É
de ambientes que hoje se fala. No plural, porque ambientes há muitos. E porque
o Ambiente Global, que em 5 de Junho o mundo todo alça em arco, mais não é que a soma de todos os microclimas
ambientais que produzimos e onde, simultaneamente, somos reproduzidos e
formatados. Entre o verde das coisas e a raiz do pensamento perpassa toda uma
rede de vasos comunicantes, a que se pode chamar o ecossistema bio-psico-social
de qualquer sociedade organizada.
Desta
simbiose perfeita destaco o ambiente cultural, na sua valência bibliográfica,
quer de carácter científico, quer sobretudo o de denominação literária. Várias
iniciativas e encontros conduziram-me a este objectivo, a começar pelas Feiras
do Livro que nesta altura do ano vão surgindo aqui e além, desde a do Funchal,
em formato miniatural, até à de Lisboa onde me perco ao longo de todo o Parque Eduardo
VII, levado pela vastidão de um oceano abrangente de autores e culturas.
Mas
há um ‘nó górdio’ a desatar e que pode condensar-se nesta simples pergunta: A extensão da(s) Feira(s) corresponderá à
interiorização dos seus conteúdos por parte dos visitantes?... Mais
cirurgicamente: num mundo dominado pelas redes sociais, tão dispersas quanto atractivas,
será que os jovens de hoje procuram os nutrientes culturais, substancialmente
mais suculentos, como os que advêm dos
livros?... A amostragem que nos foi dada no Teatro Municipal Baltazar Dias,
aquando do espectáculo de “Diogo Piçarra, em Pessoa”, dirigido, de preferência,
a estudantes do 10º ao 12º anos, não nos convenceu. Vimos “claramente
visto” um deficit de literacia, mais visível na leitura dos poemas de Fernando
Pessoa pelos alunos que quiseram subir ao palco, numa prova demonstrativa da
falta de contacto com o Autor em causa. Quero crer que o episódio não tenha
reflectido o panorama geral da juventude estudantil, antes e talvez uma
excepção à regra.
A
este propósito, em convívio com docentes de literatura de escolas madeirenses, uma boa notícia chegou
à nossa mesa: a de que voltaram aos programas de ensino aqueles autores, os
mestres da escrita em Portugal, de que são exemplares as Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett e os fundadores do Grupo dos Cinco, de finais do século
XIX. Outrossim, as obras dos clássicos, “imperadores da Língua Portuguesa”. Sem
pôr em causa as questões e as ressonâncias dos tempos actuais, espelhadas em
bons autores contemporâneos, a verdade é que a ciência e a arte de escrever têm
raízes mais longínquas, nas oitavas de um Camões, nos rasgos de eloquência de
um Padre António Vieira, nos sonetos de
Antero, nos fogosos alexandrinos de Guerra Junqueiro, nas ‘claridades’
pictóricas de Cesário Verde e, por
todos, na genialidade de um Fernando Pessoa, entre muitos outros. É de saudar
com entusiasmos o regresso às fontes, no âmbito da literatura portuguesa. E
desejar que haja professores de quem se possa dizer: “ensina como quem ama”.
Mas
há mais. Fora dos muros das universidades e dos areópagos espectaculares,
raiados por vezes de mundanas vaidades, descobrem-se ambientes intimistas,
salas discretas, onde se realizam mensalmente pequenas tertúlias, sem a
pretensão dos holofotes publicitários e em que os ‘sócios’, por fruição e
carolice, lêem, declamam os nossos poetas e até produzem contributos, poemas e
válidas comunicações que, por mero prazer, reúnem em brochuras despretensiosas mas
intensas, guardadas depois nas estantes
e nos corações, como a que me foi oferecida recentemente em Lisboa, por
deferência de um dos membros dessas prestimosas tertúlias É a isto que eu chamo
cultura, Ambiente.
Não
se pode negar o turbilhão desconcertante da nossa época, a tendência para o
descartável, a atracção pelo efémero campanudo e os menus do “pronto a servir”,
razão pela qual crescem por aí, todos os
dias, como cogumelos do nosso audiovisual, das imprensas e afins, com manchas
de palmatória, sem que ao menos peçam desculpa aos leitores. É isto, também, um
mau ambiente.
Aproximando-se
o Dia de Portugal, nascido do legado do nosso épico, Luís Vaz de Camões, auguro
a que, dentro das escolas e fora delas, nos palcos luminosos ou no recôndito do
nosso meio, engrandeçamos o Ambiente, celebrando o Dia da Nossa Voz e erguendo bem alto a patriótica bandeira de
Fernando Pessoa: “A Minha Pátria é a Língua Portuguesa”.
05.Jun.17
Martins Júnior
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