terça-feira, 21 de junho de 2022

O “PECADO” MAIOR: O CRIME DA CASTRAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA !

                                                                    


    Por onde quer que lhe pegue, cheira a imundície, sabe a esterco, repugna ao mais comum de todos os mortais. É isso: o açambarcamento da personalidade, o amordaçar do espírito, a castração da dignidade de alguém!

      “Vimos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”!

Mesmo do pouco que vimos, do pouco que ouvimos e do quase nada que lemos – porque quase tudo foi ‘superiormente’ escondido e maquiavelicamente ‘calado’ – não há outra forma de reagir senão com um grito de revolta tão ensurdecedor como o silêncio ‘superiormente’ imposto.

No Journal d’un curée de champagne. George Bernanos traça o perfil de uma das suas personagens nestes termos: “Ela era como o sol nascente, aquela luz clara e suave, onde se projectava imediatamente o negrume das montanhas, a fealdade das pessoas ruins”.

Foi o que se passou- Um jovem escritor, poeta e romancista deu à estampa o seu Livro de Todos os Pecados, um inspirado feixe de poemas, revelador de um talento literário já comprovado,que até a  Câmara Municipal do Funchal convidou o seu Autor a apresentá-lo na Feira do Livro/22, recentemente ocorrida na capital madeirense. Tudo a postos para o dia previamente marcado, ‘eis se não quando’ (até parece uma fábula medieval) vê-se o Poeta confrontado com ‘ordens superiores’ que impediam terminantemente a presença em palco dos moderadores/apresentadores escolhidos pelo Autor. Tal como o “Operário em Construção” de Vinícius de Morais, o nosso Poeta disse “Não”! E manteve.

Na beleza poética do cenário em fundo, reflectiu-se a fealdade, desenhou-se a degradante imagem de uma Madeira, viçosa e bela na aparência, mas imunda e podre nas mãos de  certos manipuladores seus!

         Fosse noutra cidade ou noutro continente, este escândalo em pleno Século XXI, quase meio século do “25 de Abril”, teria foros de primeira página, tal o cinismo rasteiro de alguém que tem o desplante saloio de manietar as mãos, os braços e a boca de quem convida a sentar-se à sua mesa. Aos decanos e ‘troianos’ cá do sítio nem uma linha de comentário editorial mereceu este atentado à dignidade humana, um crime de lesa-liberdade de expressão. É esta a liberdade de imprensa made in Madeira! É assim que gira sobre molas a opinião pública e publicada nesta república dependurada em cacho…

         Ninguém pense que este é um episódio de somenos importância. Desengane-se: é por artimanhas destas que faz chão a arrogância mais opressiva. Atenção: Quase sempre é pelo buraco ‘calado’ da fechadura que entra em casa a ditadura. Estejamos vigilantes! 

A propagandeada Feira do Livro levou uma machadada perpetrada pelos seus próprios responsáveis. De ‘feira livre do livro’ passou a feira de vaidade e repressão. É-nos permitido até duvidar da autenticidade das restantes obras e autores convidados. Ter-se-á passado algo de idêntico com eles?... Está aberta a suspeição.

         Com Alves dos Santos, o Autor d’O Nome de Todos os Pecados,  Não!

         Actualmente a residir no estrangeiro, teve a coragem de impor-se perante os aprendizes de ditadores, levou o seu livro aos palcos da Feira com os moderadores/apresentadores, seus convidados. E – ousadia suprema! – teve a hombridade de denunciar publicamente o que lhe fizeram. Um gesto que, na sua maioria, os madeirenses não têm, subjugados que estão ainda aos senhorios do poder, como outrora estavam os pobres caseiros em tempos da colonia. A Alves dos Santos bem poderia Sá de Miranda dedicar, lá dos confins do Renascimento Quinhentista, aquela belíssima definição:

                            De um só rosto e de uma só fé

De antes quebrar que torcer

Outra coisa pode ser

Homem da corte não é.

 

E se me permite Alves dos Santos, conterrâneo de gema, herdeiro do nosso patrono desde o século XVIII, Francisco Álvares de Nóbrega, O Nosso Camões, (como também lhe chamavam) algemado na mesma cela de Barbosa du Bocage nos cárceres da Inquisição, se mo permite aceite a minha homenagem e a minha gratidão pelo caráter íntegro e pela tenacidade inquebrável, modelo e caminho para todos nós !!!

 

21.Jun.22

Martins Júnior     

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