“Haja alegria e animação” – pego neste refrão dos arraiais populares regionais em todas as festas da Senhora - mais notório neste 15 de Agosto – e quero encaixá-lo antes e depois do arrazoado que me propus apresentar-vos hoje. Faço-o, porque são indissociáveis os impulsos simultâneos da Fé e da diversão dos festejos sacro-profanos dos povos latinos. Mesmo que vestida de amargura, de semblante dolorido, inconsolável, lá vem esta semana a “”Senhora da Agonia”, de Viana do Castelo, em cuja celebração as manifestações mundanas, desde as folclóricas às mais sofisticadas, ultrapassam as de carácter religioso. Assim, entre nós, ilhéus.
Chamam-lhe, ao 15 de Agosto, o Dia das
Sete Senhoras, tantos quantos os seus solenes festejos na Madeira e no Porto
Santo. Mas quem contasse os santuários, ermidas, capelas e altares encontraria
as Mil Senhoras e muitas mais. Para cada
entorse orgânico ou psíquico, lá está Ela incrustada na alma do crente e na parede da casa: a das Lágrimas e a da
Alegria, a da Saudade, a dos Paralíticos, a dos Aflitos, a do Amparo. Para cada
profissão, há a sua mão protectora, caso da Senhora dos Navegantes. Para cada
lugar e cada país, Ela é puxada e repuxada para ser entronizada entre bandeiras
patrióticas, a da Aparecida, a da Guadalupe e a nossa Fátima, que toma o nome
da filha de Maomé, topónimo dado pelos muçulmanos quando ocuparam aquela parcela do território
português. E, para nós, madeirenses, a Senhora do Monte, único título dado em
todo o mundo a Maria, Mãe de Jesus.
Têm ainda dourado baldaquino aquelas
Senhoras que, por inerência nacional e por alheia apetência calculada, ganham o direito à escolta dos notáveis do
reino, da região, do concelho, da junta, da aldeia. Ei-los, no cortejo
processional, perfilados, altivos como círios sem pecado nem culpa.
A Senhora – que é uma e única – não tem
mãos a medir para transmutar-se nas mil dobragens e encenar correctamente os
mil papéis que os crentes lhe inventaram. São mil as fés, mil de milhões de
fés. O Nazareno Taumaturgo àqueles que se achavam curados, nunca disse: “Fui eu
que te curei”. Pelo contrário, reafirmava sempre: “Foi a tua fé que te curou,
que te salvou”!
E a mesma sintomatologia se observa entre
os devotos e as miríades de Marias a quem se dirigem. Quem recorreu à Senhora
da Piedade tem a fé de que ela é mais poderosa que a Senhora das Dores. E quem
pôs a vela no altar da Fátima crê firmemente que ela é mais sensível e generosa
que a Senhora do Loreto. E quem escolheu a do Loreto não tem dúvidas de que
quem lhe fez o ‘suposto’ milagre foi esta e não a de Fátima. Multipliquemos a
equação.
E
quanto à Senhora do Monte ou das Babosas, onde estaria Ela que não susteve o
carvalho assassino? Ela que se compadece de um braço partido ou uma enxaqueca
irritante (e por isso recebe a respectiva paga) como permitiu a morte de 13 (treze)
vítimas inocentes que ali vieram “pagar a promessa” … a promessa de uma morte
repentina?!... Para aquelas e aqueles que a acham Mãe solícita e benfazeja, treze
cadáveres caídos no Largo do Monte (não foi na Ucrânia) nada lhes dizem? No dia
em que ali vieram só para saudá-la e gratificá-la?!...
Que
poder é esse, Senhora?...
No
Dia das SETE SENHORAS, das centenas, milhares vezes sete Senhoras, uma pergunta
impõe-se: “Que nos quererá ter dito a Senhora do Monte com a tragédia de 15 de
Agosto de 2017 ?...
Para
que tudo não fique reduzido a folclore !!!
15.Ago.23
Martins Júnior
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