No
mesmo dia, na mesma hora e quase no mesmo local, à beira-Tejo, em que partia para a África o porta-contentores com gente dentro – o extinto
navio “Niassa” – marcaram formatura os protagonistas de outrora no almoço de
confraternização, juntamente com as esposas e familiares. Cinquenta anos voltaram a sentar-nos em redor
da mesa da saudade. Antes era a marmita do ‘rancho geral’ e das rações de
combate, agora é o licor da alegria borborejando nos nossos lábios molhados.
Antes, os lenços brancos do Cais da Rocha misturavam-se com os bonés castanhos acenando
do convés do navio, enquanto as águas do rio, insensíveis e cruéis, separavam dos
filhos os pais chorosos, apartavam das
esposas os jovens maridos, os namorados das suas apaixonadas namoradas. Agora, perguntar-se-á, como o autor da ‘Mensagem’: Valeu a pena?
Maior,
porém, que a voz interpelante do nosso subconsciente, foi ontem esse encontro
memorável, organizado pela Companhia de Comando e Serviços, da sede do Batalhão
1899, e a que outros se seguirão, pelos ex-militares das Companhias
Operacionais, espalhados por esse Portugal fora. Só quem lá esteve é capaz de
entender o desfiar de recordações, umas felizes, outras dramáticas; este
episódio picaresco, aquele mais interiorizado. “Lembra-se, capelão, daquela canção
que cantávamos com os nativos – “Ah ma-i-má eh tantzamá” – e do aldeamento da Milamba onde ia
dar escola à petizada… e do nosso grupo coral… e da peça “A Velha Senhora” que
fizemos em Mocuba e levámos a Quelimane… e das tristes vezes que não vinha a
avioneta com os aerogramas da família … e do cemitério de Mocímboa da Praia
onde ficaram os onze que iam para Nambude”… E de tantas outras cenas que para
outros nada dizem, mas para nós amaciam e comovem o coração. Das melhores recordações guardo
a solidariedade especial do único madeirense no Batalhão 1899, o tenente
Aldónio Fernandes, oficial do Serviço de Transmissões Militares, presente e
apoiado pela esposa no encontro de ontem.
Foram
dois anos de comissão em Moçambique, regiões de Cabo Delgado e Zambézia.
Cumprimos, embora forçados-carne-de-canhão. Sem glória e sem proveito para a
Pátria Portuguesa. Daí, por diante, recomeçou a nossa verdadeira comissão
existencial, esta já com quarenta e oito anos de vivência e mais determinante
para levantar o esplendor do Povo Português.
Cabelos
brancos, cabeças “descapotáveis”, vozes roufenhas, abdómens dilatados, enfim, hoje, todos septuagenários,
também já fomos jovens, robustos, bonitos, corajosos. Mas somos os mesmos! Tal
como fomos há cinquenta anos. Os mesmos…menos alguns (e não são poucos) os que
já partiram durante esta comissão de serviço à comunidade. Um abraço para eles,
as praças, os furriéis, os sargentos, os médicos, quer milicianos quer do
quadro. Para nós, o apelo quente e dinâmico para nos mobilizarmos a nós
próprios e mobilizarmos os que de nós dependem ou connosco vivem, neste Plano
de Operações: A nossa comissão ainda não terminou. Cumpramos o nosso lugar,
cumpramos o nosso País!
Foi
de lágrimas e cânticos o bolo do cinquentenário que, como mais veterano, fui
chamado a cortar. Lágrimas de saudade pelos que já abalaram, cânticos de
esperança por nós que levaremos até ao fim o glorioso estandarte do Batalhão da
Vida!
05.Fev.17
Martins Júnior
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