Com
armas se faz a guerra e com armas se a desfaz. Com suor se planta a paz e com
menos se a destrói. Lado a lado, caminham
connosco, comem e dormem connosco, os arrasadores demónios do apocalipse e os anjos recolectores
do paraíso terreal. Talvez que a única nesga de Paz só exista na fronteira entre
as duas insanáveis litigantes , fronteira essa que somos nós, o íntimo de cada
um de nós.
No
último fim-de-semana julgo ter provado à evidência que Deus não tem mão na paz
ou na guerra. É assunto que Lhe passa ao lado. Qualquer requerimento ou prece
que Lhe fizerem são liminarmente rejeitados por incompetência primária. A
competência e a decisão do litígio é tarefa exclusiva, intransmissível, dos
agentes humanos. Remeto, pois, a demonstração para o ‘Blog’ de 15.01.17, por onde se conclui que misturar Deus com as
guerrilhas dos homens assume os contornos de provocação abominável, senão mesmo
de blasfémia sem perdão. Bem discernia Francisco de Assis quando a si mesmo se
definia como “Instrumento da Paz”.
Não
serão precisos altos silogismos para vermos e sentirmos que a Paz não é o
lago inerte, pantanoso e mudo das charnecas. Nem o jardim das flores silentes dos
cemitérios. Porquê?... É que ela transporta aos ombros aquele virulento escorpião que encontrou moribundo na picada e que, a
qualquer momento, inocula sadicamente o veneno fatal nas costas de quem o
socorreu. A guerra tem os seus genes congelados em potência, prontos a retalhar,
destruir, matar impiedosamente.
Aí,
a Paz tem de organizar os seus militantes, tem de fabricar no laboratório da
história os antídotos eficazes para opor-se
ao esquadrão facínora. É neste terreno prático, (diremos, lógico-dedutivo) que
a Paz toma a veste de Oposição, conceito que ultrapassa as oposições profissionalizadas,
essas também, fabricantes do armamento sectário que mina os acessos à Paz verdadeira. Quão difícil é
respirar com segurança o ar puro do conforto familiar, social, psíquico, afectivo,
extasiante! Da breve análise dos acontecimentos passados, a Paz não é mais que
o curto intervalo entre duas guerras, algo efémero como os quinze minutos no
meio de um combate desportivo de noventa minutos. Privilégio único desta
geração europeia foi o ter vivido sem guerras fronteiriças desde 1945. Há 72
anos, portanto, a Europa enterrou o machado de guerra que dividia os seus
territórios, reunidos desde então sob o grande pavilhão de uma Comunidade, com
estigmas é verdade, mas não armada e aberta ao mundo.
Eu
disse: foi o privilégio. Mas, a partir de ontem, tudo
indica que o “intermezzo” da Paz terá
terminado. As imprecações vindas da Mátria da Democracia, as ameaças tribais,
atiçadas pelo régulo das cavernas contra a União das Nações Europeias – e contra
o Planeta, em geral - fazem tocar a
rebate as trombetas das milícias da Paz para barrar as hordas da nova barbárie
americana, capitaneada pela repelente armadura do esquadrão trumpista. Pela
amostra do primeiro dia, a Europa – nós, aqui e agora – tem de organizar-se para poder defender-se, não apenas dos
terroristas islâmicos, mas dos
jhiadistas americanos de Trump.
Sem
maiores análises, começamos a entender aquele antigo aviso das civilizações
greco-romanas: Si vis pacem, para bellum - “Se
queres a Paz, prepara-te para a guerra”. Paradoxal, mas incontestável. Resta saber que
tipo de arsenal bélico será o mais
eficaz. Paulo de Tarso propôs um dia as “Armas
da Luz”, em cujos paióis se guardam o conhecimento, a inteligência, o diálogo,
enfim, a estratégia convincente. As manifestações que pelo mundo inteiro se têm multiplicado contra
o “novo perigo americano” de Trump oxalá
configurem uma pista poderosa e
consequente para alcançar a dolorosa montanha da Paz e da Razão.
“Guerra
e Paz”, intitulou Tolstoi o seu melhor romance.
“Guerra
e Paz”, mais que romance, é o guião deste filme do Homem sobre a Terra, a
narrativa de cada um de nós. Quando chegará o dia em que se invertam os
factores e que a guerra seja apenas um
breve intervalo entre as longas, intermináveis e produtivas jornadas de
Felicidade?!
É
esse o nosso trabalho.
21.Jan.17
Martins Júnior
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