Sopro gigante do mar bravio
galgou a ribeira-rio
mordeu a encosta de amoras e espinheiros
e abraçou a Terra Seca
dos ilhéus primeiros
Aí nasceu
um tronco-Mulher
sabor ao sal marinho
e fescor do alto das montanhas
O apelo verde das alturas
E a vertigem azul de oceânicas lonjuras…
Um dia
o tronco fez-se ao largo, foi caravela
da Baía de Machim até à Torre de Belém
nas ondas revoltas o seu amor partiu e nela
rasgou-se a vela
quebrou-se o mastro onde brilhava o astro
de mais alto e mais além
Naufragar é preciso
para vencer toda a dor
e derrubar os tridentes do velho adamastor
Reergeu-se o tronco em alto-mar
refez-se a vela ensopada em sal amargo
mas o verde da montanha foi mais forte
fez-se de novo ao largo
e aos gemidos latentes da morte
com voz potente Ela bradou:
“Aqui estou
Tronco redivivo de Mulher
Sei para onde vou
E o que a minha alma quer”!
17.Ago.23
Martins
Júnior
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