quinta-feira, 10 de agosto de 2023

QUANTOS NOMES TEM O ÓPIO DO POVO ?!...

                                                                    


Não sou infodependente, mas confesso a minha paixão pelos jornais, mais que pela rádio e televisão. Nacionais ou estrangeiros, de todo o formato,, atiro-me instintivamente ao papel volátil, sobretudo os seus cartoonista  e colunistas – mesmo os que detesto pela sua linha editorial e são os que mais leio.

Embora sabendo que, como Charles Peguy, “o jornal de ontem já é mais velho que a Odisseia de Homero”, aprecio a originalidade, a paginação, os cambiantes gráficos (porque por aí também se vêem o  dedo e a pegada ideológica do director ou do proprietário/dono do jornal e dos jornalistas) cultuo, como um privilégio,  a criatividade  linguística, de acentuada tez semântica, tal como lobrigo a olho nu a mediocridade, as fake news, as omissões estratégicas, o desrespeito pelo público.

Apraz-me relevar hoje a manchete de um periódico português que reza assim: “O ÓPIO DO POVO ESTÁ DE VOLTA”.

Ainda na ressaca optimista da JMJ, com o milhão e meio de peregrinos em êxtase diante do Papa, seríamos levados a interpretar aquele título como o eco luso do alemão Karl Marx: “A Religião é o Ópio do Povo”. Pura ilusão! A gravura que ilustra a engenhosa e peregrina manchete – Eusébio, Peyroteu, Pavão – diz tudo: é o futebol que está de volta. E aqui a metáfora não tem outro sinónimo senão o de ópio, droga, estupefaciente!

            E o mais revelador de todo este epifenómeno é que não se trata de uma ficção nem da mais esotérica virtualidade, pelo contrário, é a realidade nua e crua. Nem de propósito: as imagens do Benfica-Porto de hoje, em Aveiro, provam-no à saciedade.

            Prescindindo de grandes elucubrações psicanalísticas, o diagnóstico é a evidência: a multidão precisa de “ópio”, venha ele donde vier. Porque a multidão é mais, muito mais que a soma das partes que a compõem. É outro o seu ADN. E o combustível que a alimenta não se compadece com a serenidade vigilante de critérios objectivos. Exige uma vaga de fundo, avassaladora, que toque mais a emoção que a razão , uma espécie de furacão pentecostal que hipnotize a multidão e a varra para onde quer que seja. Ontem e hoje a religião, ontem e hoje o futebol, hoje e amanhã a campanha eleitoral, amanhã e depois a Inteligência Artificial, a voragem publicitária. Afinal, que somos nós senão ridículas marionetes nos dedos ossudos de ‘regies’ invisíveis?!

            Felizes aquelas e aqueles que dizem NÂO aos instintos gregários do rebanho e mantêm-se imunes ao ópio das multidões.

            Lembro José Régio, parafraseando o seu Cântico Negro: Poderei até não saber parra onde ou, mas “Sei que Não Vou por Aí”!

 

            09-10.Ago.23

            Martins Júnior        

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