Acontece
no entroncamento onde se juntam o fim de uma sema semana e o início de outra: a
passagem do LIVRO, desta vez coincidente com a evocação de uma personalidade
histórica, nascida em 1295, cujo culto difundiu-se largamente em França (Montpellier,
sua terra natal), Itália, Brasil, Lisboa e, mais perto de nós, Açores e Madeira:
São Roque.
A convite do pároco de São Roque do Funchal, Padre José
Luís Rodrigues, usei da palavra na solene cerimónia litúrgica da festa do Orago
da freguesia. É deste acervo didático-celebrativo que recorto aqui breves
tópicos, contracenando-
-os com os textos que
hoje são lidos a todo o orbe
Claudicada
seria qualquer referência ao jovem de Montpellier sem recorrermos ao ‘Imperador
da Língua Portuguesa’, Padre António Vieira, que nos deixou quatro famosos “Sermões”,
ao seu estilo super-exemplar da oratória sacra, sobre São Roque. Por isso que
não é tarefa de superfície tocar ou dissertar sobre o Patrono da freguesia, Co-Padroeiro
do Funchal conjuntamente com São Tiago Menor e Primeiro Padroeiro de Machico,
por decisão do Município, “desde a era de 1728, em que a peste afligiu esta
ilha da Madeira” ( Anais do Mnicípio da antiga vila de Machico, pag.168).
Na
centralidade de tão propalado culto está o atávico ‘instituto’ – para uns realidade
divina, para outros puro mito oriundo do medo e da fragilidade humana – a que
chamamos Milagre. A criatividade cultual dos crentes atingiu patamares imaginativos
tais que até catalogou ‘especialidades milagrosas’ para cada Santo: a uns, as
doeças pulmonares, a outros as ósseas e cardíacas, a outros as mazelas oculares e otorrino. Há também os ‘especialistas’
para as diversas idades e profissões. São Roque foi proclamado patrono dos cirurgiões
e, por inerência, o grande protector nas epidemias, historicamente contra a
peste bubónica na Europa e nas ilhas, com maior incidência no Funchal e em
Machico.
O
Milagre!... Devo confessar que sempre me intrigou o quase-dogma de que o Deus
Criador intervém directamente na obra da criação, um Deus ex-máquina, um
Deus-Bombeiro, um Deus-Supervisor-Programador justo e atento. Sobretudo, a
partir da manhã de 15 de Agosto de 1967, quando saímos de Mocímboa da Prais, em
Cabo Delgado, rumo a Nambude: a viatura onde pretendia seguir viagem (por sugestão
do comandante da coluna militar, mudei para outro ‘unimog’), passados uns 60
minutos, vi apavorado a dita viatura ‘voar’ pelos ares incendiada por uma
enorme mina anti-carro escondida na picada. Levantá-los do meio da floresta,
atirá--los para dentro da ‘berlié’, sepultá-los – onze covas! – abalou-se-me o
peito e atónito interroguei-me: “Porquê eles e não eu?”, alguns deles casados,
com filhos, outros deixaram crianças na barriga da esposa, as mães deles
certamente rezaram e fizeram promessas à Senhora de Fátima para que voltassem à
terra, vivos e sãos. Porquê eles e não eu?”.
Não há explicação atendível!... A vida é um bem precioso e único para
todos e cada um!
É
nas situações de dependência e absoluta fragilidade que entra Sua Divindade o
Milagre – que mais não é que o nosso desejo projectado para outrem, concreto,
tangível, mas sobretudo esotérico, invisível, supra.terrestre.
Porque
o caso é demasiado profundo e longo, deixarei para o próximo dia o seu
desenvolvimento, dentro de duas vertentes incontornáveis, já afloradas nestes
textos. Primeiro: Jesus, o Taumaturgo da Galileia, nunca disse a nenhum dos
bafejados pela cura: “Fui que te curei”. Segundo: São Roque, diz a história, realizou
muitas curas, interpretadas como milagres, por meio do bisturi que levou
consigo na viagem de Montpellier a Roma.
17-18.Ago.23
Martins
Júnior
https://www.facebook.com/domingosperestrelomadeira/videos/314021691087411/
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