Em
fim de semana – e que semana! - o que apetece é respirar, estender corpo e alma
no chão da terra verde, ao gosto do “Guardador
de Rebanhos”. Mas nesta semana
exclamativa (!) também nos chega o eco perturbador do fim da “Mensagem” quando
Pessoa nos envolve no “nevoeiro”, não só do país mas do mundo à nossa volta,
acabando por constatar que “tudo é disperso, nada é inteiro”.
De
entre tantos, dois acontecimentos vieram toldar o pavilhão onde habitamos. Um,
o ensaio de bullying entre um par de adolescentes velhos, o ministro e o jornalista, tipo duelo de outras
eras, o qual ensaio, mesmo levado a sério, outra reacção não merece além de umas gargalhadas de caserna. O
certo, porém, é que a comédia dos brandos costumes acabou em naufrágio
ministerial. Mas o prometido “par de bofetadas”
é, não raras vezes, o receituário
recorrente - dito e não escrito – de muito
boa gente que por aí anda ou vegeta em palanques e carroças. Para nós,
madeirenses, nada de novo, já herdámos a cartilha de um “governador ”, tão hilariante
quanto perigoso. Muitos estalos foram dados na honra, na carreira e até no pão
de famílias e instituições, cujo único
crime foi o de exercer o seu direito de expressão. A aplicar a mesma sanção,
tentem contar quantas vezes ele e seus comparsas seriam demitidos. No entanto, aguentaram-no lá mais tempo que o
ditador-mór do velho regime português…
“Nada
é inteiro” nesta forma de habitar a terra. Oxalá, o recente bullying verbal dos rançosos litigantes
sirva para reaprendermos a ciência e a arte de sermos diferentes e até
adversários, mas nunca terroristas em “vias de facto”.
E
“tudo é disperso”! É o segundo acontecimento desta semana: os “Papéis do Panamá”.
O crime anda à solta, onde quer, como quer. E tudo abafado de gravatas e cortinas da mais fina sede. Que execráveis
trastes, esses traficantes nauseabundos!
Os chamados “golpes de mão” e os assaltos por esticão que enchem primeiras
páginas são puros eufemismos, comparados
aos piratas especuladores que por aí pululam espaventosamente diante dos nossos
olhos pálidos de tristeza e mesmo de fome, nalguns casos. Até quando?...
Lamentava-se, enfurecia-se anteontem um jornalista muito atento que passo a citar: “Jamais
haverá unanimidade entre países para acabar com os paraísos fiscais. Se há um
predador que desiste, há logo outro que toma o seu lugar”. Quando levantar-se-á
um povo, como o da Islândia, para apear do trono um alto presidente e bradar
que “o rei vai nu”? Ou como os britânicos que obrigaram Cameron a retratar-se,
confessando publicamente que também se serviu à mesma mesa dos “vampiros” dos offshores? E entre nós, os secos, os
doces e os salgados?!
“Tudo
é disperso, nada é inteiro”.
Por
entre o “nevoeiro” e no meio deste vulcão sobre o qual muitos de nós
inconscientemente navegamos, há sempre uma voz que se levanta, suave como a
brisa mas contundente como o trovão que limpa as estruturas do planeta: a voz
de Francisco Papa, quando anuncia que vai pessoalmente à Grécia proclamar na Ilha de Lesbos, mártir de mártires, que os
refugiados de guerra são vítimas do terrorismo financeiro personificado também,
dizem os comentadores, nos ditadores presidentes da Síria e da Arábia Saudita, clientes
sanguessugas nos offshores do Panamá
e fomentadores do terrorismo armado.
Voz
– a do longínquo argentino – que abre um novo
espaço de paz e realização humana, quando recomenda à Igreja que alargue os
braços compreensivos aos “cristãos
imperfeitos, como os divorciados, os recasados” e até os de orientação sexual
diversa. O ancião de corpo, mas o Jovem conquistador da Ideia e distribuidor da
verdadeira essência do Amor!
À
opacidade nebulosa dos poderosos oponhamos a corajosa transparência que a todos
conforta e liberta.
09.Abr.16
Martins Júnior
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