Sei,
como se estivesse a ver, que a sobremesa que hoje vos trago talvez não faça
parte do menu do nosso melhor apetite. Porque preferimos encher os olhos de
novos figurinos na “passerelle”, aguardando sempre o que vem a seguir. Mas o
tema de hoje é de quem não se contenta com “ver a banda passar”. Nem com o desfile de exóticos manequins. Pelo contrário, trata-se de fixar a
síntese essencial no meio do turbilhão mais ou menos folclórico das sucessivas
modas que nos divertem.
Lembram-se
do espectáculo em cena durante três anos de anúncios publicitários, enormes
cartazes nas torres das igrejas, entrevistas de gente grada, tudo para entrar
na ribalta um velho de longas barbas brancas denominado “Congresso dos 500 anos
da Diocese do Funchal”, em 2014 ? E as míticas sumidades do intelecto e da
catolicidade que viriam transformar a
ilha no areópago da capital mundial da
lusofonia cristã, levantando ao alto a Diocese-Mãe, prolifero seio de todas as cristandades a descobrir no aquém e além mar! E a roda viva na cidade, entre a Reitoria da
Universidade, a Igreja dos Jesuítas, o Teatro Municipal, a Sala de Congressos
do casino, a todo o vapor, animado até
pela avalanche dos professores e professoras dispensados das aulas pelo governo
regional!
E
o que ficou, o que irá ficar de tanta azáfama de pôr a cidade à roda?... Para
responder, recordo e recorto a mesma pergunta
feita pelo Rev. Dr. Rui Osório,
no “Jornal de Notícias” do Porto, aquando
da triunfalista embaixada de 300 jovens
portugueses ao Congresso Internacional
da Juventude no Brasil em 2013. Nada, além do espectáculo!
Aqui,
porém, os encenadores comprometeram-se a fixar em livro a épica narrativa, a
qual, segundo o porta-voz secretário do bispo, apoiado no presidente das
comemorações, Prof. Eduardo Franco, veria
a luz do dia no “período recorde de três meses”, isto é, em Dezembro de
2014. Fomos aguardando, de 2014 para 2015, do Natal para a Páscoa, da Páscoa,
certamente até ao verão, enfim, já lá vão oito meses de expectativa.
Não
está em causa a maior ou menor morosidade no cumprimento da espectacular promessa, até porque o mesmo
presidente tem em cima dos ombros a publicação do encomiástico Dicionário da
Madeira. Pela minha parte, estou ansioso
pela publicação, mesmo que serôdia, das “Actas do Congresso”, até para
confirmar (ou não) o que me foi dado observar durante as múltiplas sessões,
algumas delas mais apropriadas para a Feira do Livro (que, coincidentemente,
decorria nesta cidade) e ver em letra
irrevogável a conclusão a que cheguei: O Congresso não foi dos 500 anos, mas
dos 400 ou mesmo 300 anos da Diocese, tal a preocupação de fixarem-se as
dissertações nos séculos distantes da realidade mais próxima da história da
Diocese, com a premeditada e notória
imposição de fugir às questões de um passado mais ou menos recente, como a degradante reedição da “Santa Aliança” entre Governo e Igreja, antes e depois do “25
de Abril” na Madeira.
Disse que nada me incomoda a morosidade da
publicação. O que mais confrange é
constatar que uma hierarquia, supostamente representativa de uma “Igreja em
Missão” e que se quer ponderada e séria, se deixe enrolar na vertigem dos fogos
fátuos das organizações-empresas mundanas, auto-iludindo-se com os foguetes do
arraial publicitário e das lantejoulas carnavalescas no cortejo da Santa Madre
Igreja de Cristo! Quando se fizer o historial indesmentível da Diocese, quem
sabe se tudo não se reduzirá a uma sofisticada feira de vaidades, bafios
fiteiros para encobrir vazios malcheirosos ou, pelo menos, inúteis. E numa “Igreja
em Missão”, a inutilidade é traição ao Cristo dinâmico, transformador da
História.
Venham
daí as “Actas do Congresso”! Mui gratos ficaremos.
11.Maio.2015
Martins Júnior
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