Desanuviar o ambiente, é preciso. Correr, descomprimir,
rir e aprender – eis o melhor remédio. Vamos a isso, já. Portugal, de lés-a-lés, pulou desenfreado,
ali de desespero e raiva, acolá de fogo e palma e contentamento sem freio.
Desta vez, o Minho foi “Rei de Portugal e dos Algarves”. Adeus Lisboa, capital
do Império. Adeus, Porto do pré-republicano “31 de Janeiro”. Adeus, Coimbra dos
Doutores. O Minho é que é! O Minho é
Lindo!
E
no Minho, o maior é o Moreira (não do Rui), mas dos Cónegos. Imberbe e
pequenino, abateu o gigante vizinho, depois de ter enjaulado o Dragões e as
Águia, no percurso norte-sul. Todos os
jornais derramaram o brilho da tinta, todas as rádios escancararam as cordas
vocais e todas as TV´s mudaram de cor. “Viva
o Moreirense, viva, viva”!... “Moreirense só há um, o dos Cónegos e mais nenhum”
!!!
Mas
no meu televisor privativo, havia mais qualquer coisa. Ou parecia. Não faltaram
os crentes bíblicos em colar na testa o duelo David-Golias, ou o texto
litúrgico de Paulo de Tarso, anteontem, onde se exaltava que “Deus usa os
fracos para confundir os fortes”. Também vieram os cultores das metáforas e das
alegorias, identificando o grande feito
à fábula da formiga e da cigarra, da lebre e do sapo-concho.
Apareceu
depois um esguio e pálido juiz do
Vaticano, ruminando pragas e atribuindo a Satanás o “escândalo” de ver uns magros
cónegos de Moreira, grande parte deles
oriundos da África negra, derrubando os anafados
e alvíssimos arcebispos de Braga! Impossível: a aldeia de uns cónegos
decrépitos, vitoriosos em cima dos mausoléus da arcebispal “Braccara Augusta”!
Logo
a seguir. O “pivot” explicou que os cónegos não são mais que padres, calçados de meias vermelhas, já rapadas. E o
arcebispado de Braga era e é o detentor da
sede primaz da Cristandade em Portugal. E foi dizendo que na Igreja há postos e
patentes, tal como nas Ordens Militares: presbíteros, bispos, arcebispos,
cardeais e Papas. Tudo talhado à maneira da hierarquia do exército: soldado
raso, sargento, oficial, capitão, por aí
fora, até brigadeiro, general e marechal.
O
locutor mais não disse. Mas percebi nas entrelinhas o que não lhe permitiram
dizer, ou seja, a história que ciclicamente se repete: só a “arraia-miúda” é
capaz de abater os castelos dos poderosos, desde a porta-de-armas até às aguçadas
ameias. Sempre foi assim. Com a luta do Mestre de Avis, em 1383-1385. E agora,
na era em que nos foi dado viver, foram as praças, os sargentos e os capitães
de Abril que derrubaram a ditadura dos galões e das estrelas faustosamente coladas
nos ombros dos generais.
Pela
minha parte, enquanto a multidão lá de cima vibra e salta ao ritmo dos fogos-fátuos
que iluminam a noite, fico pensando que a força dos fortes provém da fraqueza
dos fracos e que esta aparente fatalidade só se inverte pela pertinácia das
bases. Nunca as metamorfoses da história começaram pelas cúpulas. Se os
pequenos e os fracos quiserem, será realidade o cântico de Zeca Afonso: “O Povo
é quem mais ordena”.
Também
na Igreja. Nunca os cardeais e os arcebispos nem os Papas deixaram que o Cristo
histórico, íntegro e total, passasse por aqui. Só uma excepção – Francisco
Papa! Mas se as raízes, os miúdos, os cristãos de base não sustentarem na mente
e nos braços este troféu da Verdade, tudo cairá outra vez no abissal império dos arcebispos. Não os de Braga,
mas os de sempre. Daqui também.
Graças
ao Moreirense e à sua sibilina e, para mim, sábia mensagem!
31.Jan.17
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário