Chamam-lhe
o “Corpus Christi”, o Dia do Corpo do Cristo Nazareno. E por isso, hoje é o Dia
claro do Poema que bebe da água das nascentes mais fundas e jorra para além de tudo o que é fronteira do
humano. E é esse o convite que aqui deixo para cada um de vós tornar-se uma
estrofe desse corpo. Considerem-no o que quiserem: sublimação mística ou
panteísmo telúrico ou cântico intemporal - solenemente declaro que é esta a minha Oração
Universal.
Eu
Te saúdo, ó Cristo, que não buscaste o ouro, o diamante ou a estrela distante
para Te identificares no horizonte da História. Antes quiseste ser terra que dá
espigas - espigas que dão farinha do moinho e depois se abrem em pão para o Corpo e para o Espírito.
Eu te saúdo no rústico pomar, na estufa delicada, nos rios que se fazem ao mar
e no azul aquático que sobe para o alpendre das nuvens e retoma o movimento
circular da criação primeira. Não quiseste outra veste senão a do Pão e a do
Vinho transbordante da taça da Vida!
Procuro-Te
nesta mesa proletária comum, mas rica de nutrientes biológicos sustentáveis. Ninguém
venha convencer-me que mastigar a Tua carne, beber do Teu sangue ou trincar os
Teus ossos é mais importante que assimilar o Teu pensamento, moldar-me às Tuas
atitudes ou consubstanciar-me com o Teu projecto! É outra e maior a consubstanciação que me queres doar, como é mais radical e pujante a transfusão
que operas em quem Te recebe. Nesta Quinta-Feira e em todos os dias e todas as
horas que são também Quinta onde Tu moras. Como Teilhard de Chardin, também
professo que entre panteísmo e idolatria prefiro o primeiro: ver-Te assim, ecologicamente desnudo na planura virgem da Mãe-Terra. E não consigo melhor tradução
daquela imensa ressonância que atravessa milénios: ”Isto é o meu Corpo… Isto é
o Meu Sangue… Fazei isto em Memória de
Mim”.
Porque
é Dia do Poema sem palavras, as crianças que hoje acederam, pela primeira vez e
por direito própria, à Mesa Eucarística, trouxeram a cereja em cima do bolo quando, em apertado
abraço da “Família da Primeira Comunhão”, cantaram assim:
“Na Primeira Comunhão
Nós desejamos, Senhor,
Que no mundo haja mais Pão,
Mais Respeito e mais Amor
Por isso agora prometo
Para quando for maior
Lutar pela Eucaristia
Fazer um Mundo Melhor”
Dia do “Corpus Christi”
– 15. Jun.17
Martins Júnior
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