O
tempo, já sem tempo, não dá tréguas ao tempo. É o fim da jornada e o árbitro,
que também é tempo, já tem nos dentes o apito para o final da partida. As
escorralhas que sobram de todo esse tempo só dão para agarrar as nesgas caídas
no espaço fora de nós. De modo que já não há tempo para olhar dentro, talvez
nem sequer para pousar um instante no galho de uma linha escrita.
Por
isso, acompanho a euforia diletante dos ‘fogos fátuos’ que nos levam pelos
corredores terminais do ano que já foi novo, há 365 dias. Então, é ver e ouvir
os produtos que a rua, a rádio, os jornais volantes nos atiram aos pés, de
preferência os que nos divertem e fazem rir. Por exemplo, os inquéritos, tipo
à-queima-roupa, sobre os acontecimentos marcantes do ano. É uma embaralhada
sopa de letras, para não dizer uma salada norte-coreana, o resultado imediato.
Para uns, são as tragédias e os incêndios, para outros é o Mário Centeno, para
o ‘grosso da manada’ é o Cristiano da bola, E, pasme-se, ouvi eu o testemunho
de quem escolheu como figura do ano, nem mais nem menos, Donald Trump, “um
valente patriota americano que luta pelo seu país”…
Cá
no burgo ilhéu, o matutino, que já
encolheu o nome de baptismo, fez uma sondagem intimista aos seus
jornalistas e colaboradores (leia-se, aos membros confessos da loja) para
indagar quais os três maiores deste ano regional da graça. E quem seria o “primus
inter pares”? Ora, quem havia de ser? Logo, logo, o dono da loja. Bruxo!... Não
há almoços grátis. Tudo se paga!
Num
outro correio que em cada manhã chega às bancas (ele, também regional)
salta-nos um apreciável caderno oficial, encimado por estas solenes parangonas:
“OBRAS NA SAÚDE E PELA SAÚDE DAS NOSSAS GENTES”. Enquanto folheio os oito linguados impressos, deparo-me com
esta literatura originalíssima, porque futuríssima: “Antigo quartel será espaço polivalente… Centro de
Saúde do Arco terá melhores
condições…Centro de Saúde da Nazaré vai ser
ampliado… Centro de Saúde de Porto Santo será reabilitado em fevereiro… Centro de Saúde do Curral será renovado… Os Marmeleiros serão renovados por fora e por dentro”…
(Tome nota: primeiro por fora e só depois por dentro). E outras do mesmo teor.
Mais incisivas e persuasíveis, porém, são as notícias sobre o nossos Hospital: “Bloco
Operatório, alvo de profundas alterações (e, no texto, esclarece: “em abril de 2019”)… Na mesma página: “Bloco
de Obstetrícia avança em janeiro”…
Mais: “Novo Hospital da Madeira será Revolucionário
no País”… Só que, noutra página, ao alto, vem o pré-aviso: “Projecto do
Hospital lançado em março”. Na
gramática regional, só há verbos no
futuro. Notável!
Faut-il rire de tout?- dedicava
o periódico “Le 1” o seu último texto à questão ”Se se deve rir de tudo?” Neste
caso, a resposta é afirmativa. Só deixa de sê-lo quando se chega à conclusão de
que toda esta ‘diarreia’ publicitária, rocambolesca e furtiva como o “fogo da
noite do São Silvestre”, é paga com o
dinheiro dos madeirenses. Enfim, só dá para isto o ‘cantar do cisne’ em 2017!
Como também dá para embrulhar em papel pardo os recentes decretos da República
sobre o financiamento dos partidos, aproveitando agora a barafunda estonteante da Festa. Tal qual se
passa com as eleições para as lideranças partidárias. Lá e cá, onde saltam da
cartola charadas e risadas como esta: “Afinal, Quem leva quem ao colo? O
protegido ou o protector, o ventríloquo ou o orador, o original ou a fotocópia”?...
A nível nacional, as partes em confronto já provaram falar por conta própria,
marcando um debate televisivo. É a melhor estratégia para evitar que o ridículo
cubra o ‘enterro’ de 2017.
Entretanto,
a sentença já é sobejamente conhecida: ”Rir é o melhor remédio”.
29.Dez.17
Martins Júnior
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