sábado, 25 de junho de 2022

UMA REPORTAGEM DE HÁ VINTE SÉCULOS

                                                                


Eles foram em bando à cidade alheia preparar tudo para a entrada do líder, que ali chegaria, de passagem para a capital do reino. Eles eram uma espécie de militantes operacionais idênticos aos que nos partidos ou religiões encarregam-se das questões logísticas afim de que o evento resulte em sucesso. Mas levaram uma nega, uma grande nega. O povo não quis recebê-los – nem a eles, muito menos ao líder. Voltaram derrotados à sede do movimento nascente e, perante o líder carismático, não esconderam a indignação, a raiva canina que traziam no peito. E atiraram a matar: “Mestre, vamos lá sem demora, já,  pegar lume a essa cidade e a toda essa gente”!

         O resto da reportagem vem no capítulo do LIVRO de Lucas, 9, 51-62.

         Mas esta é a reportagem de todos os tempos e de todos os lugares em litígio. À moda antiga, à flor da pele, mesmo a mais empedernida: ‘Olho por olho, dente por dente”. Nas famílias, nas ruas, nas fronteiras, nos impérios, nos parlamentos, nos conflitos rácicos, nas religiões, mesmo que escondam as escaramuças menores, aí estão as fogueiras e as torturas da ‘Santa Inquisição’ que não deixam dúvidas. É o grande dilema das guerras actuais: armamento contra armamento – ou rendição ao furibundo terror do mais forte?...

         Sendo certo que o dilema, só por sê-lo, desemboca em múltiplas soluções, mesmo as mais contraditórias, o Mestre Nazareno, o Líder dos Doze, ‘chumbou’ a proposta vindicativa e, como de outras vezes, optou pela tolerância. E mais: propôs o seu testemunho existencial, anunciando os trâmites da sua luta até ao assassinato na cruz. Advertiu, também, que quem quisesse ser seu militante, tinha de fazer a opção pela exigência total e doação inteira à sua causa. Sem ‘negociar’, sem tergiversar.

         A vida e a história estão cheias destes paradoxos:

QUANTO MAIS TRANSIGENTE CONSIGO PRÓPRIO, MAIS INTRANSIGENTE COM OS OUTROS.

QUANTO MAIS EXIGENTE CONSIGO PRÓPRIO, MAIS TOLERANTE COM OS OUTROS.    

A tolerância é o fruto amadurecido de uma análise corajosa da psicologia humana. Das sociedades, das famílias, de todos os agregados populacionais. E para alcança-la, é longo e pedregoso o caminho.

 

         25.Jun.22

Martins Júnior  

1 comentário:

  1. Peçamos a Deus a capacidade de conviver com o outro, fora e dentro de nossas igrejas, mesmo que pensem diferentemente de nós. 🙏🏻
    Lucas, 9

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