Abril
já mexe e fervilha no concelho extremo-leste da ilha. SENSO&CONSENSO junta-se a este palpitar da terra, que desce do
alto da montanha até ao mar e, depois de ter apresentado o “ANTES”
– as causas estruturais e as
circunstâncias conjunturais –
oferece, hoje, o segundo retábulo do tríptico dos muitos “abris” que se viveram
em Portugal, isto é, as metamorfoses que daí advieram para o país e que eu designo
pelo advérbio “DURANTE”.
Para
quem leu a crónica anterior, retomo como
ponto de partida a revolução de 1383-1385. Com as lutas sangrentas entre os partidários do rei português, D.
Fernando, e os nobres serventuários da rainha pró-castelhana, D. Leonor Teles (lembremo-nos
que o povo amotinado atirou o bispo D. Martinho desde o alto da torre até cair
morto no Terreiro da Sé de Lisboa) seguiu-se depois uma paz benfazeja, prodigiosamente
criativa, liderada pela “Ínclita Geração, Altos Infantes” (entre os quais o “Navegador
Infante de Sagres”) que depois de aportar a Machico e passar a Madeira - "Que do muito arvoredo assim se chama" - levaram Portugal até às Áfricas e às Índias, trazendo de
lá tesouros exóticos, riquezas sem conto, as quais fizeram do porto de Lisboa o
maior entreposto comercial da Europa na
época Quinhentista. A segura governação política da chamada “Segunda Dinastia” abriu “novos
mundos ao mundo”, avolumou a economia do país, dinamizou a cultura e fez desabrochar uma plêiade gloriosa de
escritores e poetas, citando por todos o maior Génio Português, Luís Vaz de
Camões. É caso para dizer que valeu a pena a luta do Mestre de Avis e de Nuno
Álvares Pereira, mesmo que o Mar Salgado viesse a transformar-se no sorvedoiro
das “lágrimas de Portugal”!
Da
mesma forma, valeu a pena a revolta do “1º de Dezembro de 1640”, descontando aí
o furor dos portugueses que atiraram pela janela do palácio real o traidor Miguel
das Vasconcelos ao serviço do regime filipino, porque dessa luta porfiada restituiu-se
a independência a Portugal e novo fulgor brilhou no horizonte lusíada com D.
João IV, “O Restaurador”. A saga da descoberta do Brasil e o faustoso esplendor
da época “joanina” do “Magnânimo D. João V” granjearam a Portugal prestígio
universal através da majestosa embaixada enviada ao Papa, considerado na altura
o árbitro da política internacional, destacando-se então os sucessos
diplomáticos do “Príncipe da Língua Portuguesa”, como chamou Fernando Pessoa ao eloquente e genial Padre
António Vieira. As influência culturais do estrangeiro fizeram caminho em
Portugal, magnificamente expressas na literatura e em monumentais obras de arquitectura barroca,
umas faraónicas, como o Convento de Mafra, outras de inegável interesse público, como o Aqueduto
das Águas Livres. Não fora o patriotismo e o arrojo dos homens de 1640,
Portugal continuaria mais uma periférica colónia de Espanha. Bem hajam!
Chegados
à Monarquia Constitucional de 1822, para cujo êxito foi necessária a luta
fratricida entre dois irmãos, D. Pedro e D. Miguel, os portugueses chegaram aos
alvores da República de 1910. Aí, as convulsões político-partidárias despedaçaram
o país: governos houve que não chegaram a
durar mais que trinta dias”… É uma fase tumultuosa e
explosiva a construção da I República, que só veio a conhecer acalmia nos
finais da década de 20 do século passado. Foi então que Portugal voltou a
recuperar a dignidade perdida perante a cena internacional. O factor mais
enobrecido destas lutas consistiu na abolição dos privilégios das hereditárias
famílias monárquicas, passando os representantes do Povo a determinar os
líderes da Nação, não em razão da automática sucessão do “sangue azul”, mas
pelo veredicto das classes eleitoras. Apesar de todas as vicissitudes, que não
cabem, nem de longe, neste apontamento, valeu a pena derrubar um poder mítico,
soberanamente altaneiro, em alguns casos alheio às condições em que viviam os
seus súbditos. Abriu-se um caminho novo em que o Povo passou a constituir-se
soberano da “coisa pública”, que é o
que etimologicamente significa República ou Res
Pública. A Monarquia
Constitucional teve como inflorescência a Constituição Republicana. “Viva a
República” – assim gritaram os revolucionários do alto da varanda da Câmara de
Lisboa, em 5 de Outubro de 1910.
Por
tudo o significam na História do Povo Português nunca deverão extinguir-se o “1º
de Dezembro” e o “5 de Outubro”!
Uma
conclusão e uma pergunta:
A
conclusão é que todas estas datas mais não são que outras tantas faces do “25
de Abril”, cada uma na sua época. E são inevitáveis. Mais, são necessárias.
Constituem fenómenos tão naturais como o botão que se abre em flor, como a flor
que desentranha o fruto, como a crisálida que se rompe para deixar voar a
borboleta e, por fim, como uma mãe que sofre as dores do parto para dar ao
mundo a promessa de um filho anunciado!
A
pergunta: Então, por qual razão foi preciso, de tempos a tempos, repetir a
Revolução?... É o que veremos em crónica futura quando os meus amigos e amigas
abrirem a porta à visita do SENSO&CONSENSO,
onde explanarei o terceiro retábulo do tríptico que terá por título o “DEPOIS”.
23.Abr,16
Martins Júnior
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