quinta-feira, 9 de junho de 2022

ESCLARECENDO UM “VOTO DE CONGRATULAÇÃO”

 


 

A cada dia – seja qual o da semana, do mês ou do ano – se lhe pode chamar o dia de amanhã. Pois, passada uma semana e em virtude da ocorrência de temas incontornáveis, venho hoje cumprir o ‘amanhã’ prometido, isto é, o meu comentário ao VOTO DE CONGRATULAÇÃO, aprovado pela Assembleia Municipal em 2019 e entregue presencialmente na sessão solene do Dia do Concelho, em 8 de Maio de 2022, cujo conteúdo tem a ver com o levantamento da suspensão a divinis decretada, sem processo jurídico-canónico, pelo bispo Francisco Santana em 1977, há 45 anos, portanto.

Eis, em síntese, a apreciação que então formulei na referida sessão:

O VOTO (que registo mais que agradeço) recebi-o, porque o seu destinatário não é outro senão o Povo da Ribeira Seca. Recebi-o, também por outro fundamento: porque ele encerra, em contra-luz, a lição que ciclicamente a História nos entrega,

Quem ler este VOTO não terá necessidade de recorrer ao século XVI, quando, no Reino Unido, Henrique VIII rompeu com o Vaticano e tornou-se o Chefe fundador do anglicanismo, com poder utendi et abutendi sobre a religião de Estado, o protestantismo. Tudo por a questão de Ana de Bolena, amante do Rei.

Quem ler este VOTO  não precisará também de conhecer o poder soberaníssimo de Louis XIV, Le Roi Soleil, sobre toda a hierarquia eclesiástica em França, na denominada e acerrimamente disputada ‘questão   galicana’.

Quem ler este VOTO ficará dispensado de investigar o contrassenso da Igreja da China, a qual, apropriando-se da nomenclatura cristã, quem lá põe e dispõe sobre bispos e padres é o grande líder Xi-Jinping, às ordens do Partido Comunista Chinês, situação anómala que tanto afli

Quem ler este VOTO poderá seguramente prescindir da leitura do período fascista-salazarista em Portugal, essa união incestuosa entre dois poderes, o religioso e o político, mais precisamente a subserviência do Cardeal Cerejeira ao Presidente do Conselho de Ministro, Oliveira Salazar, que teve a ousadia de expulsar de Portugal o bispo do Porto António Ferreira Gomes após uma carta por este endereçada ao Governo sobre as míseras condições em que viviam os camponeses do Norte de Portugal.

E, finalmente, quem ler este VOTO dispensará saber o escândalo do Patriarca Kirilos, de Moscovo, apoiante incondicional do tirano Vladimir Putin, na bárbara invasão da Ucrânia e suas trágicas consequências.

Em todos estes casos, um denominador comum ressalta à vista desarmada: a ambição indomável do poder político na tentativa de açambarcar e manietar o poder religioso.

Não será, pois, necessário remontar ao Reino Unido, à França, à China ou à Rússia para detectar a armadura satânica dos políticos face às igrejas. Basta subir os socalcos que dão até à Ribeira Seca para vermos as pegadas do(s) dinossauro(s) políticos da minúscula Madeira que, sem escrúpulos de espécie alguma, dominaram e contorceram braços e pernas dos eclesiásticos, a começar pelos bispos residentes, os quais deixaram-se anestesiar como autómatos irresponsáveis  nas mãos do(s) governante(s) da RAM.

Quem um dia fizer a história da Igreja madeirense do pós-25 de Abril há-de constatar a despudorada similitude entre os regimes super-totalitários citados, desde Henrique VIII até à actualidade, com fortes laivos da malfadada dupla Cerejo-Salazarismo do Estado Novo.

Mas se as altas instâncias da  farisaica religião oficial se predispuseram a tão vil traição, houve um Povo que resistiu e disse “Não”!

 Ao Povo Crente da Ribeira Seca – e por extensão ao Povo de Machico – é entregue este merecido VOTO DE CONGRATULAÇÃO pela integridade da Fé e pelo espírito de resiliência que mantiveram ao longo de quase meio século de vivência humana e cristã, coroada pelo reconhecimento público da sua identidade e da idiossincrasia das suas gentes!

 

09.Jun.22

Martins Júnior       

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