Vi-os
entrar. Primeiro, as secções. Depois, os pelotões, as companhias e, num ápice,
estava ali, pujante e possante, um batalhão inteiro. Mais do que isso,
juntou-se ali um Regimento. Três batalhões formaram fileiras, numa estranha e
majestosa falange: os da Terra, os do Mar e os do Ar. Mais imponente e
enigmático, porém, era o silêncio que atravessava todos aqueles corpos hirtos, inamovíveis
como esfíngicas estátuas pairadas na noite.
Como
um relâmpago furtivo, entra o estratega da ‘guerra’. E, de um gesto – e não
mais – as armas ergueram-se, instintivas, altivas. Eram revérberos de luz
ofuscando o espaço, espadas flamejantes prontas para o duelo. E logo logo,
estala a refrega. Estampidos metálicos rasgam a paisagem, vibrantes,
ameaçadores. Silvos errantes escapam-se, ao troar cavo dos canhões submarinos e
até os carrilhões das catedrais tocam a rebate. A luta vê-se, não se a
descreve. Ataques e sobressaltos. Avanços e recuos, chamadas e respostas,
estouros e tambores. Mas, no aceso da batalha, abrem-se clareiras que nos devolvem a paz mágica de que o mundo
precisa.
É
este um diário de campanha dura. Só que, por sortilégio, as armas não matam,
antes ressuscitam. As espadas flamejam, mas consolam. As metralhadoras não
deitam petardos mortíferos, mas são saxos, trompas e trombones. E os trompetes
não fuzilam, antes enchem de luz toda planura. Enfim, não há vencidos neste
duelo nocturno, Todos saem vencedores: os maestros, os compositores, os
executantes, todos nós que ali estivemos, no memorável concerto que reuniu os
três ramos das Forças Armadas: Exército, Marinha, Força Aérea. Nunca a nossa
ilha viu tamanho areópago da ”arte dos deuses”.
Bem
sei que a Música, ou seja, as Bandas Militares têm por objectivo estrutural
servir as artes marciais. Tal como a instituição dos capelães militares está
ali como sustentáculo e garantia de apoio às operações bélicas dos Estados
soberanos. Digo-o, por testemunho próprio, vivido e sofrido em terras
moçambicanas. Aliás, as grandes marchas executadas pelas Bandas adstritas aos
Estados, com especial destaque para os Hinos Nacionais, são moldadas numa
mística de combate a um qualquer inimigo, seja ele qual for. Pertence à História
Mundial da Música o genial compositor Richard Wagner cujas marchas
avassaladoras, segundo versão dos investigadores, foram dedicadas e habilmente exploradas pelo
regime nazi.
De
tudo, porém, o que se possa dizer sobre o assunto, manda a verdade aclamar,
como de resto viu-se ontem na Sala de Congressos da Madeira, aclamar
vibrantemente o concerto que nos foi oferecido pelo Comando Operacional da RAM.
Numa altura em que se sente o planeta ameaçado de guerras endógenas e exógenas,
faz bem interpretar as Forças Armadas como fonte portadora de paz, conforto e
estabilidade psicossocial.
Foi
bom ver “ao vivo” que as fardas
militares manejam armas mais positivas e poderosas (que não as G3 e os canhões sem recuo) e tornam a vida
mais saudável e mais feliz. Pela minha parte, constituiu um fenómeno de catarse
espiritual sintonizar-me àquele concerto. Permitam-me um desabafo: é verdade
que os militares músicos apresentaram-se em traje de gala, como mandam as NEP’s.
No entanto, preferia vê-los num contraste maior: envergando o “camuflado” de
campanha ( o de má memória) e sobre ele a beleza e a magia de toda a
instrumental. É, apenas, um gosto privativo.
Contra
os semeadores de guerras, viva e permaneça por outros tantos anos tão bela
iniciativa!
11.Nov.17
Martins Júnior
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