Se a História se faz de
encontros e desencontros, não podia deixar passar este dia 19 de Maio sem
colocar num mesmo trono ou num mesmo altar duas figuras tão pares e gémeas nos
papéis que desempenharam e, paradoxalmente, tão
desalinhadas e ímpares no tecido normal das instituições, mui
particularmente da instituição a que presidiram. Separa-os a “módica” distância
de 721 anos. Ambos alcançaram a suprema tiara papal e ambos beberam do mesmo
cálice da mais vil traição, quedando-se, frágeis e destruídos, às mãos dos seus
mais próximos “cortesãos”.
Esta é apenas mais uma página,
tirada à moda antiga, a papel químico, dos arquivos secretos do Vaticano. Em
dois breves parágrafos:
1. Pedro Celestino era um beneditino
monge rural, sumido numa caverna do Monte Morone. O trono papal estava vago. Em
dois anos de conclave, com apenas 12 cardeais eleitores, não houve acordo na
votação. Motivo: as tremendas e ambiciosas lutas entre as duas linhagens rivais
da nobreza italiana --- os Orsini e os Colonna --- cujos familiares cardeais
cobiçavam a cadeira de Pedro. Até que venceu o mais forte, Carlos I de Anjou,
rei de Nápoles. Foram buscar à montanha o velho frade, de 84 anos de idade, o
qual, visivelmente contrafeito, foi obrigado a ocupar o trono pontifício, sob o
nome de Celestino V, em julho de 1294.
Entretanto, o astuto cardeal Benedicto Caetani, promotor da causa, mas
subversivamente candidato ao lugar, organizou tal cerco persecutório ao
velhote que este, impotente e sem
vocação para o cargo, decidiu fugir de novo para a antiga caverna de onde
viera. Benedicto Caetani, porém, e o seu
bando político-cardinalício, temendo que o fossem buscar de novo, encarcerou-o,
enquanto montava o maquiavélico plano de assassiná-lo. Cinco meses durou o pontificado de Celestino V, entre julho e dezembro do mesmo ano. Oito dias depois, subia ao trono papal o mesmo
mafioso cardeal Caetano, com o nome de Bonifácio VIII.
2. Em 2005, é eleito em Roma, Bento XVI,
um exemplar da intelectualidade quase monástica, mas frágil e sem intuição
pragmática para o cargo Os seus mais próximos, os cardeais, serventuários da
banca, da corrupção e da degenerescência moral, ao ver-se acossados pela
vigilância pontifícia, moveram-lhe
ciladas e angústias tais que o homem, já com 86 anos, desistiu, desertou,
vítima dos “lobos do Vaticano”.
Não
são necessárias mais testemunhas. O enigma está decifrado: Bento XVI tem mais
de 700 anos. Tem tantos séculos quantos o velho monge beneditino, mais tarde
canonizado Pedro Celestino, cujo dia a Igreja Católica hoje lhe dedica. Ambos
foram traídos pela corte que os rodeava. Podem colocar-se, lado a lado, no
mesmo trono ou no mesmo altar.
Tem
sido este, tracejado de cíclicas excepções , o enrolado sudário vermelho de uma
hierarquia usurpadora do nome do
Nazareno. Não concebo como se sentem em paz consigo próprios, os
generais da cúria, os embaixadores papais, os brasonados eclesiásticos, de
feminis e douradas gargantilhas ao peito, revestidos da púrpura do avarento do
Evangelho, indiferente às chagas do pobre Lázaro, e de sobrepeliz rendilhada
por costureiros da mais fina “lingerie” mundana. Tão fina quanto ridícula e
contraproducente!
Um
grito final: Não deixemos que prendam jamais nas teias da máfia romana o Grande
Libertador, Francisco Papa, apostólico “varredor”
das lixeiras em que trazem triturados os crentes que aspiram à Luz!
19.Maio.2015
Martins Júnior
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