Maria, a futura mãe de Jesus, uma jovem de 16 anos de
idade, saíu da sua cidade e “dirigiu-se apressadamente à montanha”, onde vivia
sua prima que, não obstante a provecta
idade, estava grávida. Aí permaneceu Maria durante três meses, ajudando
Isabel nas tarefas inerentes a uma improvável maternidade, mas que veio a
concretizar-se com o nascimento de João
Baptista, Assim falam os evangelistas.
São
notórias as discrepâncias entre uma e outra. Isabel de Zacarias, mulher identificada
com o povo, isolada na ruralidade mais profunda, Isabel de D. Dinis, a
aristocrata, matrona de Palácio Real. Uma, a desconhecida da cidade. Outra, a famosa,
celebrizada pelo ‘Milagre das Rosas’. Ambas, porém, aproximadas no bem--fazer, gémeas na solidariedade humana, aquela em dar
ao mundo o Precursor, esta em sintonia com os desprotegidos famintos que
proporcionaram transformar rosas em pão para o corpo e conforto para a alma.
Para
as duas Santas, na mesma ara da história, a nossa homenagem, sendo certo que aquela
que nos diz respeito é a mais antiga, a Isabel bíblica, tal como Machico é a Capitania
Primeira da Madeira, desde 8 de Maio de 1440.
03-04.Jul.23
Martins
Júnior
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