No "Dia do Beijo" gratuito e necessário. E
dentro da Festa da Flor
Quanto a
amei
Amei-a
fora da lei
Dos
códigos cifrados que a cidade tece
Amei-a
Como na
selva se ama
Deitei-a
no chão-cama
Do meu
terreiro
E o terro
da cor do castanheiro
Ficou
palácio real
Só porque
nele eras rainha
Fiz-te
lençóis de água cantante
E tornei-me
fiel escudeiro
Contra
invasoras hostes do levante
Cresceste
com beijos coloridos
A todo o
viandante
Que
passasse
E
ensinaste
Que sempre
o amor puro dá-se
De pronto
e de graça
Ao
caminheiro sedento que passa
E tu eras
assim
Pródiga e
frágil
Vestida
da nudez clara do meu jardim
À tua
mesa
Vinham
esvoaçando de êxtase
Asas de
seda e framboesa
Beber o
mel da tua boca
O sumo perfumado
da corola
Porque terra
mar e céu
Moravam
todos
No teu
secreto gineceu
Até que
um dia te levaram
Vi-te no
empedrado e nos salões
Prisoneira
de olhos estranhos e mãos-cifrões
Vi-te
estendida morta
Cobrindo a
laje
Das vítimas
caídas diante dos canhões
Vi-te
pisada
Pelo
sardanapalo calçado de verniz
De quem
se diz
Trazer os
pés sofridos do Crucificado
Triste
sorte
A flor de
sua sina
Bela
intocada virgem-menina
Espera-a
a prematura morte
No rude
corte
De mão
assassina
Ninguém
mais saberá dela
Da ametista
açucena, da orquídea estrela
Será talvez
a sua palma
Esse martírio
de alma
Errante no
parto condenada
Congénita
cigana
Sempre
aquela refugiada
Às mãos
de quem a prende e a engana
É a sua
epopeia
Por isso
amei-a
Com aquele
amor-primeiro
E só
queria vê-la beijá-la
No
chão-cama
Do meu
antigo terreiro
13.Abr.16
Martins Júnior
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