Chegada
a manhã de 20 de Janeiro, morreram as noites brancas. Começa o dia negro de luto transitório. O verde das
pradarias foi esmagado pela ‘buldózer’ que tudo seca e amarelece até à raiz dos
cabelos.
O
avejão das cavernas remotas reveste-se de couraças marteladas e com o ferro em
brasa no bico pontiagudo destrói as
pontes, vomita nos rios e aquíferos das nascentes e, em vez das sebes floridas entre pátrias,
faz emergir tremendos muros de betão ciclópico.
Não
será mais América abraçando todo o mundo. Será o planeta enfardado, agrilhoado
nos ’bunkers’ do Capitólio.
Nos
portões da Casa Branca não haverá mais o riso das crianças nem a ternura de uns
olhos repousantes de Mulher nem os
braços de um Homem do tamanho do mundo, tocando os dois hemisférios no coração
de quem lhe bate à porta. Só restará um robot disforme de granadas nos punhos, monstruoso produto do bronze fundido em falências repetidas e barras de
ouro, cheirando ao sangue, suor e lágrimas de vítimas anónimas.
Não
mais se ouvirão os pássaros nos jardins circundante porque , apavorados, terão
fugido para longe. E ninguém mais caminhará seguro nas alamedas copadas.
Virá
o tempo em que já não serão precisos talibãs
da Al-Qaeda para abater a majestosa arquitectura da Casa Branca. Ela
implodirá às mãos do próprio inquilino, derrubado pelo justo clamor das
multidões traídas.
Adeus
Casa Branca.
Só
foste Branca quando habitada pela família migrante, negra de pele, mas de
coração feito de todas as cores do arco-íris.
Adeus
Casa Branca.
Ficarás
agora de luto pesado, nos alçados e nas janelas, quando aí entrar um branco de cor ausente.
Até
aquele dia em que as auroras boreais possam voar até à Pátria de todos os povos, construída nos
alicerces da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
19.Jan.17
Martins Júnior
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