sexta-feira, 3 de junho de 2022

SEMPRE ANTIGO E SEMPRE NOVO!

                                                                   


Cessem do Sábio grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram

Cale-se de Alexandre e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram

Que eu canto o Peito ilustre Lusitano

A quem Neptuno e Marte obedeceram,

Cale-se o que a Musa antiga canta

Que outro valor mais alto se alevanta.

 

Perante a ribalta monumental que hoje se abriu em Machico – o Pórtico das Descobertas – não me ocorreu outra emoção senão aquela com que Luís Vaz de Camões emoldurou o portal homérico da Grande Epopeia Lusíada. Conservadas as relativas dimensões do notável acontecimento hoje ocorrido na Primeira Capitania da Madeira, ouso parafrasear o nosso épico imortal, sublinhando que porei de parte os temas que tinha já agendado, porque hoje eu  canto o Peito ilustre ‘Machicano’ (perdoem-me a protocolar ‘liberdade poética’) que esta cidade desdobrou diante da baía azul e diante dos olhos dos milhares de espectadores/actores que enchiam literalmente toda a área ribeirinha.

Se hoje cá viesse, Luís Vaz não se dedignaria devotar a Tristão Vaz as melhores endechas e as mais delicadas oitavas, à vista do cenário belo e único na Ilha e que dá pelo nome de “Mercado Quinhentista”.

Inspirado no  ‘Achamento da Ilha’ o que se viu hoje em Machico foi uma estonteante revoada humana que se levantou como as ondas gigantes que os marinheiros do Senhor Infante tiveram de ultrapassar naquele “Espesso Negrume” do Atlântico, de há seiscentos anos. Referi acima a expressão “espectadores/actores”, porque a grande originalidade deste evento consistiu no perfeito entrosamento entre os figurantes trajados à época  e a população ali presente.

É outro mundo e é outra atmosfera a essência deste “Mercado Quinhentista”. Sabe a mar e a céu, cheira ao romântico deambular dos ‘torneios’ da corte do ‘Tristão das Damas’, abraça o passado e o presente e traz nas suas asas a candura das crianças saltitando felizes pela Alameda dos Plátanos, seguras pela imponente graciosidade do Forte de Nossa Senhora do Amparo.

Para não desdourar o brilho desta iniciativa, da autoria da comunidade escolar de Machico, merecedora do maior aplauso, não há melhor encómio do que o convite a partilhar presencialmente nos festejos histórico-culturais a decorrer em todo este fim-de-semana.

Decididamente e sem margem de dúvida, Machico é outro aroma e outra canção. Viva!

 

03.Jun.22

Martins Júnior   

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