Cessem do Sábio grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram
Que eu canto o Peito ilustre Lusitano
A quem Neptuno e Marte obedeceram,
Cale-se o que a Musa antiga canta
Que outro valor mais alto se alevanta.
Perante a ribalta monumental que hoje
se abriu em Machico – o Pórtico das Descobertas – não me ocorreu outra emoção
senão aquela com que Luís Vaz de Camões emoldurou o portal homérico da Grande
Epopeia Lusíada. Conservadas as relativas dimensões do notável acontecimento
hoje ocorrido na Primeira Capitania da Madeira, ouso parafrasear o nosso épico
imortal, sublinhando que porei de parte os temas que tinha já agendado, porque
hoje eu canto o Peito ilustre ‘Machicano’
(perdoem-me a protocolar ‘liberdade poética’) que esta cidade desdobrou diante
da baía azul e diante dos olhos dos milhares de espectadores/actores que
enchiam literalmente toda a área ribeirinha.
Se hoje cá viesse, Luís Vaz não se
dedignaria devotar a Tristão Vaz as melhores endechas e as mais delicadas
oitavas, à vista do cenário belo e único na Ilha e que dá pelo nome de “Mercado
Quinhentista”.
Inspirado no ‘Achamento da Ilha’ o que se viu hoje em
Machico foi uma estonteante revoada humana que se levantou como as ondas
gigantes que os marinheiros do Senhor Infante tiveram de ultrapassar naquele “Espesso
Negrume” do Atlântico, de há seiscentos anos. Referi acima a expressão “espectadores/actores”,
porque a grande originalidade deste evento consistiu no perfeito entrosamento
entre os figurantes trajados à época e a
população ali presente.
É outro mundo e é outra atmosfera a
essência deste “Mercado Quinhentista”. Sabe a mar e a céu, cheira ao romântico
deambular dos ‘torneios’ da corte do ‘Tristão das Damas’, abraça o passado e o
presente e traz nas suas asas a candura das crianças saltitando felizes pela
Alameda dos Plátanos, seguras pela imponente graciosidade do Forte de Nossa
Senhora do Amparo.
Para não desdourar o brilho desta
iniciativa, da autoria da comunidade escolar de Machico, merecedora do maior
aplauso, não há melhor encómio do que o convite a partilhar presencialmente nos
festejos histórico-culturais a decorrer em todo este fim-de-semana.
Decididamente e sem margem de dúvida,
Machico é outro aroma e outra canção. Viva!
03.Jun.22
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário