Por
onde quer que lhe pegue, cheira a imundície, sabe a esterco, repugna ao mais comum
de todos os mortais. É isso: o açambarcamento da personalidade, o amordaçar do
espírito, a castração da dignidade de alguém!
“Vimos,
ouvimos e lemos, não podemos ignorar”!
Mesmo
do pouco que vimos, do pouco que ouvimos e do quase nada que lemos – porque quase
tudo foi ‘superiormente’ escondido e maquiavelicamente ‘calado’ – não há outra
forma de reagir senão com um grito de revolta tão ensurdecedor como o silêncio ‘superiormente’
imposto.
No
Journal d’un curée de champagne. George
Bernanos traça o perfil de uma das suas personagens nestes termos: “Ela era
como o sol nascente, aquela luz clara e suave, onde se projectava imediatamente
o negrume das montanhas, a fealdade das pessoas ruins”.
Foi
o que se passou- Um jovem escritor, poeta e romancista deu à estampa o seu Livro de Todos os Pecados, um inspirado
feixe de poemas, revelador de um talento literário já comprovado,que até a Câmara Municipal do Funchal convidou o seu
Autor a apresentá-lo na Feira do Livro/22,
recentemente ocorrida na capital madeirense. Tudo a postos para o dia
previamente marcado, ‘eis se não quando’ (até parece uma fábula medieval) vê-se
o Poeta confrontado com ‘ordens superiores’ que impediam terminantemente a
presença em palco dos moderadores/apresentadores escolhidos pelo Autor. Tal
como o “Operário em Construção” de Vinícius de Morais, o nosso Poeta disse “Não”!
E manteve.
Na beleza poética do
cenário em fundo, reflectiu-se a fealdade, desenhou-se a degradante imagem de
uma Madeira, viçosa e bela na aparência, mas imunda e podre nas mãos de certos manipuladores seus!
Fosse noutra
cidade ou noutro continente, este escândalo em pleno Século XXI, quase meio
século do “25 de Abril”, teria foros de primeira página, tal o cinismo rasteiro
de alguém que tem o desplante saloio de manietar as mãos, os braços e a boca de
quem convida a sentar-se à sua mesa. Aos decanos e ‘troianos’ cá do sítio nem
uma linha de comentário editorial mereceu este atentado à dignidade humana, um
crime de lesa-liberdade de expressão. É esta a liberdade de imprensa made in Madeira! É assim que gira sobre
molas a opinião pública e publicada nesta república dependurada em cacho…
Ninguém pense que este é um episódio de
somenos importância. Desengane-se: é por artimanhas destas que faz chão a
arrogância mais opressiva. Atenção: Quase sempre é pelo buraco ‘calado’ da
fechadura que entra em casa a ditadura. Estejamos vigilantes!
A
propagandeada Feira do Livro levou
uma machadada perpetrada pelos seus próprios responsáveis. De ‘feira livre do
livro’ passou a feira de vaidade e repressão. É-nos permitido até duvidar da
autenticidade das restantes obras e autores convidados. Ter-se-á passado algo
de idêntico com eles?... Está aberta a suspeição.
Com Alves dos Santos, o Autor d’O Nome de Todos os Pecados, Não!
Actualmente a residir no estrangeiro,
teve a coragem de impor-se perante os aprendizes
de ditadores, levou o seu livro aos palcos da Feira com os moderadores/apresentadores, seus convidados. E –
ousadia suprema! – teve a hombridade de denunciar publicamente o que lhe
fizeram. Um gesto que, na sua maioria, os madeirenses não têm, subjugados que
estão ainda aos senhorios do poder, como
outrora estavam os pobres caseiros em
tempos da colonia. A Alves dos Santos bem poderia Sá de Miranda dedicar, lá dos
confins do Renascimento Quinhentista, aquela belíssima definição:
De
um só rosto e de uma só fé
De antes quebrar que
torcer
Outra coisa pode ser
Homem da corte não é.
E
se me permite Alves dos Santos, conterrâneo de gema, herdeiro do nosso patrono
desde o século XVIII, Francisco Álvares de Nóbrega, O Nosso Camões, (como também lhe chamavam) algemado na mesma cela de Barbosa du Bocage nos cárceres da
Inquisição, se mo permite aceite a minha homenagem e a minha gratidão pelo
caráter íntegro e pela tenacidade inquebrável, modelo e caminho para todos nós
!!!
21.Jun.22
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário