Propositadamente
uni a ponte dos pilares ‘Ímpares’, entre 11 e 13, porque o que tinha escrito
para o dia 11 estende-se como um todo contínuo e renasce das fontes do dia 13.
Refiro-me aos melhores conteúdos do
Papa Francisco na JMJ e que tiveram retumbante sucesso dentro e fora dos pomposos
hectares em que se desenrolou o megaevento.
Faço-o, sobretudo, para poder interpretar e contrapor as teses supostamente
dogmáticas daqueles que atribuem ao actual Chefe da Igreja um acentuado ‘deficit’
de conhecimentos teológicos, acusando-o de ligeireza na hermenêutica bíblica e
até de heresia e apostasia, na opinião de bispos e cardeais da Cúria Romana e
da América do Norte.
Começando pela forma, Francisco Papa
usa um tom coloquial, próximo dos interlocutores, sem nunca recorrer aos
artifícios tonitruantes da retórica dos oradores da praça sacra. Ora, quem consultar
o texto que hoje é lido em todos os templos católicos de todo o mundo, verificará
que “não é no furor altissonante do vento, no ímpeto destruidor do terramoto,
nem na explosão do fogo devorador que Deus se manifestou a Elias, mas sim na brisa suave’ que se fez no
terreiro da cabana onde se encontrava o Profeta. (I Livro dos Reis, 19, 9
sgs.). O tom da voz do Sumo Pontífice não é do inquisidor justiceiro,
arrasador. É a expressão do amor materno quando se dirige ao filho transviado
ou à filha amargurada.
Quanto ao fundo essecial da sua
mensagem, não tem outro caminho senão o de um pai esclarecido que acende no espírito
do adolescente a chama do ânimo personalizado, a coragem de enfrentar os
desafios da vida: “Não tenhas medo”. Há mais de dois mil anos, Alguém
nos confins da Palestina e em plena e agitada tempestade do Mar de Tiberíades bradou
aos pescadores transidos de medo dentro de um barco a naufragar. “Não tenham
medo. Eu estou aqui”. É este também o apelo do Nazareno, lido hoje, dia 13,
urbi et orbi, narrado no LIVRO, Mateus, 14, 23-33).
Para os supostos intelectuais da Fé,
carcereiros do Dogma, prefeririam discursos inflamados, tiradas proclamatórias,
nefelibatas de uma crença que se rebola dormente nas nuvens de incenso e ascese
quase autista. Contra esse código de distância pseudo-sagrada, imposto pelo
sectarismo do Templo de Jerusalém, insurgiu-se
o Mestre da Galileia e, por isso, não descansaram os Sumos-Sacerdotes enquanto
não O liquidaram fisicamente. Revendo a ambiência e as mensagens do Papa
Francisco reconhce-se directamente a fisionomia de todos aqueles que, como
Jesus de Nazaré, desceram às profundezas do ser humano e aí,
personalizadamente, dava a cada um asas de subir e persistir na grande jornada
da Vida.
Um ligeiro pormenor, apenas: não havia
necessidade de ‘obrigar’ Jorge Bergoglio a alardear uma tão vasta cultura lusa,
que obviamente não tem, quando citou logo no primeiro discurso Camões, Pessoa,
Sophia de Melo e até Saramago. É por demais evidente que ele não tem tempo para
isso. Aquilo cheirou a outro perfume: o de dar a entender ao público português
que quem lhe escreveu o discurso foi o nosso Cardeal Tolentino Calaça Mendonça. Tudo bem,
mas a prova por excesso é tão frágil e ilusória como a prova por defeito.
11-13.Ago.23
Martins Júnior
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