É
este um olhar de síntese, como o de quem vê da varanda do miradouro mais amplo a paisagem
do extenso vale a seus pés, com as saliências, as reentrâncias, as nervuras dos
caminhos e veredas, o casario disperso, enfim, o essencial e o circunstancial. E
é, por isso mesmo, um risco de cálculo esta preocupação de
combinar a síntese com a análise, sem
perder a primeira e sem se perder na
segunda. Porque a vida, tal como a história – seja ela individual ou colectiva, económica
ou política, hormonal ou afectiva –
segue sempre o ritmo binário: o fim e a circunstância. O fim ou objectivo é
uno, mas a circunstância é múltipla. E o
maior perigo que nos espreita neste longo percurso é quando, por uma
circunstância, se liquida o fim. É o elucidário de todas as vidas. Quantas vezes e em quantos casos, por causa de
um parágrafo, de uma linha, de um vocábulo até, borramos toda a escrita?!...
Insisto
neste preâmbulo porque considero-o o guião e o crivo por onde quero deixar o
meu olhar preocupado por sobre o panorama actual do país, tendo como pano de
fundo a conjuntura ocorrida em 2011 que amarrou os portugueses à corda fatal da
troika. Permitam-me catalogá-la como a geringonça,
a primeira, experimental, negativa, fatídica. Em contraste com a outra Geringonça, a segunda, a positiva, a
promissora. Não haverá, por certo, quem duvide que esta, a segunda, veio
redimir a primeira. Tenho a convicção de que o contrato histórico das “Esquerdas”
ganha cada vez mais consistência, por parte do BE, do PCP e do PEV, porque
estes não esquecem o trauma e a temerária aventura de se terem unido à Direita
para derrubar, em 2011, o governo
minoritário de então, assim escancarando
os portões do país à entrada do pérfido “Cavalo de Tróia”, reeditado no voraz
dinossauro chamado Troika.
Entretanto,
parece que sopraram ultimamente uns redemoinhos pré-desestabilizadores,
sob a forma de propostas talvez aceitáveis, ditadas pela originalidade
programática dos respectivos partidos, mas manifestamente circunstanciais,
senão mesmo inviáveis, em termos de equilíbrio orçamental e, no limite, não
contempladas nos acordos inicialmente
assumidos. Devo dizer que me trouxeram desassossego tais especificidades parlamentares, precipitados saltos de circunstância,
sobretudo ao verificar a esfomeada avidez
com que a Direita se lhes colou logo e abraçou no Parlamento e fora dele, num
aberrante parto contra-natura, capaz ( a Direita) de todas contradições e perjúrios, de renegar a
identidade, ‘pai e mãe e irmãos, só para retornar a 2011. Cuidado com as
perigosas alianças! O degredo financeiro de quatro anos jamais se esquecerá . É caso
para repetir a velha máxima: Time danaos
etiam donna oferentes – “Teme, livra-te dos gregos, mesmo quando te
oferecem presentes”. O presente na época foi, precisamente, o “Cavalo de Tróia”. Volvidos
séculos, já temos idade de aprender. O brilho circunstancial pode ofuscar o
porto de chegada, o objectivo essencial desta viagem histórica.
Felizmente,
a nau retomou o rumo. Na recente polémica dos “bilhetinhos” de Domingues para
Centeno e de Centeno para Domingues que a Direita, ressabiada pelo sucesso
orçamental da Geringonça II, pretende
escavacar com um escrúpulo mórbido, felizmente – repito – os partidos da Plataforma têm tido o
discernimento e a serena visibilidade de não cederem à tentação do
circunstancial, porque o essencial é
atingir o fim, restituir a soberania e a dignidade a Portugal e ao seu Povo.
Parabéns e Força!
O
alarme está permanentemente ligado: geringonça
I - nunca
mais!
15.Fev.17
Martins Júnior
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