sexta-feira, 19 de abril de 2019

O DIA SEM PALAVRAS


                                              

   Desnecessárias. Inúteis. Prejudiciais.
         No entanto, elas aí abundam, afogam e cegam-nos. As palavras, os gestos, a encenação do crime, o espectáculo da vergonha humana erguida em estandarte – enchem templos e praças como muros de bronze, só com um único  projecto maquiavélico: esconder o crime, apagar as pegadas dos criminosos e fazer da Vítima um objecto público de comiseração e derrota.
         “Vejam bem”! E tanto chega para dispensar palavras:
         Os ditadores religiosos entregam ao tribunal civil e político Alguém, com a sentença capital previamente lavrada: “Tem de ser morto”. Corpo de delito: fez o bem, defendeu os indefesos e abriu os olhos ao povo manietado e esmagado pelo poder da religião oficial.
         Por isso, no mais íntimo de mim mesmo, clamo e quase sufoco de indignação: Hoje é dia do mais profundo protesto e do mais decidido plano de acção.
Porquê?
Cito Blaise Pascal: “Jesus está em agonia até ao fim dos tempos”. Basta abrir os olhos e ver! Talvez bem junto de nós. Os assassinos de Jesus andam por aí, muitos deles amontoando palavras e majestosas cenas, as muralhas atrás das quais se escondem os autores do crime.
Cito Padre António Vieira, ele mesmo vítima da ditadura inquisitorial: “Antigamente, eram os ladrões que pendiam do alto das cruzes. Hoje são cruzes que pendem do peito dos ladrões”.
Cito, finalmente, o Cristo na subida para o monte Calvário, quando disse às mulheres de Jerusalém que choravam por Ele: “Por mim ninguém chore”!
Hoje não é dia de palavras nem de encenações. E já as gastei tantas, só para apagá-las do meu código de acção e transmitir a quem o sinta este apelo: O nosso Líder-Jesus não quer lágrimas, quer actos . Não precisa de enterros fictícios, exige vida em crescendo contínuo, individual e colectivo. O nosso Cristo não pede que O preguem mais na cruz, o que Ele quer é que O tirem de lá. Foi o que Ele fez no seu país durante os escassos anos que ali viveu.
Será essa, Senhor, a Tua e nossa Páscoa!

19.Abr.19
Martins Júnior
     

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