segunda-feira, 13 de junho de 2022

ENTRE TANTAS, MAIS UMA PANDEMIA – O EVANGELISMO?!...

 

                                                                     


É sempre o mesmo movimento que se repete nas grandes (e pequenas) encruzilhadas da História: o frenesim dos homens e dos astros, os sobressaltos sísmicos e as emboscadas furtivas – silenciosas mas fatais – dos vírus invisíveis põem do avesso esta Casa Comum, único habitat da nossa felicidade. No meio desta agitação cósmica, são os inquilinos da Casa que se autodestroem antes e mais que os próprios alicerces do planeta.

Ao observador atento, perante o desmoronar da personalidade e da autoestima sob o império dos medos-fantasmas, surge em grande plano o elixir mágico da religião com única boia de salvação. Então é vê-los, os crentes (e não crentes) agarrados a um magro barrote que encontram nas mercearias de promessas de cera estearina. É vê-los correr às bancas de bruxos, curandeiros e quiromantes em busca de um escudo invisível que não passa de um fogo fátuo que nem alumia nem aquece. Mas o meio ‘ecológico’ mais fértil e manipulador para tais panaceias são as igrejas.

Devo confessar que sempre me incomodaram as corridas às velas, aos mitos, às superstições quanto as corridas ao armamento, estas embora mortíferas no instante, mas aquelas tanto ou  mais destrutivas a longo prazo, pelo vírus da decadência da personalidade e da cedência a (des)valores depauperantes e deprimentes que deixam o ser humano sem defesa perante as manobras de feirantes da fé e prestidigitadores sem escrúpulos.

Vêm estas linhas a propósito de uma excelente crónica do “Courrier International”, cuja capa não engana: “Os evangélicos tomam o poder” . o subtítulo esclarece: “Nos Estados Unidos e no Brasil estas religiões cristãs colocam-se ao serviço de candidatos conservadores e nacionalistas”.

Merece atenção o estudo, onde os autores detectam em flagrante a degradação das instituições, o descrédito da figura de Jesus, a baixeza e as contradições da fé enviesada, blasfema, no limite.

A título de exemplo, numa assembleia de apoio a Donald Trump, proclamava-se solenemente esta oração: “Pai Nosso que estais nos Céus, nós acreditamos firmemente que Donald Trump é o único e verdadeiro presidente dos Estados Unidos”. Por seu lado, o sociólogo Matheus Alexandre não hesita em afirmar: “No Brasil, as grandes igrejas evangélicas partilham as convicções do conservadorismo, do neoliberalismo e do autoritarismo”.  Nayara Felizardo concretiza: ”Em menos de cinco anos, a corrente evangélica conquistou quase metade da população de Guaribas e Jair Bolsonaro conta seguramente com esta religião como instrumento para convencer os brasileiros à sua reeleição”.

Caso sério este! Casos sérios estes! Fazem-nos focalizar com mais serenidade e firmeza a paisagem do nosso país, da nossa região, da nossa aldeia. Ao serviço de quem tem estado a Igreja institucional  – oficial, nacional, regional, local – e que valores defende ou estará a instituição disposta a dar a vida por tais valores?...

É tema de todos os dias e ao qual teremos sempre de regressar.

 

13.Jun.22

Martins Júnior   

 

Sem comentários:

Enviar um comentário