É
sempre o mesmo movimento que se repete nas grandes (e pequenas) encruzilhadas
da História: o frenesim dos homens e dos astros, os sobressaltos sísmicos e as
emboscadas furtivas – silenciosas mas fatais – dos vírus invisíveis põem do
avesso esta Casa Comum, único habitat da nossa felicidade. No meio desta
agitação cósmica, são os inquilinos da Casa que se autodestroem antes e mais
que os próprios alicerces do planeta.
Ao
observador atento, perante o desmoronar da personalidade e da autoestima sob o
império dos medos-fantasmas, surge em grande plano o elixir mágico da religião
com única boia de salvação. Então é vê-los, os crentes (e não crentes)
agarrados a um magro barrote que encontram nas mercearias de promessas de cera
estearina. É vê-los correr às bancas de bruxos, curandeiros e quiromantes em
busca de um escudo invisível que não passa de um fogo fátuo que nem alumia nem
aquece. Mas o meio ‘ecológico’ mais fértil e manipulador para tais panaceias
são as igrejas.
Devo
confessar que sempre me incomodaram as corridas às velas, aos mitos, às superstições quanto as
corridas ao armamento, estas embora mortíferas no instante, mas aquelas tanto
ou mais destrutivas a longo prazo, pelo
vírus da decadência da personalidade e da cedência a (des)valores depauperantes
e deprimentes que deixam o ser humano sem defesa perante as manobras de feirantes da fé e prestidigitadores sem escrúpulos.
Vêm
estas linhas a propósito de uma excelente crónica do “Courrier International”, cuja
capa não engana: “Os evangélicos tomam
o poder” . o subtítulo esclarece: “Nos Estados Unidos e no Brasil estas
religiões cristãs colocam-se ao serviço de candidatos conservadores e
nacionalistas”.
Merece
atenção o estudo, onde os autores detectam em flagrante a degradação das
instituições, o descrédito da figura de Jesus, a baixeza e as contradições da
fé enviesada, blasfema, no limite.
A
título de exemplo, numa assembleia de apoio a Donald Trump, proclamava-se solenemente
esta oração: “Pai Nosso que estais nos Céus, nós acreditamos firmemente que
Donald Trump é o único e verdadeiro presidente dos Estados Unidos”. Por seu
lado, o sociólogo Matheus Alexandre não hesita em afirmar: “No Brasil, as
grandes igrejas evangélicas partilham as convicções do conservadorismo, do neoliberalismo
e do autoritarismo”. Nayara Felizardo
concretiza: ”Em menos de cinco anos, a corrente evangélica conquistou quase
metade da população de Guaribas e Jair Bolsonaro conta seguramente com esta
religião como instrumento para convencer os brasileiros à sua reeleição”.
Caso
sério este! Casos sérios estes! Fazem-nos focalizar com mais serenidade e
firmeza a paisagem do nosso país, da nossa região, da nossa aldeia. Ao serviço
de quem tem estado a Igreja institucional – oficial, nacional, regional, local – e que
valores defende ou estará a instituição disposta a dar a vida por tais valores?...
É
tema de todos os dias e ao qual teremos sempre de regressar.
13.Jun.22
Martins Júnior
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