Por
mais vistosos ou sugestivos que fossem outros temas, nenhum deles poderia abafar neste dia o clamor
que irrompe das profundezas do mundo neste dia de Abril. Junto-me, pois, ao
coro gritante que os jornais, as TV’,s e as redes sociais levantam contra o
crime organizado dos malditos paraísos que um punhado de demónios escavou nos
subterrâneos do planeta. E faço-o, porque me estala a consciência a palavra de ordem,
tantas vezes proclamada: “Vimos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar”!
Todos
nós vimos, ouvimos e lemos a descoberta, talvez a maior até hoje nos “media”,
do tenebroso escândalo que dá pelo nome de Panama
Papers, esse memorável trabalho de jornalistas coligados, a nível
internacional, que durante quase um ano
investigaram, sob sigilo comum, a orgânica dos offshores naquele país. Milhões, biliões, fortunas sem rasto, filhos
de ventres incógnitos e herdeiros do sangue, suor e lágrimas dos pobres da
Terra! Tudo isso trancado em, para eles, paraísos e, para nós, infernos abrasadores!
Agora percebe-se aquela cruel equação que envergonha a condição humana: só 1%
da humanidade detém a riqueza do mundo, à custa dos 99% que dela carecem.
Remeto
os meus amigos para a comunicação social justa e competente, por onde ficamos a
saber os tais “herdeiros–donos disso
tudo”, desde reis e presidentes das nações, banqueiros, gestores, cineastas, deputados
e até futebolistas super-milionários. Tudo gente importante, gente “séria”, raça de
eleitos, ladrões de smoking envernizados,
a quem nos mandavam beijar as mãos e os pés. Oxalá
não apareçam sotainas de bispos e cardeais, embaixadores do Vaticano, o velho
Vaticano, aquele que antes de Francisco Papa lavava dinheiro sujo nas catacumbas
de Roma…
De um
único escritório de advogados – o Mossack
Fonseca – sediado no Panamá, surgiam e cresciam como cogumelos venenosos
empresas ocultas sem conto, que escondiam (e escondem) em cofres frigoríficos, tão gelados e insensíveis como
a consciência dos seus detentores, os corpos e até as almas dos que mourejam de
sol-a-sol, curvados sobre a terra, presos à penosa ferramenta do trabalho que
(talvez, alguns não) têm, enfim,
descapitalizam o erário público e obrigam os contribuintes indefesos a pagar
duros impostos. Só de Portugal saem dois milhões e meio por dia, a caminho de
bancas-fantasma.
É
insuportável conviver com os “jihadistas” do dinheiro. Em que difere o
sofisticado terrorismo capitalista,
agora posto a nu, do bárbaro terrorismo bombista de
Paris, Bruxelas, Madrid e quejandos? É com dinheiro dos offshores que se compram as armas assassinas. E são eles, os financiadores sem
escrúpulos, que sadicamente e
impunemente praticam o mais sangrento genocídio encapotado, em morte lenta, de pessoas e nações inteiras. Os autores da
lei são os autores do crime. Ainda por cima, alguns deles são considerados
beneméritos sociais, organizam promoções comerciais, oferecem donativos a
instituições… enquanto, á socapa e protegidos pela lei, furtam-se aos impostos
na sua pátria, ufanam-se de pagá-los noutros países onde lhes pinga mais doce o
“cacau”, enfim, outros até negoceiam drogas, recrutam combatentes e proxenetas,
traficam seres humanos. Que execranda, malfadada sorte nos coube! Em pleno
século XXI.
Não
haverá maneira de exterminar o crime organizado, falsamente legalizado? Vamos assistir indiferentes e enxutos a esta
contradição nuclear: enquanto os miseráveis migrantes refugiados de guerra
imploram uma nesga de paz na Europa, os multifundiários
da alta finança fazem vida de migrantes de luxo, saltitando de offshore em offshore conforme a avidez
dos seus apetites?!
Ninguém
encolha os ombros, julgando-se impotente. Primeiro que tudo, é preciso saber
disto, seguir a boa informação, conhecer os meandros dos terroristas
financeiros. Mesmo perto de nós. Ainda está por esclarecer cabalmente se aquele “negócio” da chamada Zona Franca e respectivo paraíso
fiscal , onde um escritório, sediado no Funchal, é susceptível de acolher ou
receptar dezenas e centenas de firmas, configurar-se-á (ou não) com outros Mossack
Fonseca em miniatura. Ainda está por saber se, com aquele empreendimento, ficaram os madeirenses a
ganhar ou a perder. Estaremos nós, a troco de tostões, dando passagem a contrabandistas que lucram
milhões? Fica no ar a grande incógnita.
Temos
também outra arma contra o banditismo legalizado: peguemos nela, aquando do
acto eleitoral, rejeitando os encobridores-legisladores do crime e votando
naqueles que proclamam a abolição dos paraísos fiscais, à escala mundial.
“Vimos,
ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar”!
O
editorial de Le Monde, pela mão de
Jerôme Fanoglio, classifica de vertige et nausée (vertigem e náusea)
esta torrente de dinheiro sujo, sem cuja
proibição jamais serão credíveis os programas governativos de qualquer país.
Entre nós, ocorre oportunamente recordar, para combate-los, Os vampiros que bebem o sangue fresco da
manada, Comem tudo e não deixam nada, repetindo Zeca Afonso, o precursor e
construtor do nosso Abril.
Contra
o genocídio encapotado e lento, contra a geo-corrupção, abrir os olhos e…
marchar, marchar!
05.Abr-16
Martins
Júnior
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