“Nada
de humano me é estranho”. E eu retomo o pensamento do grande Aristóteles para pluralizá-lo (deixem passar o neologismo)
traduzindo-o numa linguagem global: Nada do que é humano nos deve ser estranho.
É nesta premissa que me apoio para
apreciar a lufa-lufa das diversas formações partidárias na preparação dos
respectivos Congressos e, preventivamente, na escolha dos seus líderes. Antes
de mais, É de saudar esta movimentação, nalguns casos até, esta agitação das
águas para não deixar estagnar a mística crepitante que deve animar toda a
militância política. Desejável seria que os manuais de estratégia interna não
resvalassem para os libelos fogosos das lutas externas, ou seja, que a
descoberta do Melhor à cabeça do partido ultrapassasse a rasteirice, sempre
censurável, da ganância do poder a qualquer preço. É neste escolho rochoso que
esbarra a escolha do líder, impedindo de chegar à foz o livre curso de critérios limpos e seguros,
condição ‘sine qua non’ de uma boa opção. E, neste âmbito, incomodam, magoam a sensibilidade do cidadão
comum ver, ouvir, ler certa literatura quase deprimente (pode tirar-se o ‘quase’) entre candidatos e respectivas
hostes. Isto cá e lá, lá e acolá, em Portugal e fora dele - neste, nesse,
naquele e ainda naqueloutro partidos. Pela minha parte, desisto de pousar os
olhos em certos nacos de novelas de cordel político intra-partido.
Na mesma medida também, cheira a
proselitismo barato, para não dizer charlatanice de feira, acenar ao vulgo com
os retalhos do lençol sebastianista, o mítico espantalho de uma estirpe
privilegiada, quais arcanjos extraterrestres brandindo a espada flamejante nas
trevas da noite . “Este é que é o tal, este é que vai salvar o beco, a vila, a
cidade, o país, o mundo”.
A este propósito, nunca é demais
acautelar-nos contra as erupções alarmistas, porque nunca em tempo algum uma
sociedade pode viver em constante clima de perturbação sísmica. Se em
determinados – raros! – períodos tumultuosos da história é necessária a
aparição de um líder anormalmente carismático, manda a experiência constatar
que não deve ser esse o chão onde queremos construir a nossa casa. Aliás, os auto-cognominados
homens ou mulheres de eleição laboratorialmente e bacteriologicamente virginal
identificam-se logo pela sua peculiar táctica de ataque, com processos rápidos,
pré-concebidos a-papel-químico, intempestivos e galopantes, como quem quer
afincar em Marte a primeira bandeira!
O eleitor atento distingue claramente a
vocação governativa de um partido através dos processos visíveis da eleição do
seu líder. Quando vislumbra, mesmo à distância, a instabilidade de uma
liderança candidata cujo único objectivo é saltar para o pódio, ainda que tenha de perturbar a paz evolutiva e
o normal crescimento dos resultados obtidos na luta política externa, aí o
eleitorado adivinha uma governação insegura e sem credibilidade. Ao contrário,
porém, quando a candidatura assenta em provas dadas e êxitos políticos já alcançados,
a população confia esperançosamente nas
linhas programáticas de um futuro
governo.
De
“Salvadores da Pátria” – livrai-nos, Senhor. Uma boa proposta de oração, que
equivale a estoutra: “Dos Tarzans espadaúdos, caídos do céu – Credo,
Abrenuntio”. Porque já os conhecemos pelo seu histórico horrendo, desde
Hitler a Estaline, de Salazar a Franco, de Piongiang a Trump. Foram
considerados os maiores, os salvadores. Salvador carismático foi também Cavaco
Silva, no famoso Congresso de Aveiro. E viu-se o ‘lucro’ para o país.. Eu sei
que esses espécimens não deitaram grão nos nossos poios, mas mutatis
mutandis já conhecemos alguns sósias nesta ilha, como no longínquo
Zimbabué, que governaram ambos durante uma ‘eternidade’ de 38 anos, cada qual no seu Reino.
Felizmente
que essa raça está em vias de extinção. Mas, para isso, é urgente que os
partidos marchem na vanguarda desta nobre campanha: escolham as respectivas
lideranças por critérios ponderosos, inclusivos, expurgados de interesses de
mercearia ou oficina de tachos efémeros (como
são os da política, todos a-prazo) mas sim de olhos postos no amanhã das comunidades.
Ganhar não é tudo. Consolidar, precisa-se.
E
isso só se consegue com conhecimento e competência. Que são os dois pilares
da credibilidade, tanto a do líder como,
sobretudo, do eleitorado. Deixo, pois, estas legítimas impressões a todos os
partidos, da Região ou do Continente. Eles também lá andam com as dores do
parto. Digo “legítimas” impressões,
porque saídas de quem viu e sentiu o “espectáculo ao vivo”, ao longo de muitos anos. E também porque interessa-me acompanhar e, se
possível, influir positivamente nestes processos, dado que é dos líderes
eleitos que sairão os potenciais governantes da minha Ilha e do meu País. E isto interessa, deve interessar a todos os que ganharam
responsavelmente o seu estatuto de cidadania.
Boa
sorte a todos. Porque também será essa a nossa sorte!
27.Nov.17
Martins
Júnior
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