O
mundo todo vomita CO2. Por todos os poros! E ando eu, andamos todos asfixiados,
sem dar por isso, vítimas inconscientes, moribundos, por inalação tóxica e sem corredor possível para a fuga. Multiplicam-se
as cimeiras, os convénios, os acordos locais, nacionais, mundiais. E deles nada
sai mais que uns tiros de pólvora seca que espantam o vulgo mas apenas servem
para dissimular a inércia latente dos decisores participantes.
É
o que me ocorre nesta data em que Angela Merkel, desde Bona, levanta os braços
e grita que “o tempo escasseia”. E, em coro uníssono, todos os comparsas lhe
repetem o refrão, acossados pelo descontrolo da atmosfera, pelas secas, pelos
incêndios, pela morbilidade crescente
neste nosso planeta. Bem se cansa o Papa Francisco de repetir até à exaustão o Laudato
Si para lembrar urbi et orbi a responsabilidade dos governantes
sobre a Nossa Casa Comum.
Mas
não é só da invasão do carbono atmosférico que me enfado e temo. É outro o poluidor, mais corrosivo e
imperceptível, que se injecta, a cada instante, nas nossas veias como nas
nossas ideias. Ele penetra subtilmente e nós franqueamos ‘casa e coração’. Ele
queima os neurónios, remexe o cérebro e faz de nós robots gratuitos ao serviço
de centrais invisíveis. Canais privilegiados são os da informação que ofuscam e
embrutecem sociedades inteiras, desde o berço à sepultura. Aceitamos tudo o que
eles despejam para a rua, todas as toxinas e vírus com que enxameiam os
computadores das nossas mentes. E ainda pedimos mais. Não sei como é possível
aceitar sem protesto horas televisivas de monovolumes quadrúpedes a rolar na
estrada ou no stand oficial, só para propagandear firmas produtoras de carbono
estridente. Da mesma feita, poderia citar programas de noitadas de copos e ‘vapores’,
todas tiradas a papel químico, três, quatro vezes, na mesma noite. Dos futebóis
e respectivos comentadores, nem é preciso falar. Vivemos numa cave saturada de
fumaça e droga. Alegremente! O avejão mítico da pós-verdade e das fake news, até
traz colorido ao negrume poluidor.
Pela
mesma via, vêm as baforadas de incenso beatífico acerca das religiões, das
igrejas, das crenças mais arcaicas. E tudo consumimos, sem ao menos exercer o
legítimo direito ao livre exame e à crítica fundamentada. Mas o pior químico é
o que transforma tudo em capital, moeda ou papel. Estoura-me os miolos a transacção
de botas e bolas em dinheiro milionário, a instalação de lavadouros autorizados
de luvas sujas e smokings pretos, como
os do Panamá e agora os Paradise Papers,
criminosos antros do sangue, suor e lágrimas roubados ao povo. Chegados aqui e
olhando para trás, mais não somos que ridículas marionetes, títeres anões, digladiando-nos
uns aos outros no terreiro dos nossos
casebres, enquanto os magnates, invisíveis porque distantes, vão-nos intoxicando
nos espessos rolos de carbono saídos dos palácios-casernas de exploração e
morte.
Desculpem-me
o desabafo, mas hoje estou assim. Insatisfeito, revoltado, sem gosto de viver
no breu de um mundo como este. E mais revoltado por ver que a massa informe e
bruta em que me insiro, lá vai “cantando e rindo”, sem dar pelo ar infecto que
respira.
E
se ontem sentia o impulso de despertar, hoje brada mais alto o apelo-palavra de
ordem: Descarbonizar, é preciso! Para recuperar frescura e optimismo.
15.Nov.17
Martins Júnior
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