domingo, 21 de abril de 2019

JESUS: MORTO OU VIVO?


                                                          

Em dia de Páscoa, ouso interpelar-Te, Jesus, em forma de Oração:
Perdoar-me-ás a inteira lealdade com que me confesso. É que não me preocupa saber se voltaste fisicamente à vida nem nunca daria um passo para encontrar o teu corpo ressuscitado. Porque durante um percurso existencial de 33 anos nunca usaste a força física nem sequer o vigor saudável do Teu corpo como objecto de  confronto, muito menos de talismã de vitória contra os Teus mais figadais opositores. “O Meu reino não é deste mundo – disseste-o diante do juiz governador Pôncio Pilatos - o Meu é  o reino da Verdade”. E já antes tinha-lo dito à Samaritana: “Podes crer, mulher, que os verdadeiros adoradores do Meu Pai são os que O procuram em espírito e verdade”.
É por isso que o que mais procuro – desculpa a frontalidade – não é armação biológica do teu composto orgânico, mas a pacífica e eficaz armadura do Teu espírito, o princípio activo da Tua Ideia. Leio Paulo Apóstolo – “Se Cristo não ressuscitou  é vã a nossa fé” – e, sem prejuízo da narrativa bíblica, leio a ressurreição da Tua mensagem, o propalar daquele “fogo” purificador que trouxeste ao mundo. Os Doze conheceram-Te durante três anos, beberam e comeram contigo, mas viste o resultado: um traíu-Te, outros abandonaram-Te e até Pedro, tido pelo mais confiável, negou-Te, alegando que nem Te conhecia. Não lhes faltou a presença do Teu corpo. Faltou-lhes, sim, a força do Teu espirito.
É assim, para meu desencanto, que Te vejo mais morto que vivo neste mundo que habito. É verdade que homens e instituições erguem-Te no topo de tronos e altares, mas Tu aí sentes-Te num cadafalso, como no Pretório de Pilatos. Porque no sopé desses majestosos mausoléus, só existe a arena tribal onde os mesmos homens se encarniçam como feras, destroem a paz, afogam a alegria de viver, matam a inocência e a justiça. Matam-Te de novo. Podem apregoar hossanas e alleluias colossais, mas é de um canto fúnebre o trágico colosso das suas vozes. Porque eles preferem o Teu corpo ressuscitado em vez do Teu espírito redivivo. Foi por isso que Pascal, amargurado, escreveu que “Jesus continua em agonia até ao fim dos tempos”.
Mas, Jesus histórico e eterno, tento desbravar montanhas e vales e encontro-Te  vivo – mais nos vales profundos que nas montanhas altaneiras – vejo-Te em tanta gente anónima que cumpre, que age com amor, que luta na ruralidade do seu existir ou na escola ou nos hospitais ou nas ruas denunciando, como Tu, Jesus, no Teu tempo, os crimes sociais e exigindo leis justas para esta “Casa Comum” onde todos tenham o mesmo direito à vida. Esses são os que amam o Teu espírito vivo mais que o Teu corpo idolatrado. Por esta razão, atrevo-me a completar o pensamento de Pascal: Assim como “Jesus continua em agonia até ao fim dos tempos”, assim também Jesus continua ressuscitando, em renovada manhã de Páscoa, até ao fim do mundo!
Doce Nazareno, Líder invencível, Divino Mestre, não serei eu o Tomé, inconsistente e primário, que só entendia a linguagem empírica da fé no Teu corpo físico. Ajuda-me a encontrar todos os dias e seguir com afã a Tua Ideia, o Teu espírito, o Teu plano libertador.

Assim é e assim será a “PÁSCOA NO CORAÇÃO DE ABRIL”!
  Domingo de Páscoa, 21.Abr.19
Martins Júnior

1 comentário:

  1. Quem acompanha o Pe. Martins Júnior,essencialmente, sobre as suas reflexões sobre a Páscoa, sabe que sempre procurou exaltar a profundidade espiritual das mensagens do Cristo da história, em vez de, enfadonhas oratórias sobre o visionamento do seu corpo. Parabéns ao autor deste texto, por mais estes rasgos de luz.

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