terça-feira, 1 de agosto de 2023

NA APOTEOSE TOTAL, AS INCÓGNITAS DOS PROTOCOLOS

                                                                                 


 

Foi em Julho, transição para o Agosto promissor, que Lisboa viu largar as caravelas, desde Santa Maria de Belém, rumo às Índias do Preste João, de onde vieram as preciosas especiarias que fizeram da capital portuguesa o mais poderoso porto comercial da Europa e centro agregador da navegação estrangeira. Aconteceu em 1497.

Volidos cinco longos séculos, eis de novo Lisboa no centro do mundo e Belém cognominada “”Cidade da Alegria”. Invertem-se os factores geo-topográficos: quando antes se repetia que “todos os caminos vão dar a Roma”, agora  durante mais oito dias corrige-se o aforismo e sem risco de errar: “Todos os caminhos vão dar a Lisboa”. Não há quem aguente ‘impávido e sereno’ a euforia regurgitante que salta de centenas de milhares de jovens que tomam conta de Portugal e até nos fazem perguntar como é que a baixa ribeirinha de Lisboa não vai ao fundo com o peso mundial que lhe cai em cima.

O grande protagonista visível tem nome: Francisco Papa, que se apresenta como o PEREGRINO DA PAZ.

É plurissémica, universal e, por vezes, contraditória a nomenclatura sublime, quase sagrada atribuída ao apostólico Peregrino. E surgem, indistintamente, certas interpelações face ao multiforme ritual que o Protocolo lhe estabeleceu, talvez contra a mais intimista das suas convicções.

Entre muitas, há uma – nada despicienda - das questões, que se pode formular nestes termos.

Sendo o Papa, ‘Representante de Cristo na Terra’, Pontífice da Fé e Pastor de uma Confissão Religiosa, a Igreja, por que razão, chegando a Portugal e pisando a ´Terra de Santa Maria’, não se dirige prioritariamente à Sé Patriarcal, pelo contrário, os seus passos primeiros encaminham-se para Belém, não ao presépio do Menino Jesus, mas ao Palácio, onde mora o principal Magistrado da Nação, Chefe Supremo das Forças Armadas e Lídimo Intérprete da Política Portuguesa, Presidente da República, portanto, de um reino deste mundo ?!...

A pergunta toma outro volume e maior conotação, ao vermos anunciado publicamente que o Primeiro Ministro dirigir-se-á à Nunciatura Apostólica em Lisboa para apresentar cumprimentos ao Papa.

Quer num caso quer noutro, omitem-se os nomes dos titulares, apenas os cargos que ocupam, pela simples razão de que, fosse qual fosse a sua identificação pessoal e seja qual o país visitado pelo Papa de Roma, o Protocolo seria cirúrgica e rigorosamente o mesmo. Mais perto de nós, o Papa Bento XVI, visita ao Porto, encerrou a sua presença em solo português na espectacular varanda da Câmara Municipal.

Porquê?

Aos que monitorizam e se incomodam com este aparato contraditório –  reino espiritual versus reino temporal – a explicação reside na definição do estatuto do Sumo Pontífice de Roma. Ele próprio condensa em si mesmo a simbiose dos dois reinos: ao mesmo tempo que se apresenta como Sucessor de Pedro, o Pescador, Pastor da Igreja, ele está também investido do poder de Chefe de Estado do Vaticano.

Portanto, o Papa dará prioridade ao seu estatuto de Chefe de Estado e, logo ao desembarcar em  Figo Maduro, tem obrigatoriamente marcado o rumo directo a Belém. Por seu lado, a ida do Primeiro Ministro à Nunciatura tem uma justificação óbvia: a Nunciatura Apostólica é a sede da Embaixada do Estado do Vaticano em Portugal.

Para os mais curiosos, no seu legítimo direito de serem informados, aqui ficam em termos simplistas as razões – com ou sem razão! – dos primeiros passos de Francisco Papa em Portugal.

 

31Jul-1Ago.23

Martins Júnior    

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