Tivera
eu o verve inspirador e a grandiloquência retórica de Tibério Graco e seu irmão
Caio Graco, século V a.C., e ergueria a voz sonora e grave para tecer os
maiores encómios ao “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades” que ontem
inundou de glória e autoestima os cantos e recantos da Lusa Pátria.
Por
mais garrido e tonitruante que tenha sido o espectáculo, de tudo, tudo o que
aconteceu, o que ficou na retina e na
alma foi o “Povo Português” garbosamente exaltado pelo Supremo Magistrado da
Nação. Por palavras suas, deambulámos sete séculos da nossa nacionalidade e
vimos na Braccara Augusta o “Mestre
de Avis” colocando nas ameias do castelo vitorioso de Lisboa de 1833 a “Arraia-Miuda”,
sem a qual nunca Portugal reconquistaria a soberania ameaçada.
Mas
não ficou por aí a memória de um passado que a História se encarrega de repetir.
Andei mais longe, percorri mais dezoito séculos em direcção à República da Roma
Antiga e pareceu-me ouvir os irmãos Graco, os dois mais inflamados Tribunos da
Plebe, arvorando com bravura os direitos do povo face os abusos dos ‘Patrícios’.
Exaltar
o Povo Português, os cabouqueiros anónimos desta imensa urbe renascida e multiplicada
por todo o planeta – eis a engenhosa quanto talentosa bússola que guiou Marcelo
Rebelo de Sousa neste revolto mar contemporâneo, em que se estilhaçam obuses,
liberalismos, híper- nacionalismos, supremacismos megalómanos, enfim, um
marulhar ensurdecedor onde ninguém se entende – e todos sob a bandeira do
passado e repassado patriotismo de bandeira.
“Onde
a terra se acaba e o mar começa” – assim falou Camões. E foi assim que vi e interpretei
os dois discursos do Dia.
Jorge
Miranda - a terra firme – Homem do
Direito, ‘Pai da Constituição’, mapeou a nossa história, as virtudes e os
defeitos, não se coibindo (com rara frontalidade) de denunciar os atentados à
Língua Portuguesa na comunicação social e afins. Logo a seguir, a vastidão do
oceano em ondas aladas, clangorosas, Marcelo Rebelo de Sousa, alcandorando até
às constelações estelares “o corpo, a alma e a saudade” de que se fez o Povo de
Portugal, culminando com o estandarte maior do seu tronco centenar: “Sem a Arraia-Miuda,
não seria hoje o que é Portugal”.
Duas
notas apenas de alguma dissonância. Exaltou-se o Povo, no discurso relevaram-se os ‘Plebeus’, mas na tribuna só
lá estavam os ‘Patrícios’. Para serem inteiras as palavras, deveriam lá estar também
os representantes do Povo, o sindicalismo, o operariado, o campesinato, os
marítimos, as mulheres trabalhadoras. A outra nota: embora em tempo de guerra e
mesmo que se tenha dito que ‘um povo em armas procura a paz’, era dispensável
tanta ostentação de material bélico e tanta farda para canhão. Longe de nós
rivalizar com a barbárie russa ou a obesidade disforme das paradas
norte-coreanas.
Em
síntese: porque sou português de Machico, também foi para mim o Dia de Portugal.
Por isso, aqui deixo as minhas saudações mais calorosas pela amplitude das
mensagens proferidas, lamentando que daqui da ilha, as pudicas vestais da
política regional se tenham coçado com os pruridos imaginários de um convite
que não sabem onde o puseram…
E
um VOTO: Que sejam os governantes verdadeiros Tribunos da Plebe e nunca fechem
os ouvidos aos apelos da “Arraia-Miuda”.
Só
assim é que seremos Portugal !!!
11.Jun.22
Martins Júnior
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