domingo, 13 de agosto de 2023

NUM PLANETA JOVEM E NUM PAÍS ADOLESCENTE – UM PAPÁ QUE TAMBÉM É MAMÃ

                                                                   


        Propositadamente uni a ponte dos pilares ‘Ímpares’, entre 11 e 13, porque o que tinha escrito para o dia 11 estende-se como um todo contínuo e renasce das fontes do dia 13.

          Refiro-me aos melhores conteúdos do Papa Francisco na JMJ e que tiveram retumbante sucesso dentro e fora dos pomposos  hectares em que se desenrolou o megaevento. Faço-o, sobretudo, para poder interpretar e contrapor as teses supostamente dogmáticas daqueles que atribuem ao actual Chefe da Igreja um acentuado ‘deficit’ de conhecimentos teológicos, acusando-o de ligeireza na hermenêutica bíblica e até de heresia e apostasia, na opinião de bispos e cardeais da Cúria Romana e da América do Norte.

          Começando pela forma, Francisco Papa usa um tom coloquial, próximo dos interlocutores, sem nunca recorrer aos artifícios tonitruantes da retórica dos oradores da praça sacra. Ora, quem consultar o texto que hoje é lido em todos os templos católicos de todo o mundo, verificará que “não é no furor altissonante do vento, no ímpeto destruidor do terramoto, nem na explosão do fogo devorador que Deus se manifestou a  Elias, mas sim na brisa suave’ que se fez no terreiro da cabana onde se encontrava o Profeta. (I Livro dos Reis, 19, 9 sgs.). O tom da voz do Sumo Pontífice não é do inquisidor justiceiro, arrasador. É a expressão do amor materno quando se dirige ao filho transviado ou à filha amargurada.

          Quanto ao fundo essecial da sua mensagem, não tem outro caminho senão o de um pai esclarecido que acende no espírito do adolescente a chama do ânimo personalizado, a coragem de enfrentar os desafios da vida: “Não tenhas medo”. Há mais de dois mil anos, Alguém nos confins da Palestina e em plena e agitada tempestade do Mar de Tiberíades bradou aos pescadores transidos de medo dentro de um barco a naufragar. “Não tenham medo. Eu estou aqui”. É este também o apelo do Nazareno, lido hoje, dia 13, urbi et orbi, narrado no LIVRO, Mateus, 14, 23-33).

          Para os supostos intelectuais da Fé, carcereiros do Dogma, prefeririam discursos inflamados, tiradas proclamatórias, nefelibatas de uma crença que se rebola dormente nas nuvens de incenso e ascese quase autista. Contra esse código de distância pseudo-sagrada, imposto pelo sectarismo do Templo de Jerusalém,  insurgiu-se o Mestre da Galileia e, por isso, não descansaram os Sumos-Sacerdotes enquanto não O liquidaram fisicamente. Revendo a ambiência e as mensagens do Papa Francisco reconhce-se directamente a fisionomia de todos aqueles que, como Jesus de Nazaré, desceram às profundezas do ser humano e aí, personalizadamente, dava a cada um asas de subir e persistir na grande jornada da Vida.

          Um ligeiro pormenor, apenas: não havia necessidade de ‘obrigar’ Jorge Bergoglio a alardear uma tão vasta cultura lusa, que obviamente não tem, quando citou logo no primeiro discurso Camões, Pessoa, Sophia de Melo e até Saramago. É por demais evidente que ele não tem tempo para isso. Aquilo cheirou a outro perfume: o de dar a entender ao público português que quem lhe escreveu o discurso foi o nosso Cardeal Tolentino Calaça Mendonça. Tudo bem, mas a prova por excesso é tão frágil e ilusória como a prova por defeito.

 

          11-13.Ago.23

          Martins Júnior     

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