terça-feira, 15 de agosto de 2023

O DIA DAS MIL SENHORAS… E DAS MIL FÉS, UMA POR CADA UMA!

                                                                            


    “Haja alegria e animação” – pego neste refrão dos arraiais populares regionais em todas as festas da Senhora - mais notório neste 15 de Agosto – e quero encaixá-lo antes e depois do arrazoado que me propus apresentar-vos hoje.  Faço-o, porque são indissociáveis os impulsos simultâneos da Fé e da diversão dos festejos sacro-profanos dos povos latinos. Mesmo que vestida de amargura, de semblante dolorido, inconsolável, lá vem esta semana a “”Senhora da Agonia”, de Viana do Castelo, em cuja celebração as manifestações mundanas, desde as folclóricas às mais sofisticadas, ultrapassam as de carácter religioso. Assim, entre nós, ilhéus.

          Chamam-lhe, ao 15 de Agosto, o Dia das Sete Senhoras, tantos quantos os seus solenes festejos na Madeira e no Porto Santo. Mas quem contasse os santuários, ermidas, capelas e altares encontraria as Mil Senhoras  e muitas mais. Para cada entorse orgânico ou psíquico, lá está Ela incrustada na alma do crente  e na parede da casa: a das Lágrimas e a da Alegria, a da Saudade, a dos Paralíticos, a dos Aflitos, a do Amparo. Para cada profissão, há a sua mão protectora, caso da Senhora dos Navegantes. Para cada lugar e cada país, Ela é puxada e repuxada para ser entronizada entre bandeiras patrióticas, a da Aparecida, a da Guadalupe e a nossa Fátima, que toma o nome da filha de Maomé, topónimo dado pelos muçulmanos  quando ocuparam aquela parcela do território português. E, para nós, madeirenses, a Senhora do Monte, único título dado em todo o mundo a Maria, Mãe de Jesus.

 

          Têm ainda dourado baldaquino aquelas Senhoras que, por inerência nacional e por alheia apetência calculada,  ganham o direito à escolta dos notáveis do reino, da região, do concelho, da junta, da aldeia. Ei-los, no cortejo processional, perfilados, altivos como círios sem pecado nem culpa.

          A Senhora – que é uma e única – não tem mãos a medir para transmutar-se nas mil dobragens e encenar correctamente os mil papéis que os crentes lhe inventaram. São mil as fés, mil de milhões de fés. O Nazareno Taumaturgo àqueles que se achavam curados, nunca disse: “Fui eu que te curei”. Pelo contrário, reafirmava sempre: “Foi a tua fé que te curou, que te salvou”!

          E a mesma sintomatologia se observa entre os devotos e as miríades de Marias a quem se dirigem. Quem recorreu à Senhora da Piedade tem a fé de que ela é mais poderosa que a Senhora das Dores. E quem pôs a vela no altar da Fátima crê firmemente que ela é mais sensível e generosa que a Senhora do Loreto. E quem escolheu a do Loreto não tem dúvidas de que quem lhe fez o ‘suposto’ milagre foi esta e não a de Fátima. Multipliquemos a equação.

E quanto à Senhora do Monte ou das Babosas, onde estaria Ela que não susteve o carvalho assassino? Ela que se compadece de um braço partido ou uma enxaqueca irritante (e por isso recebe a respectiva paga) como permitiu a morte de 13 (treze) vítimas inocentes que ali vieram “pagar a promessa” … a promessa de uma morte repentina?!... Para aquelas e aqueles que a acham Mãe solícita e benfazeja, treze cadáveres caídos no Largo do Monte (não foi na Ucrânia) nada lhes dizem? No dia em que ali vieram só para saudá-la e gratificá-la?!...

Que poder é esse, Senhora?...

No Dia das SETE SENHORAS, das centenas, milhares vezes sete Senhoras, uma pergunta impõe-se: “Que nos quererá ter dito a Senhora do Monte com a tragédia de 15 de Agosto de 2017 ?...

Para que tudo não fique reduzido a folclore !!!

 

          15.Ago.23

          Martins Júnior

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