domingo, 5 de fevereiro de 2017

O 4 DE FEVEREIRO FEZ 50 ANOS! – o bolo feito de lágrimas e cânticos


No mesmo dia, na mesma hora e quase no mesmo local, à beira-Tejo,  em que partia para  a África  o porta-contentores com gente dentro – o extinto navio “Niassa” – marcaram formatura os protagonistas de outrora no almoço de confraternização, juntamente com as esposas e familiares.  Cinquenta anos voltaram a sentar-nos em redor da mesa da saudade. Antes era a marmita do ‘rancho geral’ e das rações de combate, agora é o licor da alegria borborejando nos nossos lábios molhados. Antes, os lenços brancos do Cais da Rocha misturavam-se com os bonés castanhos acenando do convés do navio, enquanto as águas do rio, insensíveis e cruéis, separavam dos filhos os pais chorosos, apartavam das  esposas os jovens maridos, os namorados das suas apaixonadas namoradas.  Agora,  perguntar-se-á, como  o autor da ‘Mensagem’: Valeu a pena?
Maior, porém, que a voz interpelante do nosso subconsciente, foi ontem esse encontro memorável, organizado pela Companhia de Comando e Serviços, da sede do Batalhão 1899, e a que outros se seguirão, pelos ex-militares das Companhias Operacionais, espalhados por esse Portugal fora. Só quem lá esteve é capaz de entender o desfiar de recordações, umas felizes, outras dramáticas; este episódio picaresco, aquele mais interiorizado. “Lembra-se, capelão, daquela canção que cantávamos com os nativos – “Ah ma-i-má  eh  tantzamá” – e do aldeamento da Milamba onde ia dar escola à petizada… e do nosso grupo coral… e da peça “A Velha Senhora” que fizemos em Mocuba e levámos a Quelimane… e das tristes vezes que não vinha a avioneta com os aerogramas da família … e do cemitério de Mocímboa da Praia onde ficaram os onze que iam para Nambude”… E de tantas outras cenas que para outros nada dizem, mas para nós amaciam  e comovem o coração. Das melhores recordações guardo a solidariedade especial do único madeirense no Batalhão 1899, o tenente Aldónio Fernandes, oficial do Serviço de Transmissões Militares, presente e apoiado pela esposa no encontro de ontem.

Foram dois anos de comissão em Moçambique, regiões de Cabo Delgado e Zambézia. Cumprimos, embora forçados-carne-de-canhão. Sem glória e sem proveito para a Pátria Portuguesa. Daí, por diante, recomeçou a nossa verdadeira comissão existencial, esta já com quarenta e oito anos de vivência e mais determinante para levantar o esplendor do Povo Português.
Cabelos brancos, cabeças “descapotáveis”, vozes roufenhas, abdómens  dilatados, enfim, hoje, todos septuagenários, também já fomos jovens, robustos, bonitos, corajosos. Mas somos os mesmos! Tal como fomos há cinquenta anos. Os mesmos…menos alguns (e não são poucos) os que já partiram durante esta comissão de serviço à comunidade. Um abraço para eles, as praças, os furriéis, os sargentos, os médicos, quer milicianos quer do quadro. Para nós, o apelo quente e dinâmico para nos mobilizarmos a nós próprios e mobilizarmos os que de nós dependem ou connosco vivem, neste Plano de Operações: A nossa comissão ainda não terminou. Cumpramos o nosso lugar, cumpramos o nosso País!
Foi de lágrimas e cânticos o bolo do cinquentenário que, como mais veterano, fui chamado a cortar. Lágrimas de saudade pelos que já abalaram, cânticos de esperança por nós que levaremos até ao fim o glorioso estandarte do Batalhão da Vida!

05.Fev.17
Martins Júnior


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