Por
hoje, vou ficar-me pela mera factualidade do quotidiano, prescindindo de
palpites, conjecturas ou ideologias. Embora tudo isto seja indissociável da
interpretação factual, deixarei os seus conteúdos para análise futura.
Sobretudo, porque, no caso em apreço, do que mais se tem falado é de ideologias
colaterais em vez de constatar os factos reais.
Refiro-me
ao tumulto que se levantou no país inteiro depois que o Ministro da Educação
propôs – ainda sem decisão legislativa – acerca do magno problema da bifurcação
do ensino em Portugal: o público e o privado. Que caminho a seguir perante duas
soluções para um mesmo problema: deverá o
Estado subsidiar escolas privadas na freguesia ou no sítio onde tem a seu cargo
escolas públicas?
Vamos
aos factos. Aqui em Machico-Freguesia, a partir das zonas exteriores ao
perímetro urbano, mais precisamente, Piquinho, Caramanchão, Preces, Maroços, Ribeira Grande, Ribeira Seca, Poço do Gil. Em
toda esta área, funciona uma escola privada e duas públicas. A escola privada
possui 146 alunos. Das públicas, uma tem 67 alunos e a outra 73. Feitas as contas, a
escola privada ultrapassa o total das duas escolas públicas. No entanto, estas
têm capacidade (falo da escola da Ribeira Seca, com oito salas) para receber o
dobro dos discentes. Aliás, este estabelecimento foi construído após lutas
resistentes da população contra a inércia do governo. É dotada de parques de
recreio e desporto, cantina e demais anexos inerentes à função educativa. Mais
gravosa é a condição do confortável estabelecimento escolar do
Caramanchão-Preces que se encontra encerrado.
E
logo sai a primeira pergunta: será legítimo que o Estado deixe ao abandono
instalações e equipamentos modelares e vá subsidiar uma – só uma! – escola privada
dentro da mesma circunscrição geográfica?... Poderá o Estado atirar ao entulho
da degradação um imóvel construído com os impostos da
população?... Deixa vazias as suas escolas para abarrotar de gente uma – só uma”
– escola privada!
Daqui
saem aos pulos sérias perguntas, reflexões, futuras conclusões. Limito-me a transcrever o
comentário de uma docente: “As nossas escolas públicas ficam sem alunos porque estes
são desviados para aquela escola privada”.
Neste
entendimento, deixo à consideração de
quem me lê uma serena, mas imperativa incógnita: “Não estará este caloiro
governo regional a destruir propositadamente
a escola pública?... Que interesses estão em jogo nesta contraditória política
da educação”?!
Estamos, pois, perante duas concepções de ensino: uma do
governo da República, outra do governo da Madeira.
Enquanto
se esperam respostas, transcrevo episódios que toda a gente viu na TV, desenfreadas manif´’s contra
a defesa da escola pública, proposta pelo Ministério da Educação. Logo à
cabeça, uns exemplares de gente adulta, docentes em evidência, vestidos de
amarelo, empunhando valentes cartazes. Gente que até há pouco tempo
amaldiçoava e fugia a tudo o que cheirasse
ao suor dos trabalhadores em manifestações públicas! Na retina ficou-me a imagem daquele homem
graúdo, bigode farto à D. Carlos e olhar fulo à moda do Hitler, diante do
batalhão de miúdos: “Contra os canhões, marchar, marchar”.
O mais “enternecedor”, porém, foram os
cordões (des)humanos de crianças à chuva e ao vento – e à força – ditando para as câmaras frases (argumentos!) como este: “Quero
estudar nesta escola (particular) porque foi aqui que a minha mãe andou”. Para
completar esta “força forçada” dos aprendizes manifestantes, só faltava o toque
da massificação mais absurda e inimaginável: fardar as crianças todas de amarelo, um
amarelo esgotado nos armazéns da feira. O anafado ditador comunista da Coreia do Norte não teria
feito melhor às suas tropas acéfalas em parada.
Perante os factos, cada qual tirará as
suas conclusões.
Terei
a oportunidade (o direito e o dever) de fazê-lo mais adiante.
11.Mai.16
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário