sábado, 27 de abril de 2019

PRISÃO DE CAXIAS: ONDE MORREU E RENASCEU A LIBERDADE!


Só o sente quem o ama. E para amá-lo é preciso sofrê-lo.
         Não foi preciso que alguém escrevesse estas palavras nessa tarde de sol de Abril em frente da cadeia de Caxias. De cada rosto, de cada fala e sobretudo de cada silêncio saía perfeita a legenda do que se estava a passar. Eram os 45 anos cumpridos do vaticínio clamoroso de Manuel Alegre:
Hei-de passar nas cidades
Como o vento nas areias
E abrir todas as janelas
E abrir todas as cadeias
         Gente madura e gente a caminho dela. Homens, Mulheres, Jovens – filhos e netos dos “inquilinos forçados” de há mais de quatro décadas. E Crianças também, que “são o melhor do mundo”. Quando chegámos ninguém as via. Mas o melhor daquele mundo aconteceu quando, surpreendentemente, se abriram os portões da cadeia e de lá irromperam em revoada crianças e mais crianças, de cravos nas mãos e vozes brilhantes, saltitantes, gritando “Liberdade, Viva a  Liberdade” Depois, dirigiram-se espontaneamente aos presentes e sussurravam ao ouvido de cada um de nós um íntimo segredo guardado desde a nascença:” Viva a Liberdade, 25 de Abril Sempre”, enquanto nos ofereciam cravos e a sacola onde estavam gravados os já citados versos do Poeta da Liberdade.
         Impossível conter a emoção ao ver ali presentes muitos daqueles que outrora viveram, morrendo aos poucos, entre algemas e torturas e, agora, novamente unidos e abraçados, festejando quase meio século da liberdade reconquistada. Patente no seu olhar e em todo o seu semblante um misto de dor e esplendor, partilhado por todos os presentes. Naquela casa fatídica gerou-se “o dia inteiro e limpo” de um novo Portugal. Eloquente, pela sua simplicidade e quase apagamento no meio da multidão, o grande Obreiro da Libertação, Otelo Saraiva de Carvalho, a quem foi prestada homenagem pelos intervenientes, entre outros, Manuel Alegre e Francisca Van Dunem, Ministra da Justiça.
           Momento alto o encontro com personalidades que, para nós ganharmos a liberdade em 1974, ficaram antes sem a sua liberdade em deportações e prisões. Caxias, Peniche, São Paulo de Angola, Tarrafal. Alguns deles, tive eu a alegria de trazê-los a Machico, em missões de esclarecimento, quer pelo discurso quer pelo canto, lembrando-me o saudoso Zeca Afonso e o Luís Moita, ao qual me unem traços de profunda afinidade no sonho, na luta e na vida. Guardarei até ao fim a honra deste encontro que a foto registou.
         Dia Grande em Oeiras, onde uma preciosa exposição, da responsabilidade da curadora, (também historiadora do 25 de Abril na Madeira) Profª Raquel Varela, fornece um conhecimento histórico-científico do mais alto perfil sobre a Revolução dos Cravos, a qual bem-vinda e útil seria se rumasse até à nossa Região.
         Abril e o Dia Novo só os revive quem os amou e sofreu para aqui chegar! 

          27.Abr.19
         Martins Júnior

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