A
cada dia – seja qual o da semana, do mês ou do ano – se lhe pode chamar o dia
de amanhã. Pois, passada uma semana e em virtude da ocorrência de temas
incontornáveis, venho hoje cumprir o ‘amanhã’ prometido, isto é, o meu
comentário ao VOTO DE CONGRATULAÇÃO, aprovado pela Assembleia Municipal em 2019
e entregue presencialmente na sessão solene do Dia do Concelho, em 8 de Maio de
2022, cujo conteúdo tem a ver com o levantamento da suspensão a divinis decretada, sem processo jurídico-canónico,
pelo bispo Francisco Santana em 1977, há 45 anos, portanto.
Eis,
em síntese, a apreciação que então formulei na referida sessão:
O
VOTO (que registo mais que agradeço) recebi-o, porque o seu destinatário não é
outro senão o Povo da Ribeira Seca. Recebi-o, também por outro fundamento:
porque ele encerra, em contra-luz, a lição que ciclicamente a História nos
entrega,
Quem
ler este VOTO não terá necessidade de recorrer ao século XVI, quando, no Reino
Unido, Henrique VIII rompeu com o Vaticano e tornou-se o Chefe fundador do
anglicanismo, com poder utendi et
abutendi sobre a religião de Estado, o protestantismo. Tudo por a questão
de Ana de Bolena, amante do Rei.
Quem
ler este VOTO não precisará também de
conhecer o poder soberaníssimo de Louis XIV, Le Roi Soleil, sobre toda a hierarquia eclesiástica em França, na
denominada e acerrimamente disputada ‘questão
galicana’.
Quem
ler este VOTO ficará dispensado de
investigar o contrassenso da Igreja da China, a qual, apropriando-se da
nomenclatura cristã, quem lá põe e dispõe sobre bispos e padres é o grande
líder Xi-Jinping, às ordens do Partido Comunista Chinês, situação anómala que
tanto afli
Quem
ler este VOTO poderá seguramente prescindir da leitura do período fascista-salazarista
em Portugal, essa união incestuosa entre dois poderes, o religioso e o
político, mais precisamente a subserviência do Cardeal Cerejeira ao Presidente
do Conselho de Ministro, Oliveira Salazar, que teve a ousadia de expulsar de
Portugal o bispo do Porto António Ferreira Gomes após uma carta por este endereçada
ao Governo sobre as míseras condições em que viviam os camponeses do Norte de
Portugal.
E,
finalmente, quem ler este VOTO dispensará saber o escândalo do Patriarca Kirilos,
de Moscovo, apoiante incondicional do tirano Vladimir Putin, na bárbara invasão
da Ucrânia e suas trágicas consequências.
Em
todos estes casos, um denominador comum ressalta à vista desarmada: a ambição
indomável do poder político na tentativa de açambarcar e manietar o poder
religioso.
Não
será, pois, necessário remontar ao Reino Unido, à França, à China ou à Rússia
para detectar a armadura satânica dos políticos face às igrejas. Basta subir os
socalcos que dão até à Ribeira Seca para vermos as pegadas do(s) dinossauro(s) políticos
da minúscula Madeira que, sem escrúpulos de espécie alguma, dominaram e
contorceram braços e pernas dos eclesiásticos, a começar pelos bispos
residentes, os quais deixaram-se anestesiar como autómatos irresponsáveis nas mãos do(s) governante(s) da RAM.
Quem
um dia fizer a história da Igreja madeirense do pós-25 de Abril há-de constatar
a despudorada similitude entre os regimes super-totalitários citados, desde
Henrique VIII até à actualidade, com fortes laivos da malfadada dupla Cerejo-Salazarismo
do Estado Novo.
Mas
se as altas instâncias da farisaica religião
oficial se predispuseram a tão vil traição, houve um Povo que resistiu e disse “Não”!
Ao Povo Crente da Ribeira Seca – e por
extensão ao Povo de Machico – é entregue este merecido VOTO DE CONGRATULAÇÃO
pela integridade da Fé e pelo espírito de resiliência que mantiveram ao longo
de quase meio século de vivência humana e cristã, coroada pelo reconhecimento
público da sua identidade e da idiossincrasia das suas gentes!
09.Jun.22
Martins Júnior
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